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Praias de nudismo brasileiras têm um problema: poucos nudistas 

Alguns dizem que o país está ficando muito pudico. Naturistas querem que mais pessoas participem

Por Samantha Pearson The wall street Journal
Publicado em
7 min
traduzido do inglês por investnews

No Brasil, lar de desfiles sensuais de carnaval e dos biquínis mais sumários do mundo, os nudistas do país estão enfrentando uma situação inesperada: os brasileiros não querem tirar a roupa em público. 

Com o conservadorismo social predominante em partes do Brasil, a federação naturista do país contratou guardas nus para tentar manter os banhistas vestidos longe da praia do Abricó, um trecho isolado de areia no Rio de Janeiro e uma das últimas praias de nudismo remanescentes do país.

“Ei cara, tire a roupa!”, grita Anderson de Oliveira, motorista de Uber de 46 anos que trabalha como um dos vigias da Abricó todo fim de semana. Tecnicamente, os banhistas têm o direito constitucional de usar o que quiserem, mas os nudistas se esforçam para manter uma certa “vibe”.

Vestido com nada além de um boné de beisebol, com um walkie-talkie pendurado no pescoço, ele gesticula energicamente para aqueles que chegam com seus trajes de banho ofensivos. 

“Qual é o problema?”, diz de Oliveira, conhecido como Jesus por causa da extensa tatuagem de Jesus em seu peito. “Deus nos fez assim!” 

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Ficar nu no Brasil é mais difícil do que parece. O banho de sol de topless é geralmente proibido (embora permitido na Abricó, a praia de nudismo) e punível com até um ano de prisão sob uma lei da década de 1940 que proíbe “atos de obscenidade pública”. O policiamento varia muito. 

Algumas ginastas dinamarquesas ganharam as manchetes em 2013 quando fizeram topless na praia de Copacabana, no Rio, sem saber que uma prática europeia comum era proibida no Brasil. Elas foram liberadas após pedirem desculpas.

Porém, quando uma mulher de 36 anos fez topless em Santa Catarina no ano passado enquanto passeava com seus cachorros na praia, a polícia a algemou e prendeu. 

Em 2010, uma universidade foi condenada a pagar US$ 7.200 em indenização depois de expulsar uma aluna por usar um vestido considerado muito curto. 

“O Brasil pode ser totalmente contraditório — por um lado, aparentemente liberal, mas também totalmente conservador”, disse Pedro Ribeiro, de 66 anos, professor e naturista que lutou contra manifestantes e os tribunais por décadas para estabelecer Abricó como uma praia de nudismo.

Sentado em uma pedra com vista para o enclave paradisíaco, ele conta que seus alunos agora se referem carinhosamente a ele como Sr. Peladão

A prefeitura do Rio deu aos naturistas o direito de usar a Abricó pela primeira vez em 1994, mas uma liminar duas semanas depois proibiu a prática até 2003. A polícia deteve Ribeiro várias vezes. 

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Apesar de uma lei de 2014 estabelecer permanentemente Abricó como uma praia de nudismo, Ribeiro conta que membros da federação naturista aparecem todo fim de semana para afastar manifestantes e “curiosos”.

“Algumas pessoas acham que é um zoológico, vêm só para dar uma olhada”, disse Ribeiro. 

Avistar os guardas nus em Abricó em geral já é o suficiente para fazer os banhistas vestidos correrem através das pedras para a praia ao lado. Outros continuam, despindo-se antes de se juntarem aos naturistas no mar. 

A praia anda relativamente vazia ultimamente. O Hemisfério Sul está no inverno, e os brasileiros consideram 24º C muito frio para entrar na água.

Mas durante o pico do verão — dezembro e janeiro — até 350 naturistas lotam o trecho de 250 metros de areia branca e sedosa. 

Douglas Coimbra, de 38 anos, trabalhador da construção civil, disse que tomar banho de sol nu o ajudou a aceitar seu corpo mais cheio. 

“Não importa a aparência do seu corpo aqui — você pode ser gordo, magro, atraente ou não. É apenas um corpo”, disse Coimbra, vindo de São Paulo com a esposa para suas férias. 

Outros disseram ter achado libertador estar em comunhão com a natureza sem se preocupar com as marcas de bronzeado. 

Ribeiro observou que a Abricó também está entre as praias mais seguras do Rio, já que esconder uma arma ou item roubado é quase impossível quando se está nu. 

O Brasil tem milhares de praias ao longo de seus mais de 7.400 quilômetros de costa, mas apenas oito delas são reservadas para naturistas. 

A Igreja Católica há muito defende valores socialmente conservadores no Brasil, e a recente ascensão de cristãos evangélicos endureceu ainda mais as opiniões sobre muitas questões sociais, disse Laura Carneiro, deputada que apoia políticas socialmente progressistas.

Por seis anos, Carneiro pressionou por uma lei nacional que concedesse aos governos locais mais voz sobre a designação de praias de nudismo, embora tenha tido pouca sorte em um Congresso onde os evangélicos agora representam quase 40% dos membros, contou ela. 

“Na maioria das vezes, tenho que explicar o que é naturismo, pois as pessoas nem sabem”, disse ela.  

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Os naturistas também pressionam os governos locais, com diferentes resultados, para isolar trechos de praia. Os naturistas de São Paulo dizem que estão procurando comprar uma fazenda isolada. 

À medida que o pôr do sol se aproxima na Abricó, os naturistas vestem suas roupas e se dirigem ao estacionamento, muitas vezes enfrentando olhares desdenhosos dos banhistas do outro lado. 

“Nossas partes íntimas devem permanecer privadas”, disse Antonia Cassia, de 68 anos, sentada na areia.

Nos dias mais quentes, ela traja alegremente um biquíni fio dental, mas nunca consideraria o naturismo. “Claro, é pouco pano, mas é um pedaço muito importante!”

Os estrangeiros assumem erroneamente que os brasileiros ficam felizes em ficar nus, disse ela, culpando o famoso desfile de carnaval em que foliões seminus sambam no meio da multidão. 

“O carnaval não é o dia a dia, é a exceção”, afirmou ela. “Até as pessoas que não gostam de dançar dançam no carnaval!”

Muitas vezes, a manutenção da paz depende de Diogo Pacheco, o salva-vidas local. 

“As pessoas nuas às vezes se perdem e atravessam as pedras e eu tenho que guiá-las educadamente de volta antes que alguém veja”, diz ele de sua cabana de madeira, empoleirada na montanha com uma visão panorâmica de ambas as praias. É um trabalho difícil, mas a vista compensa, disse ele.

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Jonatan de Souza atravessa os dois mundos de forma única. Vendedor de sorvete, ele tem o monopólio de Abricó, pois é a única pessoa disposta a ficar nua para vender picolés para os nudistas, disse ele. 

“Fiquei um pouco nervoso no começo, mas depois vi os outros caras e percebi que não tinha nada com que me preocupar”, acrescentou, rindo. “Minha esposa quase terminou comigo, mas os negócios vão indo muito bem.”

Escreva para Samantha Pearson em [email protected]

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