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O boom indiano enfrenta uma armadilha: a distribuição de riquezas 

Para se tornar uma potência econômica como a China, a Índia precisa urgentemente lidar com o aumento da desigualdade de renda

The wall street Journal
Publicado em
4 min
traduzido do inglês por investnews

A maior eleição do mundo decidirá quem vai comandar uma das economias mais quentes, mas as mensagens direcionadas às massas geralmente são diferentes daquelas que os investidores querem ouvir. 

No caso da Índia, porém, permitir que uma fatia maior chegue aos seus pobres seria muito interessante para ambos os grupos. Os temas quentes incluem impostos sobre heranças e redistribuição de riqueza, com partidos governistas e de oposição se apresentando como os defensores do homem comum. A disputa acirrada chamou a atenção para o aumento da desigualdade de renda em meio ao crescimento econômico acelerado no país. 

A determinação da Índia em emular a cartilha da China e repetir o boom econômico histórico que se baseou na expansão da manufatura e no emprego produtivo de uma enorme população jovem depende da garantia de que os ganhos não se limitem a um pequeno segmento da população. De acordo com descobertas recentes do World Inequality Lab, a participação na renda do 1% mais rico ficou em 22,6% em 2022, uma das mais altas do mundo, e muito maior que os 15,7% da China. A participação dos 10% mais ricos na Índia foi de 57,7% contra 43,4% na China. 

WSJ

Se a Índia não conseguir combater a crescente desigualdade criando empregos bem remunerados, a maioria de sua população provavelmente não verá sua renda aumentar substancialmente — apesar dos impressionantes números de crescimento do Produto Interno Bruto —, e pode continuar a depender da assistência do governo. Déficits fiscais mais altos vindos da ajuda a essa população, taxas de juros mais altas para combater a inflação resultante e fraco crescimento do consumo ameaçam limitar o crescimento da Índia daqui para frente.

Uma análise mais atenta dos números mostra algumas tendências de consumo preocupantes. O padrão de crescimento tem sido distorcido nos últimos trimestres, com a forte demanda de investimento compensando a fraca demanda de consumo. Por exemplo, o crescimento do PIB do país chegou a 8,4% no último trimestre de 2023, bem acima das expectativas, apoiado principalmente pelo forte crescimento do investimento de capital público. Mas o crescimento do consumo privado manteve-se fraco, subindo para 3,5%. O consumo das famílias representa cerca de 60% do PIB da Índia.

A dicotomia entre a fraca demanda de consumo por itens básicos e discricionários e a forte demanda por investimentos, especialmente em imóveis diferenciados, reflete os desafios contínuos das famílias de baixa renda atingidas pela alta inflação. As ações da principal marca de consumo da Índia, a Hindustan Unilever, caíram quase 17%, e as ações da Britannia Industries caíram 11% desde o início do ano. 

Uma das razões para o aumento da desigualdade, de acordo com o World Inequality Lab, é o fracasso da Índia em retirar mais trabalhadores da agricultura e trazê-los para empregos mais produtivos e mais bem remunerados. O país está tentando reconfigurar sua economia fortalecendo a manufatura em detrimento da agricultura, mas enfrenta dificuldades, incluindo oposição política às tão necessárias reformas agrícolas e trabalhistas. 

A Pesquisa Periódica Anual da Força de Trabalho do governo indiano para o ano fiscal de 2022 mostra que 45,5% da força de trabalho estava empregada na agricultura, 12,4% na construção e apenas 11,6% na manufatura, com o restante trabalhando no setor de serviços. Outras razões para o desequilíbrio são a desigualdade educacional e os efeitos desiguais do crescimento econômico baseado em serviços. 

A desigualdade piorou durante a pandemia, quando setores da economia informal indiana enfrentaram uma perda maior de meios de subsistência do que o setor corporativo. As respostas políticas do país — optar por permanecer fiscalmente responsável, exceto pelo programa de alimentos gratuitos — acabaram ajudando mais a economia formal e os mercados de capitais. Os juros mais baixos impulsionaram o setor formal, mas reduziram os retornos da poupança bancária para as massas. A pandemia também reverteu a transição da Índia para o emprego não agrícola, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho, mesmo com a agricultura continuando a ser um dos setores de pior desempenho da economia.

A incrível história de crescimento da China envolveu a transformação de habitantes rurais em trabalhadores mais produtivos nas cidades em crescimento. Os investidores que apostam que a Índia vai alcançar seu gigante vizinho ficarão desapontados se o país não conseguir usar seu capital humano.Escreva para Megha Mandavia em megha.mandavia@wsj

traduzido do inglês por investnews