Por que o naufrágio de um submarino nuclear chinês reafirmou o poder militar dos Estados Unidos
Embarcação que afundou fazia parte da tentativa de expansão das forças armadas da China
Embarcação que afundou no primeiro semestre deste ano fazia parte da tentativa de expansão das forças armadas e da competição no Pacífico
O naufrágio de um submarino nuclear chinês em um estaleiro de Wuhan destaca as dificuldades que Pequim enfrenta na formação de uma marinha avançada que possa desafiar o poder marítimo dos EUA.
A China tem pressa em expandir sua frota relativamente modesta de submarinos nucleares como parte de uma campanha para modernizar suas forças armadas e fazer pender a balança estratégica a favor de Pequim.
A construção de uma potente frota de submarinos nucleares ajudaria o país a aumentar o controle sobre suas águas periféricas e rotas marítimas, projetar poder globalmente e melhorar sua capacidade de controlar a democracia de Taiwan. O esforço encontrou um obstáculo há alguns meses quando, de acordo com autoridades dos EUA, o mais novo submarino nuclear de ataque da China afundou perto da cidade de Wuhan, informou o Wall Street Journal na quinta-feira (26).
LEIA MAIS: As armas da China para iniciar uma nova guerra comercial
“A tecnologia de submarinos movidos a energia nuclear é uma área em que a China ficou para trás, onde permanece relativamente fraca; e está tentando recuperar o atraso”, disse Nick Childs, membro sênior de forças navais e segurança marítima do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, think tank com sede em Londres.
Embora as causas permaneçam desconhecidas, o acidente pelo menos “levantou novas questões sobre o projeto, o controle de qualidade e o treinamento envolvidos nos esforços da China para desenvolver rapidamente sua força submarina”, disse Childs.
Alguns analistas garantiram que esse tipo de acidente é normal em qualquer tentativa de desenvolver complexos sistemas de armamentos, e o incidente não deve causar danos prolongados ao programa de submarinos da China. A nova embarcação foi recuperada, mas levará tempo para ser posta na ativa.
“Qualquer nação que esteja tentando o mesmo que a China faz agora terá problemas”, disse Sam Roggeveen, analista de defesa do Instituto Lowy, think tank com sede em Sydney. “Mesmo as forças militares mais competentes terão acidentes com submarinos.”
Os EUA passaram por situações semelhantes, como o naufrágio do USS Guitarro, movido a energia nuclear, em um estaleiro da Califórnia em 1969.
O líder chinês Xi Jinping conduziu um ambicioso esforço de modernização do Exército de Libertação Popular na última década, compreendendo mudanças de pessoal, reestruturação organizacional, aquisição de armas e pesquisa tecnológica.
O objetivo é formar uma força de combate do século 21 que possa se igualar às forças armadas ocidentais — particularmente no mar, onde as forças chinesas confrontam cada vez mais sua contraparte americana enquanto afirmam as reivindicações de soberania de Pequim sobre Taiwan e sobre regiões do Mar do Sul da China.
As reformas militares de Xi enfrentaram problemas ao longo dos anos, incluindo escândalos de corrupção recorrentes. As autoridades abriram investigações contra mais de uma dúzia de generais seniores e executivos da indústria de defesa no ano passado, incluindo dois ex-ministros da Defesa que foram expulsos do Partido Comunista em junho.
Os EUA e outras potências aumentaram os gastos militares e formaram novas coalizões para conter o crescente poderio militar chinês. Em 2021, EUA, Reino Unido e Austrália formaram uma aliança, conhecida como Aukus, para ajudar Canberra a adquirir submarinos nucleares e consolidar a vantagem do Ocidente em tecnologia militar submarina — acontecimento que aumentou a urgência da busca de Pequim por submarinos mais eficientes.
A China possui a maior marinha do mundo em termos unitários, com mais de 370 navios. Embora essa vantagem numérica deva crescer, pois os construtores navais chineses continuam produzindo navios de guerra, analistas dizem que a Marinha ainda está distante de sua contraparte americana em sua tentativa de se tornar uma força oceânica genuína, que conseguiria projetar poder muito além das águas continentais — em parte por causa das deficiências chinesas na guerra submarina.
A China ainda depende muito de submarinos movidos a diesel, que têm alcance menor e devem emergir com muito mais frequência do que os movidos a energia nuclear.
No final de 2022, a frota de submarinos da marinha chinesa contava com 48 embarcações movidas a diesel e 12 unidades movidas a energia nuclear, incluindo seis submarinos de ataque e seis de mísseis balísticos, de acordo com um relatório do Pentágono divulgado no ano passado sobre o poder militar da China.
A força submarina dos EUA, por sua vez, é totalmente movida a energia nuclear e compreende 53 submarinos de ataque, 14 submarinos de mísseis balísticos e quatro de mísseis guiados.
“Os submarinos de ataque movidos a energia nuclear são considerados os mais poderosos da guerra naval”, disse Roggeveen, pesquisador do Instituto Lowy. O problema dos chineses é que “eles não têm submarinos movidos a energia nuclear o suficiente, e mesmo os que têm não são de alto padrão”, explicou ele.
LEIA MAIS: Como a indústria da China está causando um rombo na economia global
O Departamento de Defesa Americano acredita que a China continuará atualizando sua frota de submarinos, produzindo novas unidades a diesel para substituir as mais antigas e adicionando submarinos nucleares de próxima geração que consigam transportar mísseis balísticos de longo alcance. Em seu relatório de 2023, o Pentágono projetou que a China operaria 65 submarinos até 2025 e 80 até 2035.
Em termos de guerra submarina, a China “reconhece plenamente que esta é uma área em que tem falhas” e onde “deseja diminuir a diferença o mais rápido possível”, afirmou Collin Koh, membro sênior e especialista em segurança marítima da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam, em Singapura.
Para a China, os contratempos no desenvolvimento de submarinos são “parte integrante de uma curva de aprendizado muito íngreme”, disse Koh. “Esse tipo de acidente pode até obrigá-los a colocar mais ênfase no programa.”
Escreva para Chun Han Wong em [email protected]
traduzido do inglês por investnews