Apple é processada por funcionárias que alegam desigualdade salarial das mulheres
Processo diz que práticas de contratação e avaliação de desempenho da empresa costumam ser voltadas para homens
Duas funcionárias da Apple (AAPL34) entraram com uma ação coletiva aberta na quinta-feira (13) alegando que a empresa paga às mulheres salários mais baixos do que aos homens por trabalho semelhante.
A ação, apresentada em um tribunal estadual de San Francisco, tem como alvo as práticas de contratação da Apple usadas para definir compensações, além de políticas de avaliação de desempenho da empresa. É o mais recente caso de uma série de processos de equidade salarial contra grandes corporações, incluindo gigantes da tecnologia, que alegam pagamento menor a mulheres e minorias.
O processo busca representar uma classe de 12 mil mulheres empregadas na Apple em vários departamentos que trabalharam lá desde 2020. As autoras alegam que a empresa está violando as leis de igualdade salarial, emprego e práticas comerciais desleais da Califórnia. A lei de prática empresarial limita as reivindicações a um período de quatro anos.
Um porta-voz da Apple disse que a empresa alcançou e mantém a equidade salarial de gênero desde 2017, e que trabalha com um especialista terceirizado independente para examinar a remuneração total dos membros da equipe, fazendo ajustes quando necessário, completou ele.
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O Google e a Oracle resolveram questões semelhantes na Califórnia nos últimos anos, com o mesmo tipo de argumentos sobre políticas de pagamento para novas contratações. O Google concordou em pagar US$ 118 milhões a 15.500 mulheres em um acordo em 2022 e a Oracle aceitou pagar US$ 25 milhões para quatro mil funcionárias no início deste ano. As empresas não admitiram irregularidades.
Um dos principais advogados desses casos também está representando as autoras contra a Apple.
O ponto central do novo processo é como a Apple define a remuneração de um novo contratado. Antes de 2018, pedia aos candidatos que informassem seus salários anteriores para determinar o pagamento, diz o processo.
Quando a Califórnia aprovou uma lei de 2018 que proíbe os empregadores de considerar o pagamento prévio para definir o salário, a Apple começou a perguntar aos candidatos sobre as expectativas salariais, diz o processo. Os advogados das autoras da ação argumentam que a prática de perguntar sobre expectativas salariais perpetua a discriminação de gênero, porque as mulheres historicamente recebem menos do que os homens.
“Se você paga menos às mulheres, não pode defendê-las dizendo que estavam dispostas a receber menos”, disse James Finberg, um dos advogados das funcionárias.
Uma das autoras, Justina Jong, disse ter achado o contracheque de um colega de trabalho esquecido em uma impressora na filial da Apple em Sunnyvale, na Califórnia. Embora ambos tivessem as mesmas responsabilidades de trabalho, ela contou que viu que o salário base dele para a declaração de impostos era US$ 10 mil maior que o seu. Ela descobriu a discrepância há vários anos, por volta do quinto ano de mais de uma década trabalhando na Apple, onde ocupou vários cargos em vendas, treinamento e marketing.
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“Eu me senti péssima; e fiquei chocada também. Eu me via como uma pessoa trabalhadora e colaborativa, fornecendo muitas soluções para a equipe”, disse Jong em entrevista. “Pensei comigo mesma: ‘Talvez se eu trabalhar mais, eles verão que valho tanto ou mais’.”
O processo alega que, quando a Apple contratou Jong em 2013, pagou-lhe o mesmo salário base que ela ganhava em seu emprego anterior. Nos anos seguintes, a empresa nunca lhe deu o tipo de aumento que a colocava em pé de igualdade com seus colegas homens, diz o processo.
Jong contou que levou anos para decidir contestar a discrepância e abrir o processo. Ela acrescentou que foi estimulada por histórias sobre salários desiguais de outras mulheres na empresa.
Durante a pandemia de covid-19, a Apple enfrentou um aumento no ativismo dos funcionários. Seus trabalhadores se organizaram para formar um grupo chamado Apple Too, espelhando o movimento #MeToo, que reuniu histórias de discriminação e pressionou a empresa a mudar suas práticas salariais. O movimento fez com que algumas lojas de varejo formassem sindicatos.
“Na Apple, estamos profundamente comprometidos com a inclusão e temos um compromisso de longa data com a equidade salarial, que está embutida em nossa abordagem de compensação de nossos valiosos membros da equipe”, disse um porta-voz da empresa.
A outra autora nomeada, Amina Salgado, trabalha na Apple desde 2012 em várias funções, inclusive como gerente na divisão AppleCare no escritório da empresa perto de Sacramento. Ela descobriu que recebia menos do que homens em funções semelhantes e reclamou várias vezes da discrepância, de acordo com o processo. A Apple contratou alguém para investigar e, depois que o relatório concluiu que ela estava certa, a empresa aumentou seu salário. Ela não recebeu pagamentos retroativos, diz o processo.
O processo também alega que a Apple usa critérios tendenciosos em seu sistema de avaliação de desempenho. Os homens recebem rotineiramente classificações mais altas para as categorias discricionárias de liderança e trabalho em equipe, o que gera melhores avaliações para eles, argumentam os advogados das autoras.
Escreva para Erin Mulvaney em [email protected]
traduzido do inglês por investnews