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Biden quer ser duro com Rússia e Irã — mas também quer preço baixo da gasolina

Sanções mais brandas que o esperado contra grandes produtores de petróleo frustram algumas autoridades do Departamento do Tesouro

Por Anna Hirstenstein The wall street Journal
Publicado em
8 min
traduzido do inglês por investnews

O governo Biden quer manter o preço da gasolina estável antes da eleição, incentivando a venda do petróleo nos mercados globais. O esforço esbarrou em outra prioridade: ser duro com os adversários Rússia, Irã e Venezuela.

A política levou a sanções mais brandas do que o esperado contra os grandes produtores de petróleo, de acordo com diplomatas, ex-funcionários do governo e atores do setor de energia com informações de autoridades atuais.

Um caso ocorreu na terça-feira, quando os EUA impuseram novas sanções contra o Irã. As medidas atingem uma fração das exportações de petróleo do país e não devem afetar o mercado global, dizem analistas.

 “O presidente quis fazer o possível para garantir que os consumidores americanos tivessem o menor preço possível na bomba, pois isso afeta o dia a dia das famílias”, disse um alto funcionário do governo.  

Embora as tensões entre o Irã e os EUA tenham aumentado desde os ataques de sete de outubro a Israel pelo Hamas, apoiado por Teerã, as exportações diárias do Irã ultrapassaram 1,5 milhão de barris por dia este ano desde fevereiro, substancialmente mais do que no início do governo Biden. A maior parte desse petróleo é comprada por pequenas refinarias chinesas a preços menores. 

Os EUA e seus aliados têm sido “muito cuidadosos para não ir longe demais e prejudicar a capacidade de funcionamento das economias ocidentais” quando se trata de sanções, disse John Smith, sócio da Morrison Foerster e ex-chefe do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro americano.

Diplomatas e autoridades de energia dos EUA trabalham há décadas em todo o mundo para manter o mercado do petróleo, muitas vezes envolvendo alianças e acomodações desagradáveis.

Quando o Departamento do Tesouro impôs uma onda de sanções a Moscou em 12 de junho devido à guerra na Ucrânia, ela atingiu bancos, mas deixou a indústria petrolífera do país praticamente intocada.

Há frustração entre algumas autoridades do Departamento do Tesouro sobre a falta de ação contra as redes de comércio petrolífero que transportam o óleo russo e iraniano, incluindo uma que as autoridades investigam atualmente, de acordo com diplomatas americanos e alguns dos integrantes do setor de energia que recebem informações das autoridades atuais.

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A rede é operada por um trader pouco conhecido do Azerbaijão, que surgiu como o principal intermediário da russa Rosneft Oil, informou o Wall Street Journal.

Defensores da política dentro do governo dizem que as medidas são bem equilibradas para manter os preços baixos, mas complicam as engrenagens das máquinas de exportação de petróleo da Rússia e do Irã, o que significa que esses países ganham menos com cada barril de petróleo que vendem.

“Nossos dois objetivos, que são reduzir os custos para o povo americano e reduzir os lucros para o Kremlin, estão muito alinhados um com o outro”, disse um alto funcionário do Tesouro.

Quando o Tesouro impôs sanções à proprietária estatal russa de petroleiros, a Sovcomflot, emitiu também licenças isentando todas as unidades, exceto 14, da frota da empresa, que o provedor de dados Kpler estima totalizar 91 navios. Atores do setor dizem que as licenças de isenção foram um sinal verde para os comerciantes de petróleo fazerem negócios com esses navios, minimizando o risco de que sejam alvo de sanções futuras. 

O Conselho Econômico Nacional, liderado por Lael Brainard, e outros dentro do governo temiam que medidas mais amplas levassem a problemas logísticos no mercado de petróleo e impulsionassem a inflação, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. O aumento da produção dos países sancionados é uma das razões pelas quais os preços da commodity estão abaixo das máximas do início deste ano, dizem analistas.

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Em outro exemplo da colisão das políticas externa e energética, no início deste ano, Washington pediu à Ucrânia que parasse de atacar algumas refinarias russas com drones depois que os danos abalaram o mercado global de diesel e gasolina. 

