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Por que a prata está vivendo seu ‘ano dourado’

As propriedades únicas da prata — como metal precioso e commodity industrial — fazem dela um ativo atraente hoje

Por Jinjoo Lee The wall street Journal
Publicado em
5 min
traduzido do inglês por investnews

Nem tudo o que reluz é ouro — pode também ser prata.

O preço da commodity subiu cerca de 34% no acumulado do ano, superando o ouro, que continua batendo recordes. No acumulado do ano, cerca de US$ 856 milhões seguiram para o iShares Silver Trust, fundo negociado em bolsa que possui barras de prata, de acordo com a FactSet. A Wheaton Precious Metals, empresa que detém direitos de metais preciosos de minas, incluindo ouro e prata, subiu cerca de 30% no acumulado do ano.

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A demanda por prata está alta, tanto como reserva de valor quanto como mercadoria industrial. O Silver Institute, uma associação do setor, estima que a demanda por prata tem superado a oferta nos últimos três anos. E projeta outro déficit este ano. O Citi Research, que assume que a demanda do setor solar é ainda maior, calcula que o mercado está em déficit nos últimos cinco anos.

Por um lado, a produção nas minas é fraca. Mais de 70% da prata extraída é um subproduto de outros metais, como chumbo, zinco, cobre e ouro. O preço do zinco está baixo, levando ao fechamento de minas. No ano passado, uma grande mina no México — o maior fornecedor do mundo — não operou por quatro meses por causa de uma greve. Embora a reciclagem possa compensar parte desse déficit, ela normalmente representa menos de 20% da oferta total.

Ao mesmo tempo, a demanda de usos industriais vem crescendo, em grande parte graças à fabricação de painéis solares, onde a prata é essencial. Ao contrário do ouro, grande parte do suprimento de prata tem fins industriais. A demanda por prata pelo setor de energia solar saltou 158% de 2019 a 2023, de acordo com o Silver Institute. O grupo espera que a demanda cresça mais 20% este ano. 

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“A eletrificação do mundo está realmente dando uma ajuda para o crescimento da prata”, disse Michael DiRienzo, executivo-chefe do Silver Institute. A maioria dos usos industriais da prata não tem substitutos viáveis, acrescentou.

O mercado estaria mais ou menos equilibrado se não fosse pelo gosto dos investidores por moedas e barras de prata. A procura pela prata este ano foi impulsionada em parte por investidores que buscam metais preciosos como reserva de valor, dados os sinais de enfraquecimento da economia dos EUA, de acordo com Max Layton, chefe global de pesquisa de commodities do Citi Research. As expectativas de taxas mais baixas são outra razão: a demanda por ativos não remunerados tende a aumentar quando as taxas caem. O preço do ouro aumentou exatamente por essas razões, e o preço da prata está historicamente ligado ao ouro.

Cofre de prata operado pela Silver Bullion, em Singapura
Créditos: Ore Huiying/Bloomberg

Por enquanto, ainda há muita prata guardada em cofres para amortecer os déficits. Havia cerca de 15 meses de suprimento de prata extraída anualmente armazenada em Londres e em cofres registrados em bolsa no final de 2023, de acordo com um relatório do Silver Institute. Mas esses estoques diminuíram cerca de 26% nos últimos dois anos. O Silver Institute e o Citi Research esperam outro déficit de mercado em 2024, o que implica que os estoques de prata extraída podem cair ainda mais.

O que mais pode elevar o preço da prata? Vale a pena observar a China, onde Layton diz que a fraqueza dos setores imobiliário e de consumo está aumentando o apetite pela prata como reserva de valor, ao mesmo tempo em que o desenvolvimento agressivo de energia solar e veículos elétricos no país alimenta a demanda pelo metal como uma commodity industrial. Isso difere de commodities como o petróleo, que são afetadas negativamente pela chamada economia bifurcada da China, e outros metais, como o ouro, que desfrutam da demanda do varejo devido ao enfraquecimento dos preços dos imóveis, mas não tanto da transição para a energia limpa.

Vale notar que a China emitiu em agosto cotas de importação de ouro para vários bancos chineses, de acordo com um relatório da Reuters. Isso pode estar desviando o investimento do varejo para a prata, de acordo com um relatório do Citi, que observa que as importações de barras de prata do país — que mostra a demanda do varejo — passaram de quase nada para mais de US$ 100 milhões no início deste ano. Se a China passar a comprar prata em apenas 10% do ritmo que tem comprado ouro, isso pode levar a uma demanda que equivale a cerca de 20% da oferta de prata extraída, de acordo com o Citi.

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Outro catalisador que vale a pena observar é a trajetória do Fed. Se o banco central americano continuar cortando as taxas de juros, a demanda por ouro e prata poderá ser estimulada. Além disso, se as taxas de juros mais baixas incentivarem a atividade industrial nos EUA, especialmente em projetos solares, a demanda por prata tenderá a aumentar ainda mais. 

A prata permanece barata em comparação com o ouro: pelo preço de uma onça troy de ouro, o investidor consegue comprar cerca de 83 onças troy de prata. Isso é uma pechincha em comparação com as últimas duas décadas, quando essa proporção tinha uma média de 67. E embora a prata tenha subido este ano, seu preço está bem longe das máximas alcançadas em 1980 e 2011.

A prata parece pronta para brilhar mais um pouco. 

Escreva para Jinjoo Lee em [email protected]

traduzido do inglês por investnews