Tour de France segue para uma final única (e cruel) na Riviera
Por causa das Olimpíadas, corrida não será encerrada em Paris, como acontece normalmente
Tadej Pogacar já memorizou cada curva da Col d’Eze, a estrada sinuosa que sobe do porto de Nice até as colinas de Mônaco. É onde ele costuma pedalar, passando por amadores desavisados, e onde treina para vencer o Tour de France.
O bicampeão é figurinha carimbada na Col d’Eze e os ciclistas nos cafés relatam uns aos outros ter visto Pogacar nos bares de hotéis chiques.
Isso porque o percurso montanhoso de quase dez quilômetros é praticamente território do atleta. E neste fim de semana, a Eze e alguns outros trajetos íngremes na Côte d’Azur serão o palco da decisão da prova ciclística mais famosa do mundo. Pela primeira vez em seus 121 anos de história, o Tour substituirá a estrada para Paris por um par de etapas cruéis da Riviera na sexta-feira (19) e no sábado (20), seguidas por uma disputa contra o relógio no domingo (21), que termina em Nice.
“Depois, posso simplesmente pegar minha bicicleta, voltar para casa e dormir”.
Tadej Pogacar
Pogacar, que mora na costa de Mônaco, não será o único a fazer o curto trajeto para casa. A Riviera é um dos principais pontos mundiais de ciclistas profissionais — junto com negociantes de arte, oligarcas e exilados fiscais. Assim que o Tour terminar, dezenas de ciclistas se espalharão por locais entre Nice e Mônaco e voltarão para sua própria cama pela primeira vez em mais de um mês.
LEIA MAIS: Falta uma semana para a cerimônia de abertura das Olimpíadas; programe-se
Em circunstâncias normais, a corrida terminaria em Paris, onde o campeonato se encerra todos os anos desde a primeira edição em 1903. Mas, com a capital francesa dando duro nas preparações para as Olimpíadas de Verão, que começam em 26 de julho, fechar as principais estradas e mobilizar a segurança para o pelotão percorrer a Champs-Elysées acabou sendo impraticável. Por isso, a prova foi para um terreno familiar. Os organizadores iniciaram a corrida na Côte d’Azur em 2020 e voltam à área todo mês de março com outro evento, o chamado Paris-Nice.
“Ficou bem claro desde o início que Nice era a solução”, disse Thierry Gouvenou, responsável por projetar o percurso todos os anos. “Nós a conhecemos muito bem e isso garante bastante variedade.”
LEIA MAIS: A liga de futebol mais rica do planeta está se desintegrando
Essa é uma das razões pelas quais os atletas se mudaram em peso para a Riviera há mais de 20 anos. Eles são seduzidos pelo sol, pela mistura desafiadora de estradas para treinar e, para alguns, pelos benefícios fiscais de morar em Mônaco. Em um pelotão cheio de imitadores, bastou um punhado de ciclistas como Lance Armstrong se mudar para Nice na década de 1990 para que a tendência começasse.
“Um deles vai para lá, depois outro, e é assim que começa”, diz Greg LeMond, que venceu o Tour três vezes entre 1986 e 1990. “Além disso, os ciclistas estão ganhando muito mais dinheiro agora.”
Ao longo de três dias, a prova terá seis de suas subidas mais difíceis, um final no topo da montanha na estação de esqui Isola 2000, uma descida de arrepiar os cabelos na Col de Turini e um final estilo cartão postal ao longo das praias de seixos da Promenade des Anglais. Mas tudo o que faz da Côte d’Azur um dos locais de verão mais encantadores da Europa também faz dela um dos mais difíceis para andar de bicicleta, caso você esteja pedalando pelo país há três semanas.
“Vai estar superquente e úmido”, disse Pogacar. “Conheço bem as condições de julho e agosto e acho que são terríveis.”
Ao incluir uma dura corrida contra o relógio no último dia da disputa, em vez do habitual passeio cerimonial na Champs-Elysées, os organizadores esperavam injetar algum drama extra no Tour deste ano, já que a única dificuldade competitiva da etapa tradicional de Paris é reservada aos especialistas em sprint. O ideal seria replicar o emocionante final da competição de 1989, a disputa contra o relógio da 21ª etapa em Paris que viu o americano Greg LeMond superar o francês Laurent Fignon por apenas oito segundos. Essa continua sendo a margem de vitória mais apertada dos 121 anos de história da corrida.
“Foram muito inteligentes ao fazer isso”, diz LeMond, “porque mantém o suspense até o fim”.
Ou, pelo menos, a ideia era essa. Ao garantir uma vantagem de mais de três minutos sobre o atual campeão Jonas Vingegaard, Pogacar parece não estar colaborando. Mesmo assim, espera-se que Vingegaard e sua equipe Visma-Lease a Bike tentem mais uma vez diminuir a diferença na sexta-feira, na esperança de diminuir a vantagem de Pogacar no domingo.
Se falharem, Pogacar vencerá a corrida pela terceira vez em sua carreira, na coisa mais próxima que um ciclista esloveno poderia chegar de uma vitória em casa no Tour de France.
“Às vezes pedalo ida e volta para Nice e já dava para sentir a atmosfera da corrida, mesmo cinco meses atrás”, disse Pogacar. “Você sente que tem sorte de estar lá.”
Escreva para Joshua Robinson em [email protected]
traduzido do inglês por investnews