Os EUA logo terão atletas ganhando US$ 100 milhões por ano?
As estrelas da NBA se aproximam de salários de nove dígitos. E isso pode acontecer mais cedo do que você imagina
Michael Jordan foi a maior estrela do esporte americano e revolucionou os negócios da National Basketball Association (Associação Nacional de Basquete – NBA) na década de 1990. LeBron James reinou em quadra e construiu um império fora delas nas últimas duas décadas. São os maiores jogadores de todos os tempos e os mais ricos de cada época.
Mas o melhor jovem jogador da NBA hoje está prestes a ganhar o dobro de dinheiro em sua carreira do que esses dois somados.
Jordan ganhou US$ 94 milhões. Quando se aposentar, James terá ganhado mais de US$ 500 milhões em salários, mais que qualquer jogador de basquete na história. Luka Doncic, astro de 25 anos do Dallas Mavericks, pode fazer essa quantia parecer trocado.
Se ele continuar deslumbrando a plateia pelo resto de sua carreira, Doncic tem potencial para receber mais de US$ 1 bilhão.
Os salários da NBA estão ficando tão altos que em breve ele pode estar ganhando US$ 100 milhões em uma temporada — o que significa que Doncic ganharia mais em um único ano do que Jordan ganhou em toda a sua carreira.
Como se vê, os gurus financeiros nos front-offices de equipes já conseguem identificar quando isso é possível: A NBA pode ter um jogador de US$ 100 milhões por ano na temporada 2032-33.
Isso está acontecendo porque o esporte é a única coisa na televisão que as pessoas ainda querem assistir ao vivo. Na era dos que dizem não à televisão, os esportes ao vivo são os últimos eventos que trazem audiência aos canais de TV. Enquanto isso, os rivais do streaming querem esportes ao vivo para atrair assinantes.
A recente guerra de lances para garantir a transmissão de jogos de basquete mostrou como os direitos esportivos são incrivelmente caros e cada vez mais essenciais, e a NBA capitalizou essa intensa competição durante um momento decisivo para a indústria de mídia.
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A liga agora está fechando acordos com ESPN, NBC e Amazon no valor de cerca de US$ 76 bilhões em 11 anos, informou o Wall Street Journal nesta semana. Essa nova rodada de contratos com a mídia está estabelecendo as bases para os jogadores lucrarem com seus próprios negócios de sucesso.
Mesmo as pessoas que negociam esses acordos acham a perspectiva de salários de nove dígitos difícil de entender.
“US$ 100 milhões é realmente inacreditável”, disse Bill Duffy, agente de Doncic. “Isso só mostra o impacto do esporte, o impacto da mídia, o impacto da globalização e a economia impulsionando esse negócio.”
Nesse negócio, o dinheiro da NBA é dividido com os jogadores. Eles recebem coletivamente cerca de metade da “renda relacionada ao basquete”, como a venda de ingressos e, crucialmente, o acordo de mídia de US$ 76 bilhões. Os principais jogadores têm direito a aproximadamente 35% do teto salarial de uma equipe, um valor para gastar que reflete a receita geral da liga. Isso equivale a cerca de US$ 50 milhões hoje para craques como James e Stephen Curry.
Mas os lucrativos acordos de direitos da NBA produzirão um influxo de dinheiro sem precedentes que vai remodelar a economia do esporte.
Com cerca de metade da receita da liga chegando aos jogadores, a riqueza destes está ligada à saúde financeira da NBA e os melhores podem conseguir somas tentadoras. No cenário ideal, onde os salários continuam subindo, é quase inevitável: os jogadores de basquete ganharão US$ 100 milhões por ano na próxima década.
Isso significa que os primeiros atletas de US$ 100 milhões dos Estados Unidos já podem estar na NBA. Na verdade, podem estar nas finais da NBA agora.
As finais, que começaram na quinta-feira (6), contam com jogadores de ambos os lados da quadra que podem receber valores de nove dígitos por ano antes de se aposentarem.
O Dallas Mavericks tem Doncic. O Boston Celtics tem Jaylen Brown e Jayson Tatum. No verão passado, Brown assinou o contrato mais rico da história da NBA. Agora, isso pode acontecer com Tatum. No ano que vem, será Doncic, já elegível para um contrato de cinco anos no valor de quase US$ 350 milhões.
E o contrato que ele assinar depois desse provavelmente valerá muito mais.
De US$ 1 milhão a US$ 100 milhões
US$ 100 milhões seriam um salário anual alucinante para um atleta profissional.
Mas não faz muito tempo, as pessoas tinham dificuldade de entender um salário esportivo de US$ 1 milhão.
Nolan Ryan, no beisebol, se tornou o primeiro atleta americano a atingir esse marco quando o lendário arremessador assinou um contrato gigantesco com o Houston Astros em 1979.
