Novas pesquisas estão ajudando a responder a uma pergunta importante sobre alimentos ultraprocessados: algum deles pode ser saudável? Antes de ter essa resposta, vamos entender o que são os alimentos ultraprocessados. Uma das razões pelas quais os alimentos ultraprocessados muitas vezes nos levam a comer mais é por causa de sua textura, o que os faz serem ingeridos com facilidade e rapidez. É o que mostra um novo estudo apresentado em uma conferência em Orlando, na Flórida, da Sociedade Americana de Nutrição.
Há dietas que incluem alimentos ultraprocessados que não nos fazem comer tanto. As pessoas que fizeram parte do estudo e que tinham uma dieta de ultraprocessados de ingestão mais lenta, como cereais e pães multigrãos, consumiram uma média diária de 369 calorias a menos do que quem consumia smoothies e pães macios.
“Refeições que são igualmente satisfatórias foram consumidas de maneiras diferentes, puramente em função da maneira como são texturizadas”, disse Ciarán Forde, professor da Universidade de Wageningen, nos Países Baixos, que liderou o estudo.
A preocupação está aumentando em relação aos alimentos ultraprocessados, uma categoria de itens que pode incluir de tudo, desde refrigerantes e doces até sopas e pães.
O relatório “Make America Healthy Again” (algo como ‘Faça os EUA saudáveis de novo’) lançado recentemente pelo governo Trump aponta os alimentos ultraprocessados como uma das principais causas de problemas de saúde das crianças.
O secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., disse que espera que a versão atualizada das diretrizes dietéticas federais, programada para ser divulgada nos próximos meses, aconselhe os americanos a evitarem itens enlatados.
O que são alimentos ultraprocessados?
Os pesquisadores de nutrição geralmente definem alimentos ultraprocessados como ingredientes que não são encontrados em uma cozinha doméstica, como emulsificantes e xarope de milho com alto teor de frutose.
Estudos associaram dietas ricas em alimentos ultraprocessados ao aumento dos riscos de obesidade, diabetes tipo 2, câncer, doenças cardiovasculares e depressão. Mas muitos cientistas acreditam que nem todos os alimentos dessa categoria são igualmente ruins — e alguns podem ser relativamente saudáveis.
A textura de muitos alimentos ultraprocessados é apenas uma das maneiras pelas quais os cientistas acham que os alimentos podem levar as pessoas a consumirem calorias em excesso.
Outra pesquisa descobriu que produtos como barras energéticas, batatas fritas e refeições congeladas contêm mais calorias por grama do que alimentos menos processados. Muitas comidas ultraprocessadas também têm combinações de sal, gordura e carboidratos que geralmente não são encontradas na natureza, uma qualidade que pode nos fazer ter vontade de consumi-los.
No novo estudo, os participantes passaram duas semanas em duas dietas que continham mais de 90% das calorias de alimentos ultraprocessados. Em uma dieta, a maioria das refeições tinha texturas com ingestão rápida, e as pessoas as consumiam de 50 a 60 gramas por minuto. Os pratos incluíam almôndegas com purê de batata e um sanduíche de queijo e alface em um pão macio.
Na outra, a maioria das refeições teve uma taxa de ingestão mais lenta, ou cerca de 30 gramas por minuto. Os pratos dessa dieta incluíam macarrão frito com tiras de carne e repolho e um sanduíche de queijo e alface americana em um pão multigrãos mais duro.
Os participantes receberam o mesmo número de calorias em ambas as dietas. As duas também equivaliam em calorias por grama, teor de sódio e fibras, tamanho da porção e porcentagem de alimentos ultraprocessados servidos. Os participantes foram instruídos a comer até se sentirem satisfeitos e podiam consumir o quanto quisessem.
Os participantes do estudo relataram que gostaram igualmente das duas dietas e se sentiram satisfeitos com ambas. Mas depois de duas semanas na dieta mais lenta perderam uma média de 0,43 kg de gordura.
O estudo lança uma nova luz sobre como os alimentos ultraprocessados afetam o consumo de calorias no curto prazo, mas essa não é a única preocupação, disse o dr. Dariush Mozaffarian, cardiologista e diretor do Instituto Alimento é Remédio da Universidade Tufts.
“Alimentos ultraprocessados podem afetar o microbioma intestinal, a sensibilidade à insulina e aumentar o risco para o câncer”, disse ele. Mesmo que você possa criar uma dieta cheia de alimentos ultraprocessados que o faça comer menos, você pode “ficar mais doente porque está prejudicando sua saúde de outras maneiras”.
De fato, alguns estudos descobriram que certos aditivos em muitos alimentos ultraprocessados, como emulsificantes e corantes, como o dióxido de titânio, estão ligados a problemas de saúde.
Os financiadores do novo estudo incluem o governo neerlandês e a indústria de alimentos, como Nestlé, General Mills e Unilever.
A textura dos alimentos é complexa e os minimamente processados também têm diferentes taxas de ingestão que afetam o quanto consumimos.
O ideal é escolher alimentos que você goste, mas evitar itens com muitas calorias e textura macia. Pense em uma batata assada inteira versus um purê de batata com manteiga.
Tenha cuidado com pratos muito picantes com pequenos pedaços de alimentos, como carnes com molho ou ensopados, que podem ser ingeridos rapidamente. E é possível diminuir sua taxa de alimentação e comer menos optando por itens que levarão mais tempo para mastigar, como um pãozinho mais duro em vez de uma fatia de pão macio.