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A explosão de gastos com viagens diminui

Hotéis e companhias aéreas esperam que os americanos viagem menos a lazer nos próximos meses

Por Allison Pohle The wall street Journal
Publicado em
6 min
traduzido do inglês por investnews

Sinais de desaceleração estão surgindo em todo o setor de viagens.

Em recentes teleconferências de resultados, executivos de empresas de hotéis e viagens apontaram para a letárgica demanda doméstica por lazer entre os americanos. Ao todo, a palavra “suavidade” apareceu 16 vezes na divulgação de Expedia, Marriott, Airbnb e Hilton.

Aqueles que não descartam uma viagem contam estar optando por acomodações mais baratas. Enquanto os turistas de renda mais alta ainda planejam viajar para o exterior, outros estão sendo mais cuidadosos com os gastos.

Uma nova era de cautela chegou para viajantes americanos como Kai Tenenberg.

“Estou tentando descobrir como posso economizar dinheiro e ainda fazer o que amo”, diz o profissional de saúde de 36 anos que mora no condado de Palm Beach, na Flórida, que agora está hospedado com amigos para evitar pagar diárias de hotéis.

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Os turistas dizem que estão priorizando o valor geral e ficando mais exigentes com suas reservas. As linhas de cruzeiro, que historicamente adotam um modelo de preços com tudo incluído, se beneficiaram dessa mentalidade, enquanto alguns hotéis que dependem de turistas têm tido dificuldades. 

Como as pessoas precisam pagar por itens essenciais, como alimentação e moradia, antes de pensar em gastos de férias, as viagens são um indicador importante para a economia. Os gastos com viagens também podem ser uma métrica de como os consumidores acreditam que estarão no ano que vem.

“Sinto um pouco mais de cautela, mas não um recuo significativo”, diz Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics, acrescentando que a desaceleração é esperada devido aos aumentos das taxas do Fed.

Duas economias diferentes

A demanda geral por lazer está diminuindo, mas a história não é a mesma em todos os níveis de renda ou destinos. Os consumidores de alta renda continuam viajando, mas têm preferido destinos internacionais, diminuindo as viagens domésticas, como visitas a parques temáticos, dizem executivos de viagens.

Os viajantes de baixa renda têm uma realidade diferente.

“Eles estão gastando muito dinheiro”, disse o presidente-executivo do Hilton, Chris Nassetta, na teleconferência de resultados da semana passada. “Agora, estão fazendo mais empréstimos e, portanto, têm menos renda disponível e menor capacidade para fazer qualquer outra coisa, incluindo viagens.”

Liz Kelly mora perto de Richmond, na Virgínia, com o marido e duas filhas e trabalha no setor de transporte. Ela conta que pararam de viajar quando os preços dispararam, optando por patinação no gelo, piqueniques e passeios de bicicleta. A família fez uma viagem de dois dias e meio pelo lago, financiada pelos sogros de Kelly, diz ela.

“Há outras coisas mais importantes do que viajar”, diz Kelly, de 39 anos.

Há também outros detalhes afetando algumas reservas. 

Alguns viajantes estão mantendo seus planos, mas ficando em hotéis menos sofisticados do que antes (Sawyer Roque/WSJ)

Em primeiro de julho, a Califórnia começou a exigir que as empresas divulguem taxas anteriormente ocultas em tudo, desde diárias de hotel a aluguéis de curto prazo. Isso teve um efeito negativo nas reservas, disseram executivos da Expedia em sua teleconferência de resultados, e influenciou a orientação da empresa para o resto do ano.

Mike Roese diz que ele e sua esposa estão mais cuidadosos com as reservas no Airbnb depois de encontrarem taxas ocultas que não esperavam. Ele é um grande fã da nova política, afirma.

“Você consegue me enganar uma vez. Não duas”, diz Roese, de 50 anos, que faz serviços terceirizados e mora na costa central da Califórnia.

O casal diz estar sendo mais estratégico com as viagens. Eles fazem compras de mantimentos no Walmart para as refeições durante as férias e comparam mais os preços, revelou ele.

Alguns turistas estão mais criteriosos nos gastos com um jantar ou uma excursão mais cara durante as férias, disse a diretora financeira do Marriott, Leeny Oberg, a analistas.

Priorizando o valor

Um número recorde de passageiros passou pelos aeroportos dos EUA neste verão, muitos dos quais em viagens internacionais. Mas as companhias aéreas ofereceram descontos para preencher assentos domésticos e disseram nas últimas semanas que reduzirão a capacidade de voo nos próximos meses para se ajustar à demanda. 

Na semana passada, a Frontier reduziu significativamente seus planos de voo pós-verão. Há mais cortes nos dias de viagem fora de pico, que são as mais procuradas pelos viajantes que precisam economizar dinheiro.

Deej Ratnani, que administra seu próprio negócio de importação em Nova York, diz que viaja metade do que costumava viajar antes da pandemia, pois tudo ficou mais caro. Ele conta que normalmente viajava 12 vezes por ano a trabalho, diversão e para visitar a família em Hong Kong.

“Sinto falta disso”, diz o homem de 39 anos.

Já nas linhas de cruzeiros, a história é diferente. Elas relataram gastos a bordo mais altos do que no mesmo trimestre do ano passado. 

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Josh Weinstein, presidente-executivo da Carnival Corp., disse em uma teleconferência de resultados em junho que sua empresa estabeleceu um recorde de maior número de reservas futuras feitas em um segundo trimestre.

Sharon Abraczinskas, de 61 anos, fez um cruzeiro pelo Caribe em fevereiro e tem um outro reservado para dezembro para visitar os mercados de Natal em diferentes locais europeus. A profissional de saúde do centro da Pensilvânia diz ver um grande valor nos cruzeiros, que incluem alimentação, hospedagem e entretenimento durante a semana e permitem que ela veja vários países sem reservar hotéis e voos separados. 

Abraczinskas pensou em reservar uma estadia de uma noite em um hotel em Nova York em setembro para visitar sua filha e ir ao teatro, mas acabou decidindo que o hotel era muito caro. 

“Minha filha mora lá, então vamos ficar com ela e vamos dar um jeito”, diz.

Os turistas estão reservando mais viagens de última hora do que antes, e menos com dois ou mais meses de antecedência, disse Ellie Mertz, diretora financeira do Airbnb, na teleconferência de resultados de sua empresa. 

Mertz disse que isso não significa necessariamente que as pessoas não viajarão, apenas que ainda não reservaram. 

“Já vi o setor de viagens despencar”, diz C. Patrick Scholes, analista da Truist Securities. “E não é isso que estou vendo.”

Escreva para Allison Pohle em [email protected] e Margot Amouyal em [email protected]

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