O ‘overbooking’ de Shein e Temu que está encarecendo o frete aéreo
As remessas de comércio eletrônico saindo da Ásia estão lotando o espaço de frete aéreo, com a alta temporada do setor ainda a meses de distância
Os aplicativos de compras Temu e Shein estão modificando o mercado de carga aérea que sai da China, ocupando espaço de aeronaves em um ritmo que acaba elevando as taxas de frete e gerando apreensão com a diminuição de capacidade para a alta temporada de transporte marítimo no final deste ano.
O volume de envios dos centros de fabricação no sul da China, em particular, estão aumentando, desencadeando uma competição cada vez maior pelo espaço nas aeronaves. Em junho, o preço da carga aérea pesada deixando a região subiu cerca de 40% em relação ao ano passado, durante o que normalmente é uma temporada de baixa antes que o comércio se aqueça para o período de compras de fim de ano.
“Se você, enquanto comprador, não tiver combinado ou acordado com seu agente de carga sobre como se organizar nessa época, acho que pode se preparar para dificuldades consideráveis”, disse Niall van de Wouw, responsável pelo frete aéreo na empresa de dados de transporte e aquisições Xeneta.
Especialistas do setor dizem que o aumento é em grande parte resultado do crescimento da Temu e da Shein, startups de comércio eletrônico fundadas na China que se tornaram uma força no comércio varejista on-line.
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“O boom do comércio eletrônico na China transformou o mercado de frete aéreo em um período incrivelmente curto de tempo”, afirmou van de Wouw.
Tim Scharwath, executivo-chefe da DHL Global Forwarding, disse que as empresas chinesas de comércio eletrônico se expandiram tão rapidamente em menos de dois anos que consomem mais de 30% do espaço de carga em algumas rotas que saem da Ásia.
O frete aéreo é normalmente dominado por itens pequenos e de alto valor, como smartphones e laptops, além de perecíveis, como peixes e flores. A Temu e a Shein estão inundando as rotas aéreas com roupas e artigos domésticos enviados para consumidores na Europa e na América do Norte.
As exportações que saem do Aeroporto Internacional de Hong Kong registraram aumentos de dois dígitos em cada um dos primeiros cinco meses de 2024 e aumentaram 30% ano a ano em maio, de acordo com a agência que administra o aeroporto.
Logo, a demanda está promovendo um aumento nos preços. A taxa média no final de junho para enviar carga por via aérea do sul da China para os EUA foi de US$ 5,27 por quilo, mais do que o dobro dos níveis de 2019, de acordo com a Xeneta.
Os agentes de carga, intermediários que gerenciam grande parte dos embarques nas rotas transpacíficas, alertam que a competição por espaço no final de 2024 será intensa, quando os varejistas buscam mercadorias para as festas de fim de ano.
A DHL Global Forwarding está pressionando varejistas e fabricantes a assinar contratos agora, apesar das taxas mais altas do que o normal, para garantir espaço mais tarde. “Se você nos procurar em outubro e pedir capacidade extra, nossa resposta provavelmente será não”, disse Scharwath.
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O crescimento do volume de e-commerce internacional é uma das grandes forças promovendo o aumento nos negócios de carga aérea este ano.
A demanda global por frete aéreo aumentou 12,7% nos primeiros quatro meses de 2024, de acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo, bem à frente do aumento de 10,3% na capacidade medido pelo grupo comercial do setor no período. A demanda na região Ásia-Pacífico foi particularmente alta, crescendo 14% em abril, quase o dobro do ganho de 7,8% na capacidade.
A WorldACD, grupo de dados da indústria de frete aéreo com sede nos Países Baixos, disse em um relatório de 13 de junho que os ataques dos rebeldes houthis a navios comerciais no Mar Vermelho geraram atrasos no transporte marítimo, levando os exportadores para o transporte aéreo. As complicações “foram exacerbadas ainda mais nas últimas semanas devido ao tráfego pesado nos portos e à diminuição da capacidade em certos mercados-chave, levando mais proprietários de carga” às transportadoras aéreas, disse a empresa.
A Temu e a Shein se tornaram extremamente populares nos EUA no ano passado, atraindo clientes com preços baixíssimos para itens enviados diretamente de fábricas na China. Seu modelo de negócios permite que as empresas evitem tarifas sob uma lei dos EUA, que permite que remessas com valor de US$ 800 ou menos entrem no país sem cobranças extras.
A Amazon está planejando um serviço similar saindo da China no fim de ano, o que pode acirrar ainda mais a competição pelo frete aéreo.
Um representante da Temu disse que a empresa transporta mercadorias pelo mar e pelo ar. “Nosso principal objetivo é garantir que os clientes recebam seus pedidos rapidamente e com o melhor custo”, declarou. Porta-vozes da Temu e da Shein disseram que proíbem o uso de trabalho forçado em suas cadeias de suprimentos.
As duas empresas provocaram um aumento nos volumes de carga aérea deixando a China no final de 2023, após a baixa da demanda por transporte durante a maior parte do ano. Isso desencadeou uma disputa por espaço e fez com que as taxas em algumas rotas que ligam a China aos EUA e à Europa subissem cerca de 50% em comparação com o ano anterior.
“Em 2022, elas não tinham participação”, disse Yngve Ruud, vice-presidente executivo de logística aérea da agência de carga Kuehne+Nagel International, com sede na Suíça. “No final de 2023, eram as duas maiores embarcadoras [de carga aérea] do mundo.”
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traduzido do inglês por investnews