‘Férias da longevidade’: na beira da piscina com terapia intravenosa
A última tendência em viagens parece uma mistura de spa com consulta médica
Para alguns viajantes, as férias ideais envolvem terapia de ozônio por US$ 1.200 ou um teste de detecção precoce de câncer por US$ 1.800. Podemos chamar isso de férias da longevidade.
Aqueles que buscam melhorar a saúde procuram atividades de viagem que os ajudem a permanecer mais saudáveis por mais tempo. Isso é parte da busca por longevidade, que muitas vezes se estende além da medicina tradicional. Essas viagens e tratamentos caros estão ficando cada vez mais populares, e há muito dinheiro chegando ao mercado global do turismo de bem-estar.
Nos resorts de alto padrão, os hóspedes agora têm acesso a testes de idade biológica, terapias intravenosas de vitamina na beira da piscina e tratamentos com células-tronco. Os preços podem variar de centenas de dólares para vacinas e procedimentos mais simples a dezenas de milhares para os mais invasivos, que vão muito além das ofertas padrão de bem-estar, como ioga, massagens ou tratamentos faciais.
Algumas viagens inspiradas na longevidade se concentram em tratamentos, enquanto outras focam mais em aspectos sociais e mudanças de estilo de vida, incluindo programas que prometem ensinar aos clientes os segredos dos mais longevos.
Mark Blaskovich, de 66 anos, gastou US$ 4.500 em uma viagem de cinco noites no ano passado centrada no aprendizado das “Zonas Azuis” do mundo, lugares como Sardenha, na Itália, e Okinawa, no Japão, onde um grande número de habitantes chega a viver até os cem anos. Blaskovich diz que queria seguir um caminho mais saudável quando começou a sentir os efeitos do envelhecimento.
Ele escolheu um retiro na Modern Elder Academy no México, onde participou de workshops que detalham o poder dos relacionamentos de apoio, de uma dieta à base de plantas e da adoção do movimento natural em seu dia a dia.
“Agora me interesso pela longevidade e tento descobrir como viver mais e de maneira mais saudável”, revela Blaskovich.
Vitaminas e ozônio
Quando Christy Menzies notou que havia enfermeiros em uma área reservada no Four Seasons Resort de Maui, Havaí, durante suas férias com a família em 2022, presumiu que estivessem fazendo teste de Covid-19. Na verdade, estavam injetando vitamina B12 nos hóspedes.
Menzies, de 40 anos, que dirige uma agência de viagens, visitou a clínica de longevidade entre idas à praia, à piscina e ao clube infantil, onde se reclinou em uma cadeira de couro e recebeu uma infusão intravenosa de vitamina durante 30 minutos.
“Você está investindo no seu bem-estar, na sua saúde, no seu corpo”, afirmou ela, acrescentando que se sentiu mais energizada depois.
O resort vem expandindo suas ofertas desde a abertura de um centro de longevidade em 2021. Um pacote de tratamento de vários dias, incluindo ozonioterapia, terapia com células-tronco e uma infusão chamada “fonte da juventude”, custa US$ 44 mil. Meia dúzia de hóspedes pagaram por esse pacote desde sua estreia no ano passado, de acordo com Pat Makozak, diretora do spa do resort. Os hóspedes também podem optar por um exame de sangue que detecta câncer precocemente por US$ 1.800.
A ozonioterapia, que envolve retirar sangue, misturá-lo ao gás ozônio e reintroduzi-lo no corpo por meio intravenoso, é particularmente popular, segundo Makozak. O procedimento é normalmente administrado por um enfermeiro, tem mais de uma hora de duração e custa US$ 1.200.
Os viajantes em busca da longevidade estão ajudando a alimentar o mercado global de turismo de bem-estar, que deve ultrapassar US$ 1 trilhão em 2024, em comparação com os US$ 439 bilhões em 2012, de acordo com a organização sem fins lucrativos Global Wellness Institute. Cerca de 13% dos turistas americanos participaram de atividades de spa ou bem-estar em suas viagens nos últimos 12 meses, de acordo com uma pesquisa de 2023 feita pela Phocuswright.
A Canyon Ranch, que tem vários resorts de bem-estar em todo o país, introduziu no início deste ano um programa de cinco noites chamado “Longevity Life”, começando em US$ 6.750, que inclui treinamento de saúde, exames de densidade óssea e sessões focadas em longevidade, espiritualidade e nutrição.
A ideia é que as pessoas retornem para avaliação regularmente para monitorar o progresso, diz Mark Kovacs, vice-presidente de saúde e desempenho.
O que dizem os médicos
Os médicos aconselham cautela, observando que muitos desses tratamentos não foram aprovados pela FDA (a Anvisa dos EUA). Na melhor das hipóteses, produzem efeito placebo. Na pior, trazem danos em potencial. Procedimentos que envolvem punção da pele, como ozonioterapia ou tratamentos endovenosos, podem causar infecção, contaminação e interação medicamentosa.
“No momento, não há um único tratamento comprovado que prolongue a vida de quem já é saudável”, diz o dr. Mark Loafman, médico de medicina familiar em Chicago. “Se parece bom demais para ser verdade, provavelmente é.”
Alguns estudos sobre tratamentos de bem-estar não invasivos, como saunas ou mergulhos em água gelada, sugerem que podem ajudar as pessoas a se sentirem menos estressadas, fornecer algum alívio temporário da dor ou melhorar o sono.
Linda True, analista política em San Francisco, passou um dia no resort de bem-estar RAKxa, ao visitar a família na Tailândia em fevereiro. True, de 46 anos, não optou pelas ofertas mais médicas, como tratamentos intravenosos, e preferiu um estilo tradicional de massagem tailandesa envolvendo o uso de fogo e tido como “terapia de desintoxicação”.
“As pessoas querem gastar dinheiro em coisas que sentem que podem estar fazendo bem”, diz a dra. Tamsin Lewis, consultora médica do RoseBar Longevity no Six Senses Ibiza, clube de longevidade inaugurado no ano passado, que oferece crioterapia, sauna infravermelha e um “Longevity Boost” intravenoso.
O RoseBar diz que há boas evidências de que a redução do estresse contribui para a longevidade, e Lewis garante que não faz falsas promessas sobre a eficácia dos tratamentos. Kovacs diz que a Canyon Ranch usa a ciência de ponta e dados pessoais para ajudar a fazer recomendações baseadas em evidências.
Jaclyn Sienna India é dona de uma empresa de viagens ultraluxuosas que atende pessoas cujo patrimônio líquido ultrapassa os US$ 100 milhões, muitas das quais dão prioridade à longevidade. Ela organiza viagens de clientes para as Zonas Azuis, onde há um grande número de habitantes centenários. Em fevereiro, sua empresa organizou uma estadia de US$ 250 mil para uma família de três pessoas em Okinawa, que incluiu meditação diária, massagens terapêuticas e aulas de culinária.
India diz que manter um estilo de vida focado na longevidade requer mais de um tratamento e tem um custo proibitivo para a maioria das pessoas.
Os médicos garantem que os viajantes podem ser mais propensos a obter benefícios para a saúde ao se dedicarem a um objetivo comum nas férias: apenas relaxar.
A dra. Karen Studer, médica e professora assistente de medicina preventiva na Loma Linda University Health, diz que a redução do nível de estresse está ligada a inúmeros benefícios para a saúde em curto e longo prazo.
“Pode ser que o que você está recebendo com esses tratamentos caros seja apenas o efeito natural das férias: diminuir o estresse, comer melhor e se exercitar mais.”
Escreva para Alex Janin em [email protected] e Allison Pohle em [email protected]
traduzido do inglês por investnews