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Trump promete mais petróleo para baratear a energia. Mas será que ele consegue?

O discurso anti-inflação de Trump foca em gasolina e eletricidade baratas, maas presidentes tem pouco controle sobre essas áreas

Por David Uberti The wall street Journal
Publicado em
8 min
traduzido do inglês por investnews

Donald Trump diz que pode reduzir rapidamente os custos de energia dos americanos em 50% ou mais, uma perspectiva bem-vinda para os eleitores cansados da inflação. Mas falar é fácil. Fazer, nem tanto.

O candidato presidencial republicano diz que contará com um slogan de campanha para realizar a façanha: “fura, baby, fura”. Trump diz que licenças mais rápidas, regulamentações ambientais mais fracas e outras medidas aumentarão a produção de petróleo e gás natural e reduzirão os preços na bomba e nas contas de energia. 

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Contudo, muitos produtores não compartilham o gosto de Trump por mais perfurações. Eles estão mais focados em devolver dinheiro aos acionistas do que em aumentar a produção.

Na verdade, os preços da energia são moldados por mercados globais e regionais complexos que não respondem rapidamente a ordens executivas. Os custos de eletricidade podem oscilar com base em eventos como padrões climáticos que impulsionam a demanda e guerras distantes que restringem o fornecimento de combustível.

“É basicamente fanfarronice, porque o presidente na verdade não tem nenhum controle direto”, disse Michael Webber, professor de recursos energéticos da Universidade do Texas em Austin.

Crédito: Nate Smallwodd/WSJ

As razões para o discurso de Trump são claras. O aumento do preço da gasolina, da energia e do combustível para aquecimento estourou o orçamento dos americanos e ajudou a inflação a disparar e chegar a máximas de 40 anos. Mesmo com as pressões sobre os preços cedendo nos últimos meses, ajudadas em parte pela diminuição dos custos da gasolina, o aumento do custo da eletricidade nacionalmente ultrapassou a taxa de aumento geral dos preços ao consumidor.

“Os efeitos do plano do presidente Trump serão vistos imediatamente — os preços da energia despencarão em antecipação à nova oferta, o que, por sua vez, reduzirá os preços de todos os bens de consumo”, disse uma porta-voz da campanha. 

Fura, baby, fura

Para muitos dos maiores perfuradores de xisto, “fura, baby, fura” se tornou um anacronismo.

As empresas que transformaram os EUA em uma potência de petróleo e gás estão cada vez mais cautelosas, graças a uma perspectiva incerta para a economia global e às memórias dolorosas de crises passadas. Wall Street pressionou os produtores a maximizar os lucros, não o crescimento, desviando dinheiro dos campos de petróleo para os retornos. Os preços médios do petróleo e os preços historicamente baixos do gás natural este ano deram aos produtores pouco incentivo para aumentar a produção. 

“Não há nada que mude com o uso de uma varinha mágica de uma perspectiva política para obter esse tipo de aumento na produção”, disse Adam Rozencwajg, sócio-gerente da empresa de investimentos em recursos naturais Goehring & Rozencwajg.

O presidente Biden descobriu como pode ser difícil persuadir os responsáveis pelo “fracking” – a fratura hidráulica, método de extração de gás de xisto comum nos Estados Unidos. A produção foi drasticamente reduzida no começo da pandemia de Covid-19, o que destruiu a demanda global. Mas os preços dos combustíveis dispararam quando as economias reabriram e os níveis de produção não se recuperaram. Depois de prometer afastar o país dos combustíveis fósseis, Biden implorou aos perfuradores para que aumentassem a produção, com sucesso limitado.

Em 2022, o choque energético causado pela guerra da Rússia contra a Ucrânia deixou ainda mais claro como a Casa Branca tem uma influência limitada sobre os mercados globais.

Trump alertou que a vice-presidente Kamala Harris reduziria a produção de petróleo e gás. A candidata democrata apoiou anteriormente a proibição da fratura hidráulica em terras federais, mas disse em uma entrevista à CNN em agosto: “Como presidente, não vou proibir”.

