Híbridos ganham popularidade e céticos perguntam se veículos são suficientemente verdes
Montadoras enfrentam grupos climáticos sobre como veículos elétricos e a gasolina estão sendo comercializados antes das novas regras de emissões dos EUA
[Publicado originalmente em 21 de fevereiro de 2024]
Ativistas climáticos estão questionando o quão ecológicos são os veículos híbridos agora que a popularidade desses carros aumenta.
A batalha sobre o perfil verde dos híbridos se antecipou ao que pode vir a ser uma regulamentação mais dura à poluição automotiva nos EUA.
Os híbridos combinam um motor a gasolina com a bateria elétrica e geralmente têm uma quilometragem por litro muito melhor que a dos carros e caminhões que os americanos normalmente usam. Os fabricantes de híbridos liderados pela Toyota Motor argumentam que a popularidade dos veículos é algo a se comemorar e “uma solução importante para alcançar a neutralidade de carbono”, garantiu o executivo da Toyota, Yoichi Miyazaki.
Do outro lado do debate, onde estão ativistas e alguns reguladores, os híbridos não são considerados bons o suficiente para cumprir metas ambiciosas de redução de carbono.
“Colocar mais carros movidos a gasolina nas estradas e dizer que isso é bom para o clima é enganoso”, afirmou Aaron Regunberg, conselheiro sênior de políticas do grupo de consumidores Public Citizen e ex-membro da Câmara dos Representantes de Rhode Island.
A mudança do mercado para os híbridos trouxe um ganho inesperado para a Toyota e levou montadoras como a Ford Motor e a General Motors a entrar mais fortemente na tecnologia gasolina-eletricidade.
Em dezembro, o Public Citizen apresentou uma queixa à Comissão Federal de Comércio (Federal Trade Comission – FTC) dizendo que a classificação dos híbridos da Toyota como “VEs híbridos”, além de frases de marketing como “mobilidade eletrificada” e “além do zero”, enganam os consumidores. A Toyota América do Norte garantiu que seu marketing usa termos que são o padrão na indústria automotiva.
O Public Citizen pressionou procuradores-gerais de estados como Oregon, Nova York, Rhode Island e Illinois a examinar o assunto. Representantes dos escritórios estaduais não quiseram comentar sobre possíveis investigações e até onde elas podem ter progredido, e a FTC não respondeu a um pedido de comentário.
O debate sobre o marketing ocorre antes de uma decisão da Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency – EPA), prevista para os próximos meses, sobre as restrições propostas. De acordo com as proposições do ano passado, as novas normas exigiriam que as emissões médias da frota veicular fossem reduzidas em 56% até 2032, em comparação com os requisitos do ano-modelo de 2026.
Um grupo que representa montadoras como Toyota, Honda Motor e Ford está fazendo lobby contra essas regras. As montadoras preveem que 67% de suas vendas teriam de ser de veículos elétricos até 2032 para atender aos padrões. As empresas dizem que as regras as forçariam a se afastar muito rapidamente dos híbridos e outros carros movidos a gasolina e resultariam na compra de veículos mais caros pelos consumidores.
O “mandato draconiano de veículos elétricos” da EPA seria realmente ruim para o meio ambiente, disse Stephen Ciccone, chefe de assuntos governamentais da Toyota América do Norte, em uma mensagem aos revendedores dos EUA.
“Podemos fazer a transição para os veículos elétricos, mas a velocidade da transição tem que ser mais realista”, escreveu Ciccone em um memorando visto por “The Wall Street Journal”. Apesar dos “golpes de ativistas ambientais” e outros, Ciccone escreveu: “Não recuamos e não vamos recuar”.
Pesquisas mostram que os modelos híbridos normalmente liberam menos dióxido de carbono na atmosfera do que os carros movidos apenas a gasolina. Os veículos elétricos não emitem dióxido de carbono enquanto são usados, mas, nos EUA, a eletricidade para carregá-los geralmente é gerada, pelo menos em parte, por usinas de energia que queimam gás natural ou carvão. Além disso, mais emissões são produzidas ao fabricar veículos elétricos e suas baterias do que ao fabricar carros somente a gasolina.
Um estudo feito pelo Departamento de Energia Americano calculou que, usando uma média nacional de diferentes fontes de energia em 2022, os veículos elétricos produzem emissões anuais que aquecem o planeta tanto quanto 2.727 quilos de dióxido de carbono. Isso se compara a 3.129 quilos dos híbridos e 5.712 quilos dos carros somente a gasolina.
Um estudo de 2019 conduzido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts comparando veículos semelhantes em suas configurações a gasolina, híbridos e elétricos mostrou resultados semelhantes.
A grande diferença entre híbridos e carros a gasolina é a razão pela qual o Prius da Toyota, o híbrido pioneiro introduzido no final dos anos 1990, era um queridinho de grupos ambientalistas e de figurões de Hollywood.
Agora, esses grupos argumentam que os veículos elétricos são a melhor opção. Os híbridos, dizem, estão sendo usados como desculpa pelas montadoras para evitar avançar rapidamente para unidades totalmente elétricas.
Regunberg, do Public Citizen, afirmou que os consumidores se preocupam com seu impacto climático e estão sendo enganados ao acreditarem que seus híbridos são mais semelhantes aos veículos elétricos do que realmente são. “Como a maior montadora do mundo, obviamente a Toyota tem muita influência aqui”, disse ele.
Em 2019, uma autoridade de proteção ao consumidor na Noruega tomou medidas contra uma promoção da Toyota que chamou os veículos híbridos da empresa de “autocarregáveis” e, portanto, com abastecimento gratuito. A Toyota quis dizer que a potência do motor a gasolina do híbrido é parcialmente armazenada em baterias para uso posterior. A Noruega disse que a campanha era enganosa.
A Toyota diz que os veículos elétricos reduzem as emissões apenas se as pessoas estiverem dispostas a comprá-los, e muitos consumidores hoje, especialmente nos EUA, estão preocupados com problemas de carregamento e o preço mais alto de um veículo elétrico.
Cerca de 1,4 milhão de veículos híbridos e híbridos plug-in foram vendidos nos EUA no ano passado, em comparação com 1,1 milhão de veículos elétricos, de acordo com dados do site de compras de carros Edmunds. As vendas de híbridos subiram 63% em relação ao ano anterior, enquanto a de veículos elétricos aumentou 51%.
A Toyota diz que os minerais raros usados em baterias de carros têm fornecimento limitado, e os híbridos usam esses minerais com mais moderação. Com os híbridos, continua a montadora, mais veículos movidos a gasolina podem ser retirados das estradas.
Em relação aos elétricos, os vários termos e números sobre o que é bom para o meio ambiente deixaram os consumidores confusos, disse Scott Kunes, diretor de operações da Kunes Auto and RV, grupo de mais de 40 concessionárias de automóveis e RVs (veículos recreativos) no Meio-Oeste.
Kunes afirmou que grande parte da demanda híbrida vem de motoristas que querem “uma iniciação” antes de se comprometer com um carro totalmente elétrico. Ele pediu à EPA que não obrigue a venda de veículos elétricos enquanto os consumidores não estiverem prontos.
“Temos os pés no chão”, disse ele. “Só precisamos vender o que está vendendo.”
traduzido do inglês por investnews