Relógio sem grife: por que alguns executivos financeiros amam Snoopy, Mickey e super heróis
O grande exibicionismo no pregão? Um Swatch do Snoopy. Ou uma calculadora Casio.
Como você vê as horas? Neal W. McDonough, o diretor responsável pela área de operações (COO – Chief Operating Officer) de uma startup de finanças e política na vizinhança de Ho-Ho-Kus, em Nova Jersey (EUA), olha para Charlie Brown, o adorável protagonista do desenho animado Snoopy (“Peanuts”). Uma ilustração do personagem ocupa o mostrador do relógio do executivo, os braços de Brown atuando como ponteiros dos minutos e das horas.
McDonough, de 55 anos, comprou o excêntrico Timex para uma viagem do Dia dos Namorados há cerca de cinco anos, junto com um modelo correspondente representando Lucy van Pelt (amiga mal-humorada de Brown no desenho) para sua então namorada. Ele mesmo se surpreendeu quando se deu conta de que continuou usando o acessório de US$ 150 após a viagem.
“Agora é meu relógio de negócios”, disse, acrescentando que um modelo nada luxuoso pode passar a ideia de que ele não tem obrigação nenhuma de ser chamativo. “Não tenho nada a provar a ninguém”, disse. “E o engraçado é que muitas pessoas reparam.”
Como se sabe, executivos de finanças costumam exibir um Rolex ou um Patek Philippe no punho. Mas uma subespécie de homens endinheirados bem estabelecida vai totalmente para o outro lado. No lugar de um elegante modelo de aço com mostrador de cerâmica? Mickey Mouse. Bob Esponja Calça Quadrada. Fanta laranja com pulseira de borracha.
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Ao longo dos anos, homens bem-sucedidos ganharam as manchetes por ostentarem Swatches (como, por exemplo, o CEO do Blackstone Group, Stephen A. Schwarzman, ou o ex-CEO do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein). Esse ethos de “cara rico, relógio barato” continua a ser visto em salas de reuniões e nos pregões com homens de todos os níveis de especialização – eles adotam modelos de plástico, com designs excêntricos, e personagens de super-heróis a calculadoras Casio.
Muitos desses relógios se assemelham a algo que você talvez ganhasse em uma máquina de pegar brinquedos. Com preços variando de US$ 30 a algumas centenas de dólares, eles são divertidos, além de apresentar um tipo diferente de exibicionismo, passando a ideia de “Eu não preciso de um Rolex” para transmitir sucesso. Chame-os de relógios antistatus.
Patrick Lyons, sócio-gerente de um family office em Nova York, alterna entre dois relógios contrastantes: um 1988 Santos, da Cartier, e um modelo Nickelodeon “Bob Esponja Calça Quadrada” com pulseira cor de laranja.
O Cartier, herança de família, mostra a sofisticação francesa; o acessório da Nickelodeon apresenta uma imagem gigante do Patrick, estrela do mar cor-de-rosa que vive sob uma rocha. Lyons, de 35 anos, gosta que o segundo relógio seja idiossincrático (e do fato de que o personagem compartilha seu nome). “Uso este com mais frequência que meu Cartier”, disse, acrescentando que espera passar os dois modelos para seus futuros filhos.
Leroy Dikito, de 42 anos, diretor executivo do JPMorgan Chase em Nova York, escolheu um relógio Avengers de US$ 450 da Citizen porque o faz lembrar de seu pai, que adorava histórias em quadrinhos. Embora a pulseira de aço inoxidável pareça urbana o suficiente, o mostrador alegremente berrante une imagens do Hulk, Homem de Ferro, Capitão América e outros super-heróis. Quando você trabalha em finanças, precisa ser “sério o tempo todo”, então um relógio divertido traz uma leveza bem-vinda, disse Dikito. “As pessoas precisam saber que há mais do que o trabalho e o título.”
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Como um terno não consegue transmitir tanta cor, o relógio oferece essa rara oportunidade de “mostrar sua personalidade”, disse Eli Tenenbaum, de 36 anos, diretor de desenvolvimento corporativo de uma empresa de private equity de Nova York. Além do mais, observou, “se você usa um relógio elegante, é provável que outra pessoa esteja usando o mesmo”.
Tenenbaum corre pouco risco de repetir o modelo de um colega quando ostenta seu acessório do Mickey Mouse ou do Snoopy, usados com ternos premium Brioni ou Zegna.
Evan Vladem, de 37 anos, considera seu relógio com calculadora Casio um elegante “quebra-gelo” em uma conversa, obrigação profissional para o sócio de uma consultoria financeira em Fort Lauderdale, na Flórida. “Foi útil em momentos embaraçosos”, disse ele sobre o modelo preto de US$ 30, um clássico da Casio.
Em um jantar com um parceiro de seguros há alguns anos, recorda Vladem, o papo acabou depois de uma conversa sobre a situação de um cliente que envolvia alguma aritmética financeira. “Arregacei minha manga e disse, com um sorriso: Ainda bem que estou com meu fiel relógio de calculadora para me ajudar aqui”, disse Vladem. “Nós dois rimos. [Isso] deu início a outra conversa.”
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Mesmo aqueles que investiram alto em relojoaria sofisticada parecem estar se apaixonando por designs baratos e kitsch. Scott Jay Kaplan, de 44 anos, produtor de cinema e executivo financeiro da empresa CoverStory, no Brooklyn, é dono de modelos caros da Rolex e da Audemars Piguet. Mas, para uso diário, dá preferência a um relógio grandão de US$ 25 que comprou na Argentina no ano passado, um modelo semelhante a um G-Shock, mas com uma marca desconhecida. Ele diz que o acessório recebe muitos elogios, e funciona surpreendentemente bem. “Comprei porque parecia bobo”, disse ele. “Não para me mostrar.”
McDonough, o fã de Charlie Brown, pede a qualquer pessoa que esteja considerando um relógio diferente que siga apenas uma regra: não pague caro. “Acho que essa ideia de marcas de relógios de luxo parecendo ‘kitsch’ é um pouco absurda”, disse ele. “Então, qualquer coisa acima de, digamos, US$ 500 fica de fora.”
(The Wall Street Journal não é compensado por varejistas mencionados em seus artigos como pontos de venda de produtos. Os varejistas citados frequentemente não são os únicos pontos de venda.)
traduzido do inglês por investnews