Justin Hamel/WSJ

Uma porta-voz de Kamala disse que continuaria implementando a lei climática de 2022 dos democratas, a Lei de Redução da Inflação, mas não ofereceu novas propostas para reduzir a conta de energia dos americanos. 

Após quedas de preços em 2016 e 2020, os produtores de petróleo e gás reforçaram com sucesso os preços de suas ações, canalizando mais dinheiro para dividendos e recompras de ações — não para novas perfurações. 

Pelo menos 63% da saída de caixa do setor foram para despesas de capital em cada um dos oito trimestres anteriores ao colapso de 2016, de acordo com uma análise da Evaluate Energy de 46 produtores de capital aberto. Nos últimos oito trimestres, esse número chegou a 49%.

A produção de petróleo americana atingiu níveis recordes sob o presidente Biden, ultrapassando os 13 milhões de barris por dia este ano. Mas os níveis de produção estão aumentando a um ritmo mais lento, e a maioria dos executivos do setor diz que o crescimento rápido acabou.

Problemas elétricos

Cerca de 13% das famílias americanas estão com o pagamento de sua conta de energia atrasado, de acordo com a Associação Nacional de Diretores de Assistência Energética, que compreende funcionários estaduais que administram a ajuda energética federal a americanos de baixa renda. O grupo estima que 3,8 milhões de famílias terão seu serviço de eletricidade ou gás desconectado este ano, contra 3,5 milhões no ano passado. 

Tornar as casas mais eficientes e resilientes ao clima possa reduzir os custos domésticos no futuro, mas não há soluções rápidas, disse Mark Wolfe, diretor executivo da organização.

Trump afirmou que facilitaria as regras da era Biden sobre usinas movidas a combustíveis fósseis, mas forneceu poucos detalhes sobre seu plano para os preços da energia.

A presidência tem pouca influência sobre os custos da eletricidade, que são sensíveis ao preço do gás natural e às diferenças regionais na geração de energia. 

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Embora os preços do gás natural tenham permanecido baixos — e a energia eólica e solar estejam se expandindo —, os consumidores também pagam taxas para cobrir o custo de mover elétrons pelo sistema envelhecido de fios e postes dos Estados Unidos. É provável que essas cobranças aumentem para pagar por atualizações há muito necessárias.

Em muitos estados, a demanda por eletricidade está aumentando devido aos novos data centers, ao crescimento da fabricação e à mudança para veículos elétricos, além do aquecimento. É necessária uma nova geração de energia, e as concessionárias e operadoras de rede também estão procurando manter disponível a geração mais antiga e confiável.

“Depois de tudo isso, você recebe a conta no final do mês e ela subiu”, disse Vince Duane, diretor da Copper Monarch e ex-conselheiro geral da PJM Interconnection, a maior operadora de rede elétrica do país.

Impacto em longo prazo

Muitas das propostas de energia de Trump estão na lista de desejos da indústria de petróleo e gás, e sua agenda ajudou a atrair milhões em doações de magnatas do petróleo. Trump prometeu fazer cortes profundos nas agências ambientais e emitir licenças e conceções mais rapidamente para perfuração em terras federais, juntamente com aprovações simplificadas para oleodutos. 

Esse impulso para o imediatismo enfrentaria cronogramas de anos para grandes projetos, mas um governo Trump poderia moldar as perspectivas de longo prazo para os combustíveis fósseis, dizem analistas. Uma área em que os presidentes podem causar um impacto direto, mas não imediato, é por meio de incentivos fiscais e do estabelecimento de padrões de eficiência para carros ou eletrodomésticos, como lava-louças, o que poderia reduzir os custos de energia.

Trump disse que pode cortar subsídios para veículos elétricos e afrouxar os padrões de emissões para carros. Isso poderia aumentar a demanda futura por petróleo, embora os críticos digam que geraria um aumento nas emissões de gases de efeito estufa.

Escreva para David Uberti em [email protected] e Jennifer Hiller em [email protected]

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