A NBA teve seus primeiros jogadores milionários pouco tempo depois. Larry Bird foi o primeiro a atingir US$ 5 milhões, Magic Johnson o primeiro a atingir US$ 10 milhões, Michael Jordan o primeiro a quebrar a barreira dos US$ 20 milhões e US$ 30 milhões e Stephen Curry o primeiro a passar de US$ 40 milhões e US$ 50 milhões.
O quarterback do Kansas City Chiefs, Patrick Mahomes, assinou o contrato esportivo mais alto dos EUA em 2020: dez anos e mais de US$ 500 milhões. Quando ele parar de jogar, os quarterbacks podem também estar recebendo US$ 100 milhões por ano. Por enquanto, o maior contrato do esporte americano pertence a Shohei Ohtani, do beisebol, que assinou um contrato de dez anos com o Los Angeles Dodgers no ano passado por US$ 700 milhões.
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Na NBA, todo mundo é um jogador de milhões atualmente. O salário mínimo da liga para novatos é de mais de US$ 1 milhão. Dentro de alguns anos, os jogadores com salários máximos ganharão cerca de US$ 1 milhão por jogo.
Mas esses números quase certamente ficarão muito, muito maiores.
Para entender o porquê, é preciso ter uma compreensão básica do teto salarial da liga. A NBA introduziu o limite para as equipes na temporada 1984-85 — ano de estreia de Jordan — e o lockout de 1999 introduziu os salários máximos. Juntas, essas regras estabelecidas no acordo de negociação coletiva da liga determinam quanto as equipes podem gastar sem incorrer em penalidades e estipulam quanto da folha salarial pode ir para jogadores individuais.
Como um grupo, os jogadores recebem 51% da receita da liga. Quanto mais dinheiro a NBA como um todo gera, mais dinheiro os jogadores ganham. Ou seja, quanto maior o bolo, maior o salário deles. A Liga Nacional de Futebol (NFL) é a maior liga esportiva americana, mas os times de futebol americano distribuem seus salários entre 53 jogadores, em vez de 15 nos elencos da NBA. Na NFL, muitos contratos não são garantidos. Na NBA, os jogadores podem esquecer como arremessar, e mesmo assim, serem pagos.
Nunca houve um momento melhor para ser um dos melhores jogadores da NBA, disse Keith Smith, analista do site de acompanhamento salarial Spotrac.
“Há mais dinheiro no sistema. Metade desse dinheiro vai para os jogadores. E a maior parte desse dinheiro vai para os craques”, disse.
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O teto salarial da NBA aumentou em alguns milhões de dólares por ano até 2016, quando o atual acordo de mídia da liga entrou em vigor. Naquele ano, depois que os jogadores rejeitaram as propostas da liga para aumentar o dinheiro gradualmente, o limite explodiu repentinamente de US$ 70 milhões para US$ 94 milhões.
Esse aumento acentuado e anômalo foi resultado de a NBA triplicar suas taxas anuais de direitos de transmissão. Elas devem quase triplicar novamente com os próximos acordos. Mas, desta vez, a liga e o sindicato concordaram em limitar o crescimento do teto salarial a 10% ao ano. Basicamente, o limite será suavizado para evitar outro problema.
É claro que as regras econômicas da NBA poderiam ser reescritas novamente antes que os jogadores comecem a ganhar US$ 100 milhões por ano.
O acordo da liga com a Associação Nacional dos Jogadores de Basquete vai até 2030, mas qualquer um dos lados pode rescindir o contrato após a temporada de 2029, e uma reação à inflação salarial pode desencadear a próxima batalha trabalhista. Em outras palavras, US$ 100 milhões é tanto dinheiro que pode se tornar dinheiro demais. A NBA já lidou com reclamações de parceiros de mídia e torcedores sobre os jogadores que ficam fora dos jogos. Essas questões vão ficando mais complexas à medida que os salários aumentam.
O teto também pode não subir 10% a cada ano. A injeção de receita dos acordos de transmissão da liga coincide com o fim de contratos entre redes esportivas regionais e canais locais. O ambiente fragmentado da mídia é um dos vários fatores imprevisíveis que podem dificultar a manutenção de um crescimento consistente da receita da NBA na próxima década.
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Mas, pelo menos nas próximas cinco temporadas, os gastos das equipes são regidos pelo atual acordo trabalhista, um documento de 686 páginas que os especialistas em teto da NBA analisam com precisão. O acordo explicita os diferentes tipos de “jogadores máximos”, como são chamadas as estrelas mais bem pagas.
Os mais jovens podem receber 25% do teto salarial. À medida que envelhecem, podem chegar a 30%. Apenas os melhores ou mais experientes jogadores da liga se qualificam para os mega-acordos que lhes pagam 35% — incluindo o sujeito parrudo da Eslovênia.
Eslovenos e alienígenas
Luka Doncic é jogador profissional de basquete há tempos, cerca de metade de sua vida.