O preço médio do galão de gasolina era de US$ 3,44 no início desta semana, em torno do mesmo nível de um ano atrás, mas substancialmente maior do que há quatro anos, de acordo com dados da Administração de Energia americana.

As sanções iranianas anunciadas na terça-feira miram empresas nos Emirados Árabes Unidos e em Hong Kong que facilitam os pagamentos do petróleo iraniano. Elas não devem ter um impacto tangível nos mercados de petróleo, de acordo com Homayoun Falakshahi, analista de petróleo da Kpler. 

“Será limitado e temporário”, disse ele. “É uma questão de formar novas empresas de fachada e reorganizar a cadeia de suprimentos.”

No caso da Venezuela, os EUA reverteram as sanções no ano passado sob a condição de eleições democráticas justas. De repente, explorar as reservas do país tornou-se novamente uma possibilidade para os produtores de petróleo ocidentais. As exportações de petróleo do país aumentaram 5% até agora este ano, de acordo com dados da Kpler.

Mais tarde, os EUA não renovaram uma licença geral para empresas operarem na Venezuela, depois que a mais alta corte venezuelana confirmou em janeiro a proibição da candidatura de um líder da oposição.

No entanto, nas últimas semanas, as autoridades abordaram grandes comerciantes de commodities para solicitar licenças especiais para o envio de petróleo venezuelano e aprovaram pedidos individuais, de acordo com funcionários do governo e executivos de grandes tradings de commodities.

“Nada aterroriza mais um presidente americano do que um aumento no preço da gasolina na bomba”, disse Bob McNally, presidente da consultoria Rapidan Energy Group e ex-funcionário de políticas da Casa Branca no governo George W. Bush. “Eles não medirão esforços para evitar isso, especialmente em ano eleitoral.”

Além disso, os esforços americanos da diplomacia do petróleo têm sido particularmente intensos no Iraque. No mês passado, uma delegação do Departamento de Estado visitou Erbil, cidade na região norte do Curdistão, para tentar reabrir um oleoduto que liga a área rica em petróleo a um porto turco. Uma disputa política entre Turquia, Iraque e a região semiautônoma do Curdistão bloqueia o oleoduto desde o início de 2023.

O oleoduto “é um ativo energético que os Estados Unidos desejam muito ver reativado”, disse Geoffrey Pyatt, secretário adjunto de recursos energéticos do Departamento de Estado, em uma declaração em março. “Os mercados globais, e especialmente europeus, estão famintos por fontes de abastecimento não russas.”

O petróleo no oleoduto não é russo, mas 60% é de propriedade da estatal Rosneft Oil, e a empresa ganha taxas quando o petróleo flui através dele. No final do ano passado, a Rosneft enviou um grupo de traders ao Curdistão em uma missão semelhante.

O fechamento de um ano significou que a empresa com sede em Moscou perdeu mais de US$ 720 milhões de receita, de acordo com uma pessoa familiarizada com o projeto.

Etibar Eyyub, o trader azeri que opera a rede russa de comércio de petróleo, viajou para a capital curda de Erbil em jato particular no final do ano passado com seu parceiro de negócios, Tahir Garayev. Eles estavam lá para discutir o oleoduto com altos funcionários curdos, disseram pessoas familiarizadas com o assunto. Eyyub retornou recentemente para mais conversas, revelaram alguns deles.

Um porta-voz da Rosneft não comentou sobre o oleoduto, mas disse que se tornou prática do Wall Street Journal o envio de “perguntas tendenciosas”.

Representantes de Eyyub e Garayev não forneceram respostas a pedidos de comentários.

Está claro qual é a posição dos EUA, disse o ministro das Relações Exteriores curdo, Safeen Dizayee, em entrevista. O oleoduto foi construído antes de haver um conflito e “não se trata de apoiar um lado ou outro”, disse ele, referindo-se à Ucrânia e à Rússia.

Escreva para Anna Hirtenstein em [email protected], Joe Wallace em [email protected], Ian Talley em [email protected] e Costas Paris em [email protected]

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