Shein quer vender sua tecnologia de cadeia de suprimentos para marcas globais
Gigante da moda fundada na China muda estratégia de negócios ao enfrentar desafios nos EUA
[Publicado originalmente em 20 de março]
A Shein, fundada na China, construiu um império de moda barata com um modelo pioneiro de fabricação de pequenos lotes. Agora, planeja abri-lo para marcas e estilistas do resto do mundo.
O movimento representa uma mudança em sua estratégia de negócios, já que a Shein enfrenta desafios nos EUA, seu maior mercado.
O executivo-chefe da empresa, Donald Tang, anunciou o plano em uma carta aos investidores vista pelo Wall Street Journal, chamando a nova iniciativa de “cadeia de suprimentos como serviço”.
De acordo com o plano, a Shein disponibilizaria sua infraestrutura e tecnologia de cadeia de suprimentos para marcas e estilistas externos, permitindo que aproveitem o sistema para testar novos itens de moda em pequenos lotes e rastrear o quão populares eles são entre os consumidores.
A empresa se expandiu rapidamente de vendedora de roupas chinesas baratas para uma marca de moda global com a ajuda de seu modelo de fabricação sob demanda em pequenos lotes e agora vende para mais de 150 países. Mas, no ano passado, enfrentou resistência de reguladores e políticos ocidentais e forte concorrência, inclusive a de outra varejista de baixo custo com raízes chinesas, a Temu.
Em novembro, a Shein, com sede em Singapura, entrou com um pedido confidencial de oferta pública no mercado de ações americano, mas ainda não recebeu uma resposta por escrito da Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês). Pessoas próximas à empresa e em Washington acreditam que isso pode refletir a relutância da agência em aceitar um ator polêmico com potenciais implicações políticas, informou o jornal.
O atraso incomum forçou a Shein a considerar outras opções. A empresa manteve discussões informais com reguladores e políticos em Londres sobre uma possível oferta pública lá, entre outros lugares, segundo uma pessoa próxima à empresa.
Tang disse em sua carta aos investidores que a empresa teve receita e lucro anuais recordes em 2023.
A Shein revolucionou a fabricação de artigos de vestuário. Tem contrato com inúmeras fábricas na China que produzem dezenas de milhares de novos estilos diariamente. Os pedidos são feitos aos fornecedores e devem ser entregues em poucos dias, pois a empresa depende de dados em tempo real para analisar rapidamente a demanda e refazer os pedidos se necessário. Isso reduz o custo de armazenamento e limita o desperdício de estoque, uma das principais razões para seus preços ultrabaixos.
No ano passado, a Shein diversificou e lançou um modelo de marketplace nos EUA, no México, na Europa e no Brasil, oferecendo inúmeras categorias de produtos além de seu campo principal de moda e beleza. Isso a colocou em concorrência direta com a Temu. Embora o modelo de marketplace permita oferecer uma variedade maior de produtos aos consumidores, ele vem com seus próprios desafios, como a diminuição da visibilidade do que os fornecedores estão vendendo na plataforma.
Ao longo dos últimos anos, a Shein fechou diversas parcerias com marcas globais. Em 2023, adquiriu a marca de moda britânica Missguided e comprou uma participação de um terço na operadora da marca de fast-fashion americana Forever 21, a Sparc Group. Por meio de seu programa de incubadora, o Shein X, a Shein já deu acesso à sua tecnologia a alguns estilistas emergentes.
Ao tornar seu ecossistema de cadeia de suprimentos mais amplamente disponível para as marcas, a Shein está se concentrando em sua poderosa capacidade de fabricar e distribuir produtos de moda de forma eficiente. Nesse espaço, também não está competindo diretamente com a Temu, que vende quase tudo, de produtos de escritório até ferramentas de jardinagem a preços irrisórios. Desde seu lançamento em setembro de 2022, a Temu se tornou o segundo aplicativo de compras mais popular nos EUA em termos de usuários mensais, depois da Amazon.
A popularidade de Shein nos EUA chamou a atenção de legisladores e procuradores-gerais, que a pressionaram a dizer se obtém algodão da região chinesa de Xinjiang, onde os EUA acusaram autoridades chinesas de cometer genocídio e de usar trabalho forçado em sua repressão aos uigures, de maioria muçulmana, alegações que Pequim nega. Alguns legisladores pediram à SEC que interrompa a oferta pública inicial da Shein até que a empresa mostre transparência suficiente em sua cadeia de suprimentos.
A Shein disse que tem uma “política de tolerância zero” ao trabalho forçado e instalou um “sistema robusto” para cumprir a lei americana. A empresa também contratou lobistas e assessores para lidar com as preocupações de Washington com o trabalho forçado.
Escreva para Shen Lu at [email protected]
traduzido do inglês por investnews