Elon Musk e Javier Milei se reúnem no Texas e concordam em ‘defender a liberdade’

Elon Musk e o presidente da Argentina, Javier Milei, que há meses se envolvem em um romance digital, finalmente se encontraram na sexta-feira na fábrica de veículos elétricos do bilionário em Austin, Texas.

“É incrível”, disse Milei, de olhos arregalados, em um vídeo postado na plataforma X de Musk, enquanto cumprimentava o magnata da tecnologia na fábrica da Tesla. “Obrigado por tudo que você faz pelo mundo.”

“Uau”, respondeu Musk. “É uma honra para mim conhecê-lo também.”

A reunião de sexta-feira ocorreu depois de meses em que os dois homens se validaram repetidamente no X, enquanto atacavam ideias esquerdistas e atacavam os controles estatais.

“Tão quente”, escreveu Musk numa publicação atrevida elogiando o discurso de Milei em janeiro no Fórum Económico Mundial, onde o autoproclamado anarcocapitalista criticou o socialismo e defendeu o mercado livre.

Embora o bilionário e o libertário argentino tenham se tornado companheiros ideológicos, ambos também procuram se beneficiar economicamente de laços mais estreitos, dizem os analistas.

A SpaceX obteve recentemente permissão das autoridades argentinas para oferecer serviços de internet por meio do satélite Starlink no país sul-americano depois que Milei reduziu as regulamentações para promover mais concorrência. A Argentina também possui a terceira maior reserva mundial de lítio, um material essencial nas baterias recarregáveis que alimentam os veículos da Tesla.

O tamanho dos depósitos de lítio no extremo norte do país fica atrás apenas dos da Austrália e do Chile, de acordo com o Serviço Geológico dos EUA. E a Argentina é um fornecedor essencial para os EUA, provendo 55% das importações norte-americanas do metal entre 2016 e 2019, disse o Departamento de Energia num relatório de 2022.

A Tesla vem alargando seu alcance junto à cadeia de fornecimento de baterias, à medida em que Musk expressa preocupação particular com os estrangulamentos no processamento de lítio. Milei disse em entrevista à imprensa argentina em dezembro que Musk e outras empresas americanas estavam interessadas em investir no setor de lítio do país.

“Não é que desejemos enfrentar problemas extras, mas como ninguém mais estava fazendo isso, sentimos que deveríamos fazer”, disse Musk no ano passado, logo depois que a Tesla iniciou um projeto de refinaria de lítio no sul do Texas.

A reunião de sexta-feira não pareceu resultar em nenhum acordo comercial entre Musk e o governo de Milei. O argentino ainda não recebeu novos investimentos estrangeiros importantes, apesar de ser elogiado em Wall Street e pelo Fundo Monetário Internacional por implementar políticas que visam reduzir a despesa pública e privatizar empresas estatais.

“A reunião é uma forma de Milei sinalizar, nacional e internacionalmente, que tem um grande aliado”, disse Nicolás Saldías, analista argentino da Economist Intelligence Unit.

Em vez de discutir investimentos, os homens concordaram com a necessidade de defender “as ideias de liberdade”, segundo comunicado do gabinete do presidente argentino. Eles também discutiram a importância de eliminar a burocracia governamental, e Musk disse a Milei que um declínio na taxa de natalidade global é um risco para a civilização, disse o comunicado.

Depois, os homens tiraram fotos com os polegares para cima, pose comum para Milei, que também levou um Tesla Cybertruck para um test drive.

“Foi como amor à primeira vista”, disse o embaixador da Argentina nos EUA, Gerardo Werthein, que participou do encontro, segundo o jornal La Nación.

Milei, um homem de 53 anos com uma língua amarga, tornou-se um queridinho da direita global desde que a sua ascensão política no ano passado abalou o establishment argentino. Em fevereiro, abraçou o antigo Presidente Donald Trump durante uma breve reunião na Conferência de Acção Política Conservadora e criticou a esquerda num discurso.

“O Estado é nosso inimigo”, disse Milei numa recente entrevista a uma rádio. “O Estado é uma organização criminosa e violenta financiada por impostos.”

Musk apareceu com políticos de direita no exterior, reunindo-se no ano passado com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. E o governo de Milei apoiou Musk depois que o bilionário alertou esta semana que seus funcionários X corriam o risco de serem presos no Brasil por não obedecerem à ordem de um juiz para bloquear algumas contas. O governo argentino disse que apoiaria Musk em sua disputa com o Brasil, ao mesmo tempo em que ofereceria refúgio a qualquer pessoa que defendesse a liberdade de expressão.

“Este governo sempre trabalhará pela liberdade”, escreveu a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, na terça-feira no X. “Nosso país e, por extensão, nossas embaixadas, sempre fornecerão refúgio àqueles que são perseguidos por compartilharem esses valores”.

Musk apoiou abertamente Milei durante sua campanha eleitoral no ano passado, retuitando entrevistas que o argentino concedeu elogiando economistas defensores do livre mercado, como o falecido Milton Friedman.

“Agradeci a ele por defender as ideias de liberdade e apoiar nosso trabalho”, disse Milei no X sobre sua ligação com Musk.

A reunião presencial de sexta-feira ocorreu quatro meses após o início da administração de Milei, que reduziu drasticamente os elevados gastos públicos de seu antecessor peronista de esquerda, que ajudou a alimentar a inflação galopante.

Milei fechou ministérios, arquivou projetos de obras públicas e cortou subsídios à energia, conduzindo aos primeiros excedentes fiscais mensais do país em mais de uma década. A inflação começou a diminuir depois de atingir a taxa mais alta do mundo, de 288%. O peso argentino se estabilizou, ao mesmo tempo em que o Banco Central acumula reservas em moeda estrangeira, muito necessárias.

Mas o programa de austeridade provocou uma forte contração econômica, o que atingiu duramente os argentinos, forçados a cortar nas despesas. Milei também não conseguiu aprovar projetos de lei no Congresso, onde não tem maioria e enfrenta forte oposição. O seu governo ainda não eliminou nos controles cambiais, uma medida necessária para atrair investimentos estrangeiros que ajudariam a recuperação da economia.

A viagem de Milei aos EUA foi a terceira desde que assumiu o cargo em dezembro. Incluiu uma parada em Miami, onde foi homenageado em uma sinagoga como “embaixador internacional da luz” por causa de seu apoio a Israel.