O que aprendi quando parei de seguir o mercado de ações
Estou de volta ao meu posto regular em “The Wall Street Journal” depois da minha licença para escrever um livro. Esse longo hiato me desvinculou do burburinho diário dos mercados
[Publicado originalmente em 26 de janeiro de 2024]
Acabei de dar uma de Rip Van Winkle — e talvez você também devesse.
Estou de volta ao meu posto regular em “The Wall Street Journal” depois da minha licença para escrever um livro. Esse longo hiato me desvinculou do burburinho diário dos mercados para que eu pudesse enquadrar as ideias de investimento em uma perspectiva histórica e psicológica mais longa e ampla.
Como o personagem da história de Washington Irving, que acordou após uma soneca de 20 anos, voltei a um mundo ao mesmo tempo transformado e assustadoramente familiar. A melhor parte de voltar depois desse período sabático do mercado é perceber o quão bobas tantas previsões parecem ser — inclusive as minhas. A segunda melhor parte é o contentamento que vem de nunca ter sido remotamente tentado a agir de acordo com qualquer uma dessas previsões.
Quando minha última coluna regular foi publicada em 26 de maio, o S&P 500 já tinha subido 10,3% em 2023, alinhado com o retorno médio anual de longo prazo das ações americanas. “Vamos encerrar o ano aqui”, lembro de murmurar para mim mesmo.
Essa foi a última coisa da qual me recordo. Daquele dia até a semana que escrevo, desliguei o ruído diário das flutuações de ações, títulos, commodities e indicadores econômicos.
O que você está dizendo? O S&P caiu mais de 10% e o índice Nasdaq Composite caiu mais de 12% entre julho e outubro? Então, em três semanas loucas, voltaram das profundezas?
Não tinha reparado.
Você me diz que o rendimento do Tesouro de dez anos estava em 3,8% quando eu saí, disparou para 4,99% em outubro, mas depois reverteu e voltou quase ao começo, para 3,9% no final do ano?
Em um gráfico, parece a seção transversal de um vulcão. Eu estava alheio a tudo.
Quando saí, investidores e analistas estavam obcecados em adivinhar quando e quantas vezes o Federal Reserve finalmente cortaria as taxas de juros.
Ainda estão.
Seus palpites estavam basicamente errados — e provavelmente continuarão assim.
Ainda bem que os deuses do mercado me ignoraram, como sempre fazem. Embora eu achasse que um retorno de 10,3% em cinco meses fosse suficiente para um ano inteiro, o S&P 500 terminou 2023 em alta de mais de 26%, incluindo dividendos.
Quando você não observa o mercado todos os dias, consegue finalmente ver com clareza inquestionável que o que esperava que aconteceria não aconteceu. O inesperado aconteceu.
Se você tivesse me dito que uma guerra iria eclodir no Oriente Médio em outubro e durar meses, eu teria ficado triste, mas não surpreso. Se tivesse acrescentado que o petróleo bruto — depois de uma alta fugaz — terminaria 2023 a um preço mais baixo do que no dia em que saí, eu me surpreenderia.
Em maio, já me perguntava se a Nvidia — então com alta de 167% em 2023 — havia subido rápido demais. A gigante da computação gráfica na vanguarda do boom da inteligência artificial aumentou outros 58%.
Não estou dizendo que as notícias não importam ou que — Deus me livre — você deve parar de ler este jornal.
Estou dizendo que reagir à notícia — ou mesmo sentir que deveria — pode envenenar seu portfólio e azedar sua vida.
Se você está tentado a fazer mudanças drásticas em seu portfólio em resposta às manchetes, então pode se beneficiar de um período sabático do mercado como eu fiz.
Você provavelmente não pode desaparecer por sete meses, mas pode fingir que sim. Hal Hershfield, psicólogo da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e autor de “Your Future Self: How to Make Tomorrow Better Today” (Seu eu futuro: como melhorar seu futuro hoje, em tradução livre), pede que os investidores “usem as ferramentas de viagem mental no tempo para escapar da tirania do presente”.
Ele quer dizer que imaginar como você vai se sentir em relação às suas atitudes amanhã pode ajudar a evitar que você reaja exageradamente hoje.
Uma ferramenta de viagem mental no tempo é escrever uma carta para você mesmo do seu eu futuro.
Digamos que você não pode parar de ler sobre inteligência artificial, pensar que ela tem um potencial ainda maior do que a maioria dos investidores acredita e querer passar de ter 5% do seu dinheiro na Nvidia para 25%. Por outro lado, digamos que as manchetes o deixam tão preocupado que seu candidato presidencial preferido perca que queira converter todo seu investimento em espécie.
Na carta para seu eu futuro, detalhe o que está planejando fazer, por que acha que faz sentido e quais resultados prevê.
Na carta do seu eu futuro, imagine que daqui a um ano você está vivendo com as consequências da decisão. O preço das ações da Nvidia te deixou infeliz? Você tem que pagar um imposto colossal por ter mudado sua carteira para dinheiro? Está preocupado em ficar sem dinheiro para a aposentadoria? Como sua vida seria diferente se seu eu anterior não tivesse reagido — ou exagerado na reação — à notícia?
Para modelos gerais dessas cartas, consulte o “Future Self Tool” (Ferramenta do eu futuro) em consumerfinance.gov.
Pesquisas sugerem que essa técnica pode ajudá-lo a evitar tomadas de decisões das quais você pode se arrepender mais tarde — e pode reduzir a ansiedade provocada por notícias negativas.
Há muito tempo penso que os consultores financeiros deveriam incentivar essa abordagem para ajudar os clientes a tomar decisões deliberadas e duradouras. Agora acho que vale a pena você experimentar também.
Escreva para Jason Zweig at [email protected]
traduzido do inglês por investnews