Aos 13 anos, assinou com o poderoso clube espanhol Real Madrid. Aos 16 anos, jogou contra adultos e viajou para os EUA com sua mãe durante a entressafra para visitar um laboratório especializado que investigava seus hábitos biomecânicos. Aos 18 anos, foi o melhor jogador da Europa.
Doncic tinha 19 anos quando chegou à NBA e assinou seu primeiro contrato com o Dallas Mavericks, um contrato de quatro anos no valor de US$ 32 milhões que lhe pagou US$ 6,6 milhões como novato. Não houve uma negociação extensa. Cada posição na primeira rodada de escalação tem um valor monetário determinado, e essa escala estipula o valor total dos contratos de novatos.
Na verdade, se Doncic continuar em sua trajetória atual, não precisará negociar salário até o fim de sua carreira. Sua equipe simplesmente apresentará um contrato incluindo todo o dinheiro que pode legalmente lhe oferecer.
Por ter sido eleito para o time de todos os tempos da NBA nas últimas duas temporadas, Doncic já é elegível para assinar uma extensão “supermax” de cinco anos a partir de 2025 por US$ 346 milhões. É uma formalidade tal que a oferta ainda estaria de pé, mesmo que ele passasse a próxima temporada em um iate. Esse acordo lhe pagaria 35% do teto projetado em 2027, com aumentos anuais elevando seu salário para US$ 78,8 milhões até 2031.
A não ser que rompa esse contrato e assine outro mais lucrativo.
Se esse acordo de cinco anos incluir uma opção de saída antes da temporada final, Doncic poderia concordar com outro contrato de cinco anos, potencialmente valendo mais de US$ 500 milhões. Você não precisa da visão de quadra de Doncic para entender a questão. Se o teto continuar subindo 10% ao ano, seu salário seria de US$ 87,4 milhões em 2031, US$ 94,4 milhões em 2032 e US$ 101,4 milhões em 2033 — mais que o gasto de times inteiros quando ele entrou na liga.
E esse pode nem ter o maior salário da NBA nesse ano. Um jogador no segundo ano de um contrato monstruoso receberia US$ 103,9 milhões. Um jogador no primeiro ano começaria em US$ 105,8 milhões.
Ao final desse acordo, Doncic pode ter cerca de US$ 1 bilhão em ganhos na carreira. Então, estaria na posição de assinar outro contrato imenso.
Tom Brady jogou na NFL até os 45 anos, e LeBron James ainda é uma força, mesmo se aproximando dos 40 anos. Na NBA, 40 é o novo 35, e a longevidade pode valer uma fortuna para os jogadores que agora têm 25 anos.
“LeBron James é a prova A, B e C para quem quer aprender a cuidar de si mesmo, investindo sabiamente em seu corpo e sua ética de trabalho”, disse Duffy. “Há uma geração mais jovem, da qual Luka faz parte, que vai participar disso e chegar a um nível financeiro ainda mais alto.”
Então, quem são os outros jogadores dessa geração?
Não os que dominaram a NBA na última década. Na temporada de 2033, há mais chances de James ser dono de um time do que de jogar. Provavelmente também não os craques de 20 e 30 anos, como Nikola Jokic, Giannis Antetokounmpo e Joel Embiid. Eles estarão perto da aposentadoria nesse momento.
Os jogadores na casa dos 20 e poucos anos hoje são os que realmente podem se beneficiar.
Essa lista inclui Victor Wembanyama (20), Anthony Edwards (22) e Shai Gilgeous-Alexander (25), além de Doncic (25), Tatum (26) e Brown (27), que disputam um título nas finais da NBA deste ano.
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Para provar o quão mais loucos os números poderiam ficar, pegue Wembanyama, o novato de 2,24 metros da França que parece e joga mais como se fosse de outro planeta. Se o grande jogador conhecido como “The Alien” (o alienígena) se mantiver saudável e cumprir seu potencial sobrenatural, passará de US$ 1 bilhão em ganhos na carreira quando estiver em seu auge.
Esses números são chocantes. Mas a parte mais surpreendente da economia futura da NBA é que os jogadores de cerca de US$ 100 milhões valeriam cada centavo.
Nesta temporada, quase 20 deles ganharam pelo menos US$ 40 milhões, incluindo Jokic, o mais valioso da liga. Ele era claramente mais valioso do que outros jogadores que ganharam salários máximos. Se o basquete fosse mais parecido com o beisebol, e Jokic chegasse ao mercado e deixasse os times darem lances por seus talentos, esses US$ 40 milhões pareceriam uma pechincha. Mas na NBA, os melhores jogadores também são as maiores pechinchas: eles são tão produtivos que superam seus salários.
Esse ainda será o caso, não importa quanto os jogadores estejam ganhando — o que significa que um dos primeiros atletas de US$ 100 milhões pode de fato ser mal pago.
Escreva para Ben Cohen em [email protected] e Robert O’Connell em [email protected]
traduzido do inglês por investnews