Casamento de meio bilhão de reais coloca os ultrarricos da Índia nos holofotes
Evento estratosférico acontece em meio a uma economia em crescimento acelerado, que dá à luz cada vez mais bilionários e milionários
Um dos casamentos mais luxuosos dos últimos anos termina neste fim de semana na Índia, depois de mostrar ao mundo o impressionante poder de compra de uma família fabulosamente rica — os Ambanis.
Anant Ambani, de 29 anos, o filho mais novo de Mukesh Ambani, chefe do conglomerado industrial Reliance Industries e o homem mais rico da Índia, está se casando com Radhika Merchant, também de 29 anos, descendente de outra família de negócios indiana. O custo do casamento é estimado em mais de US$ 100 milhões – meio bilhão de reais.
A noiva usou um vestido Versace sob medida, um vestido de coquetel vintage Yves St Laurent e uma toga com um peitoral de alumínio impresso em 3D feito por pelo menos 30 pessoas, de acordo com um relato que Merchant deu à Vogue Índia. A mãe do noivo usou um colar com pingentes de esmeralda do tamanho de pequenas barras de sabão. Alguns dos eventos ocorreram em um palácio de vidro feito para a ocasião em Jamnagar, a cidade natal da Reliance, no estado ocidental de Gujarat.
Um casamento Ambani pode ter uma classe própria, mas famílias ricas como essa não são tão raras quanto eram antes na Índia. O país está produzindo milionários e bilionários mais rápido do que nunca, afirmam gestores de patrimônio e economistas, graças a uma economia florescente que enriquece as grandes empresas, ao mesmo tempo em que facilita o início de novas.
“Hoje, surgem bilionários todos os meses em nosso país. A cada 30 minutos surge um milionário.”
Himanshu Kohli, cofundador do escritório de investimentos multifamiliares Client Associates
Marajás modernos
A Índia tinha menos de dez bilionários há duas décadas, quando Mukesh Ambani e seu irmão mais novo apareceram pela primeira vez na lista da Forbes, depois que seu pai, o fundador da empresa Dhirubhai Ambani, morreu. Agora, o país é a terceira maior fonte mundial de bilionários, depois da China e dos EUA.
Os 200 bilionários da Índia têm um patrimônio líquido combinado de cerca de US$ 950 bilhões, de acordo com a Forbes.
Esses marajás modernos controlam a economia do país e alguns deles gastam cada vez mais para mostrar isso, acabando com a ideia de um país há muito visto como aquele onde apenas coisas modestas poderiam ter sucesso.
“O principal é que os marajás anteriores tinham seu próprio território, terra, controle”, disse Kavil Ramachandran, professor da Escola Indiana de Negócios em Hyderabad, que pesquisa as empresas familiares da Índia. “Agora, você tem que dizer ao mundo ‘sou um marajá’, e isso só pode acontecer por meio desse tipo de ação pública.”
Os Ambanis trouxeram convidados de avião para eventos, usaram trajes bordados com fios de ouro e cristais, exibiram joias repletas de brilhantes e assistiram a apresentações de estrelas pop como Rihanna, Justin Bieber e Katy Perry. Em uma festa que tomou conta de uma praça italiana, o tenor Andrea Bocelli apareceu para cantar algumas músicas.
Momentos selecionados das festas apareceram no Instagram e em outras mídias sociais, incluindo um show de drones que criou figuras iluminadas no céu em Jamnagar e um vídeo mostrando Mark Zuckerberg e sua esposa, Priscilla Chan, admirando um relógio Richard Mille usado por Anant Ambani. Um porta-voz da empresa disse que o relógio pertencia a uma edição com motivo de carpas. Os entusiastas de relógios on-line que acompanham de perto as peças no punho de Ambani estimam o valor do relógio em mais de US$ 1 milhão.
A família aderiu ao pedido do primeiro-ministro indiano Narendra Modi no ano passado de que os indianos ricos impulsionassem a economia escolhendo se casar na Índia, não no exterior — mas isso sem contar em um cruzeiro de quatro dias no Mediterrâneo e um baile de máscaras na Itália.
Um casamento indiano sofisticado para cerca de 200 pessoas na Europa pode custar cerca de US$ 2 milhões, disse Chetan Vohra, que dirige a Weddingline, empresa de consultoria de planejamento de casamentos de luxo. Nas celebrações de Ambani, houve muitos outros convidados e eventos.
Todos os eventos culminam em um casamento na sexta-feira, cuja lista de convidados, de acordo com a mídia indiana, inclui ex-primeiros-ministros britânicos, executivos-chefes globais e algumas Kardashians.
No fim de semana, a família oferecerá uma série de recepções para os visitantes, seguidas de uma festa para milhares de funcionários da casa e a equipe de apoio pessoal.
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A era dourada da Índia?
