A China confirmou o que havia sido ventilado na semana passada e reduziu à metade o imposto sobre negociação com ações. A medida foi vista com otimismo no mercado financeiro, diante da tentativa de revigorar o mercado acionário chinês. Porém, está longe de estimular a atividade econômica do país de uma forma mais ampla.
O Ministério da Economia da China informou no domingo (27) que iria cortar o imposto de 0,1% sobre as negociações de ações como forma de “revigorar o mercado de capitais e aumentar a confiança dos investidores”.
Em comunicado separado, a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC) disse que irá diminuir o ritmo das ofertas públicas iniciais (IPOs) e restringir ainda mais a venda de ações por parte dos acionistas controladores.
Em reação, as bolsas de Hong Kong e de Xangai fecharam em alta nesta segunda-feira (28). Mas o destaque ficou com o avanço de 1,2% do CSI 300 (que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen), uma vez que o anúncio está relacionado à queda desse índice acionário chinês de blue chips para o nível mais baixo em nove meses e após recuar 11% em relação ao pico em abril.
A decisão do governo também reflete o afastamento de gestores globais de fundos de investimentos das principais empresas chinesas, as chamadas blue chips, o que resultou em uma liquidação de bilhões de dólares, conforme noticiado na imprensa internacional. Em 13 dias, foram vendidos US$ 10,7 bilhões em ações da China.
Alívio passageiro
O movimento dos investidores globais não está relacionado apenas à desconfiança com a incerteza regulatória na China e o ambiente de negócios. A saída recente de recursos reflete mais o pessimismo com uma recuperação econômica robusta pós-covid e quanto à perda de esperança por estímulos robustos, inclusive gastos massivos do governo.
“A China confirmou medidas que foram aventadas na semana passada a fim de reforçar o mercado de ações. Ainda assim, não é abrangente o suficiente para impulsionar a economia como um todo”
economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez
Portanto, o alívio deve ser passageiro. “Essas medidas provavelmente darão um impulso ao mercado acionário no curto prazo, mas não terá muito efeito no longo prazo”, disse à Reuters Xie Chen, gestor de fundos da Shanghai Jianwen Investment Management. Para ele, a recuperação pode durar apenas dois a três dias. “Ou até menos.”
Isso porque o aprofundamento da crise da dívida no mercado imobiliário chinês prejudicou ainda mais esse sentimento. Por isso, os investidores exigem uma resposta mais firme por parte das lideranças chinesas ou do Banco Central chinês (PBoC). Do contrário, os estrangeiros não retornarão até que a China comece a gastar muito para reanimar a economia.
“Há muita confusão neste ponto e, enquanto houver confusão, haverá falta de credibilidade e isso significa que é mais provável que os investidores se mantenham afastados”, disse Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Global Investors em Londres, ao site Asia Financial, com citações da Reuters.
Sem ocidentalização
Porém, não há qualquer sinal de que a China esteja prestes a tomar medidas ortodoxas, como uma flexibilização quantitativa (QE, na sigla em inglês, quando um Banco Central cria uma quantidade “artificial” de dinheiro para injetar na economia). “Na atual conjuntura chinesa, tal política de emergência não parece ter um papel importante”, avaliou Robert Carnell, chefe de pesquisa da região Ásia-Pacífico do ING, em relatório recente.
Ele lembra que a China atravessa uma “dolorosa transição” econômica, em direção a uma economia menos alimentada pela dívida, menos centrada na propriedade e mais orientada ao consumo. No entanto, as tentativas de reavivar o enfraquecido motor de crescimento não serão nos moldes do que se vê no Ocidente, injetando estímulos monetários e fiscais.
“Tal como salientado em um editorial do WSJ [Wall Street Journal], o presidente Xi [Jinping] nutre suspeitas sobre o estilo ocidental de riqueza material”, lembra a estrategista sênior de câmbio do Rabobank, Jane Foley, também em comentário recente. Segundo ela, isso implica que um aumento dos gastos fiscais para promover o consumo não é o ideal.
Ou seja, as soluções econômicas que são consideradas ortodoxas no Ocidente são rejeitadas pela sua aparente incompatibilidade com o pensamento de Xi Jinping. “Os jornais ocidentais afirmam que o empecilho é a própria ideologia de Xi, que busca evitar uma ‘ocidentalização’ do consumo chinês”, emenda Sanchez, da Ativa.Assim, os mercados globais têm esperado há meses grandes estímulos vindos da China, que, talvez, não venham.
“A percepção chinesa de que o consumismo ocidental é débil, decadente e moralmente obtuso está em desacordo com a necessidade das autoridades chinesas, que podem preferir reforçar o poder das exportações, impulsionando a produção e seguindo a linha de reforço do lado da oferta”, conclui o Rabobank.
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