Primeiro eles vieram buscar os carros, depois as vacas
O lobby climático agora pretende usar impostos e regulamentação para restringir o consumo de carne.
Publicado originalmente em 03 de dezembro de 2023.
O clima virou uma religião para a esquerda global. No entanto, ao contrário da maioria das religiões organizadas que estão genuinamente comprometidas em ajudar nossos semelhantes, o movimento climático de hoje queima figurativamente os hereges na fogueira e exige sacrifícios comunitários que não servem a nenhum propósito a não ser empobrecer a humanidade.
Considere os apelos na conferência climática das Nações Unidas, a COP28, ocorrida em dezembro em Dubai para reduzir o consumo de carne. Proibir combustíveis fósseis e carros movidos a gasolina não é suficiente para alcançar a terra prometida de carbono zero do lobby climático. Agora as pessoas devem abrir mão de seus bifes de costela e pizzas de calabresa.
Essa cruzada para acabar com a carne está ganhando força. Um relatório da ONU em 2022 garantiu que cerca de sete gigatoneladas de reduções de CO2 — quase a mesma quantidade de emissões geradas pela combustão global de gás natural — teriam de vir de um menor consumo de carne.
A produção pecuária é responsável por cerca de 11% a 17% das emissões globais de gases de efeito estufa e cerca de 32% do metano do mundo, gás 28 vezes mais potente que o dióxido de carbono. A cada meio quilo de proteína, a produção de carne bovina gera quase 18 vezes mais gases de efeito estufa — a carne suína, quatro vezes mais — que o tofu. Culpa dos arrotos e do esterco do gado.
O metano é o subproduto natural da digestão das vacas. Cada vaca emite tanto carbono em um ano quanto um carro movido a gasolina. Ao contrário dos carros, no entanto, elas não podem ser projetadas para se tornarem mais “eficientes”. Enquanto os cientistas experimentam alimentar as vacas com algas marinhas para reduzir sua flatulência, a mudança da dieta pode prejudicar a qualidade nutricional e o sabor da carne e do leite. As algas também têm alta concentração de um composto que afeta a camada de ozônio. É por isso que o relatório da ONU propôs taxar os alimentos com base em suas emissões de carbono com o objetivo de tornar a carne tão cara que as pessoas não terão escolha a não ser tornarem veganas.
Foi isso que o governo trabalhista da Nova Zelândia tentou fazer antes que o partido perdesse a maioria governista nas eleições de outubro, em meio a uma revolta dos produtores de leite. De acordo com o plano do governo trabalhista, os agricultores seriam tributados com base no tamanho de suas terras, na quantidade de gado que possuem, em sua produção geral e no uso de fertilizantes nitrogenados.
Os Países Baixos, o segundo maior exportador mundial de produtos agrícolas depois dos EUA, planeja pagar aos criadores de gado para encerrar suas atividades e colocar o país em conformidade com os regulamentos de emissões da União Europeia. Mais de 750 agricultores holandeses teriam aderido a esse esquema. Naturalmente, o resultado será a redução da oferta de carne e o aumento dos preços.
Os mesmos ativistas antibovinos estão em ação nos EUA. A Califórnia exige que as operações leiteiras e pecuárias em todo o estado reduzam as emissões de metano para 40% abaixo dos níveis de 2013 até 2030. Sacramento planeja atingir essa meta com regulamentações caras para afastar os pecuaristas do negócio. Considere as leis do estado de que mais espaço seja dado aos animais de criação sob o pretexto de melhorar o bem-estar animal. O verdadeiro objetivo desses regulamentos é aumentar o custo da criação animal e, assim, reduzir sua produção.
As regras da Califórnia terão um efeito nacional, porque se aplicam a qualquer gado criado nos EUA e depois vendido no estado. Milhares de produtores de carne suína em todo o país alertam que podem ser forçados a fechar por causa do alto custo da adaptação. Membros do Congresso de 21 estados agropecuários introduziram em meados do ano passado uma legislação para impedir a Califórnia de regular os produtores além de suas fronteiras — para a consternação de grupos verdes.
A Califórnia e o governo federal também fornecem créditos regulatórios para fazendas leiteiras capturarem o metano do esterco. Esses créditos são literalmente dinheiro em forma de vaca, valendo quase US$ 2 mil por cabeça. Uma apresentação de abril de 2022 no Conselho de Recursos Aéreos da Califórnia considerou que esses subsídios podem gerar tanto dinheiro que os agricultores começarão a “cultivar metano em vez de leite”.
O lobby climático sabe que restringir o consumo de carne e laticínios seria impopular, se não inconstitucional, na maioria dos países. Em vez disso, pede que os governos usem regulamentação, impostos e subsídios para reduzir a oferta e aumentar o custo da carne, como estão fazendo com os combustíveis fósseis.
As elites reunidas na COP28 ainda poderão comer costela nobre de US$ 100, mas as massas não terão escolha a não ser sacrificar sua peça de alcatra. Os pobres do mundo terão de continuar subsistindo com gororobas não nutritivas, assim como terão de se virar sem carro, ar-condicionado e geladeira, para alcançar o nirvana de emissão zero da esquerda global.
Mas não se engane: o objetivo final da religião climática não é reduzir as emissões de carbono ou parar o aquecimento global. É forçar as pessoas a abrirem mão das alegrias materiais e viver como ascetas. O clero climático de hoje é como o frade lascivo e bem vestido de “Os Contos de Canterbury”, de Geoffrey Chaucer, mendigando ostensivamente para os pobres enquanto vive suntuosamente. Eles querem levar vantagem em tudo.
traduzido do inglês por investnews