A Índia agora tem cerca de 850 mil milionários, medidos em dólares, de acordo com a pesquisa do Credit Suisse sobre riqueza global, um aumento de cinco vezes em comparação com uma década atrás. O produto interno bruto per capita do país, por sua vez, é de apenas cerca de US$ 2.500.
Em um post de blog amplamente citado no ano passado, Saurabh Mukherjea, fundador da Marcellus Investment Managers, com sede em Mumbai, descreveu as crescentes fileiras de famílias ricas da Índia como uma nova classe de “polvo”, cujos tentáculos sugam a riqueza de diferentes empreendimentos e investimentos e têm laços com a classe política indiana.
O termo não pretende ser pejorativo, disse Mukherjea. De fato, é uma metáfora para a capacidade de alguns atores de aproveitar as oportunidades que surgem na Índia, agora que a infraestrutura física e digital une a economia do país, ampliando o campo de operações comerciais, ao mesmo tempo em que oferece espaço para empresas menores com experiência em tecnologia.
Menos de mil empresas agora respondem por cerca de 60% a 70% dos lucros corporativos da Índia, afirmou Mukherjea. As maiores entre elas são Reliance, Adani Group e Tata Group, que ganham dinheiro com tudo, desde projetos de infraestrutura grandes e caros até o consumo no varejo. Ao mesmo tempo, milhares de pequenas empresas na Índia não são lucrativas e lutam para sobreviver, criando uma economia de duas vias.
“É muito parecido com a situação dos EUA nos loucos anos 20, exatamente um século atrás”, disse Mukherjea. “Quando J.P. Morgan, Carnegie, Vanderbilt, Rockefeller fizeram fortuna, dominavam as indústrias, estavam — pode-se dizer — brincando com a forma em que o país era administrado.”
Nos Estados Unidos, a exploração de petróleo, as ferrovias e as rodovias permitiram que a economia florescesse. Na Índia, a internet, um boom de pagamentos móveis e uma melhor conectividade das companhias aéreas estão gerando um efeito semelhante, disse ele.
Nithin Kamath, de 44 anos, e seu irmão, Nikhil Kamath, entraram na lista de bilionários da Forbes em 2023 graças à Zerodha, corretora on-line que fundaram em 2010. Para eles, seu serviço seria direcionado a day traders, mas então veio a pandemia e muitos indianos com economias extras por ficarem em casa decidiram entrar no mercado de ações. Um novo grupo de investidores individuais nasceu rapidamente, recorrendo à Zerodha para compras e vendas.
“Havia toda uma geração de pessoas que pensava em investir, mas que não havia começado até então”, disse Nithin Kamath, e sua empresa estava “no lugar certo na hora certa”.
Quanto à inclusão na lista, disse ele, ser visto como rico era meio embaraçoso, mas reconheceu que os rankings poderiam encorajar outros aspirantes a empreendedores.
Os novos investidores da Índia, por sua vez, ajudaram a elevar o valor de mercado de várias empresas, enriquecendo seus proprietários ainda mais. Os bilionários da Índia incluem fabricantes de cabos elétricos, tintas e uma marca de vodca fabricada no país, a Magic Moments.
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Anas Rahman Junaid, cofundador da Hurun India, parte de um grupo de pesquisa com sede em Londres, acompanha os ricos da Índia há mais de uma década para uma lista anual de pessoas com um patrimônio líquido agora equivalente a cerca de US$ 120 milhões ou mais. Ele disse que as edições recentes mostram que mais pessoas vêm da manufatura, da infraestrutura e de negócios de consumo, mostrando uma economia diversificada.
A Reliance exemplifica essa diversificação. A empresa teve seu primeiro grande crescimento graças aos seus negócios de petróleo, gás e petroquímica, mas nos últimos anos se voltou para a nova economia. Quando os convidados do casamento postam fotos de si mesmos no Instagram, é provável que o façam na Jio, rede de dados de propriedade da Reliance que domina a Índia. A maioria dos eventos de casamento deste mês acontecerá no Jio World Center em Mumbai. A empresa ainda tem uma participação na marca fundada pelo estilista de casamentos Manish Malhotra, que fez várias das roupas indianas usadas por Merchant.
O patrimônio líquido de Mukesh Ambani, de acordo com a Forbes, saltou para cerca de US$ 116 bilhões em 2024, bem mais que os US$ 80 bilhões do ano passado. Sendo assim, os gastos com o casamento — sejam dezenas de milhões ou centenas de milhões — podem de fato ser vistos como frugais.
“Os casamentos dos Ambani são uma porcentagem muito pequena de seu patrimônio líquido”, disse Kohli, da Client Associates. “Eles conseguem gerar muita riqueza em poucos dias ou em alguns meses.”
Escreva para Tripti Lahiri em [email protected]
traduzido do inglês por investnews