Uma seleção semanal do jornalismo mais prestigiado do mundo
Presented by

De quanto petróleo o mundo realmente precisa? As projeções nunca foram tão divergentes

A Opep e a AIE estimam quantidades bastante diferentes na demanda por petróleo até o fim de 2024

Por Carol Ryan The wall street Journal
Publicado em
5 min
traduzido do inglês por investnews

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e a Agência Internacional de Energia (AIE) não estão de acordo. Esta última foi basicamente fundada como uma anti-OPEP há 50 anos para representar os consumidores de energia um ano depois que o embargo de petróleo do cartel quadruplicou os preços globais da commodity. Mas agora o abismo entre as previsões de quanto petróleo o mundo precisará em 2024 é estranhamente grande, especialmente nessa época tão próxima do final do ano. 

A AIE acredita que 900 mil barris adicionais de petróleo por dia serão necessários para os consumidores em 2024. A OPEP está muito mais otimista e espera que sejam necessários dois milhões de barris extras. 

LEIA MAIS: Petrobras tem chances reais de se tornar a 2ª maior petroleira do mundo

Não é incomum que haja uma diferença entre as estimativas de demanda anual das duas organizações quando de suas divulgações. Porém, à medida que os dados econômicos vão chegando ao longo do ano, as previsões tendem a convergir, já que um lado ou outro admite ter sido muito otimista ou pessimista. 

Mas em 2024 isso não tem ido além de ajustes modestos. Com exceção do período entre 2020 e 2022, quando os lockdowns da pandemia dificultaram a previsão da demanda por petróleo, as estimativas das duas organizações nunca estiveram separadas por mais de 350 mil barris em setembro de qualquer ano desde 2010. 

Fontes: OPEP e AIE

O principal ponto de discórdia parece ser como a demanda evoluirá na China nos próximos três meses. A Opep acredita que o país asiático precisará de 650 mil barris extras por dia em 2024, enquanto a AIE calculou menos de um terço disso. A China consumiu 315 mil barris adicionais no primeiro semestre do ano, mas a demanda vem encolhendo ano a ano por quatro meses consecutivos. Isso sugere que seria necessário um boom econômico extraordinário nos últimos meses de 2024 para atingir a meta da OPEP. 

O estímulo do banco central da China anunciado na terça-feira pode ajudar, mas a recente queda parece estrutural e cíclica. Em julho, as vendas de veículos elétricos e híbridos ultrapassaram as de motores a combustão interna pela primeira vez, e os caminhões industriais no país funcionam cada vez mais com gás natural liquefeito em vez de diesel. Essas mudanças nas ruas e estradas chinesas são importantes para os mercados de petróleo. A demanda da China por combustível automotivo representou cerca de 15% do crescimento total da demanda por petróleo entre 1994 e 2024, de acordo com a S&P Global Commodity Insights.  

As duas organizações também estão separadas por mais de 60 mil barris em relação às necessidades da Índia, e a mais de cem mil barris de distância nas estimativas de demanda do Oriente Médio. É verdade que isso pode ser porque esta região está se tornando mais difícil de ler, pois os países produtores de petróleo mantêm forte discrição. Irã, Emirados Árabes Unidos e Iraque pararam de relatar dados de demanda ao Banco de Dados Mundial de Petróleo JODI nos últimos anos. 

Barris de metal químico e de petróleo da indústria empilhados em pátio de resíduos de tanques e contêineres, cidade de Kawasaki, perto de Tóquio, Japão
Barris de metal químico e de petróleo da indústria empilhados em pátio de resíduos de tanques e contêineres na cidade de Kawasaki, Japão. Foto: Getty Images/vichie81

Autoridades da OPEP fizeram comentários contundentes sobre as opiniões da AIE sobre o mercado de petróleo. O ministro da Energia da Arábia Saudita chamou os planos de meta de descarbonização de 2021 da AIE de “uma continuação do filme La La Land”. E o cartel disse que a previsão da agência de Paris de que a demanda por petróleo atingirá o pico até 2030 não é “baseada em fatos”. A AIE também tem ouvido isso de críticos nos EUA. Em março, legisladores republicanos enviaram uma carta à agência acusando-a de se tornar uma “líder de torcida” pelo fim do uso de combustíveis fósseis. 

Mas isso parece o caso de “matar o mensageiro”. Uma análise de Arjun Murti, sócio da empresa de pesquisa de energia Veriten, mostra que, desde 2016 – mas excluindo 2020 –, a AIE tem um histórico ligeiramente melhor que o da OPEP na previsão precisa da demanda por petróleo. A maioria dos analistas independentes, incluindo a S&P Global Commodities Insights, está mais próxima da previsão da AIE do que da Opep este ano. Mesmo a petrolífera estatal saudita Aramco só vê necessidade de 1,5 milhão de barris adicionais por dia em 2024. 

LEIA MAIS: Com seca e queimadas, açúcar do Brasil perde espaço para Tailândia e Índia

Se a OPEP acreditasse em seus próprios números, certamente colocaria mais petróleo no mercado. Em vez disso, o grupo de produtores recentemente adiou os planos de aumentar a produção de petróleo por pelo menos mais dois meses devido à fraca demanda global.

Contudo, determinar qual projeção é a mais precisa não será simples. A contagem de barris de petróleo pode levar até dois anos, pois a coleta de dados em alguns países não membros da OCDE é muito irregular. 

Acertar em um ano não significa necessariamente que as previsões de longo prazo da AIE estejam no caminho certo. A agência acredita que a demanda global por petróleo atingirá o pico por volta de 2030 — visão controversa que continuará a atrair a ira dos produtores tradicionais de petróleo. Mas este ano, pelo menos, quem pensa positivamente é a OPEP.

Escreva para Carol Ryan em [email protected]

traduzido do inglês por investnews