A preocupação dos sócios japoneses na disputa pelo controle da 7-Eleven: os bolinhos de arroz
Empresa canadense está oferecendo US$ 47 bilhões, mas alguns fãs da rede de lojas de conveniência japonesa questionam se a interessada entende os gostos locais
Em uma fábrica nos arredores de Tóquio, os trabalhadores preparam tigelas de frango e ovos, uma por uma, em pequenas panelas. Os ovos são de galinhas criadas com ração especial, de modo que a gema tem cor escura e mais sabor.
A receita bem guardada é preparada apenas para as lojas de conveniência 7-Eleven no Japão.
O futuro do prato de frango e de centenas de outros está ligado a uma batalha pela controladora da 7-Eleven em Tóquio, no que seria a maior aquisição de uma empresa japonesa por um comprador estrangeiro na história.
Executivos da controladora, que se chama Seven & i Holdings, estão resistindo à oferta de aquisição de US$ 47 bilhões feita nos Estados Unidos pela proprietária canadense das lojas de conveniência. Eles estão preocupados com o que poderia acontecer se a empresa estrangeira obtivesse o controle do modo distintamente japonês de operar lojas de conveniência.
Em uma carta de setembro rejeitando uma oferta inicial da Alimentation Couche-Tard, com sede em Quebec, o conselho da empresa japonesa apontou para “o papel crucial que a 7 & i desempenha no dia a dia do Japão no varejo de alimentos, bancos e outros serviços”.
O CEO Ryuichi Isaka, mesmo evitando críticas diretas à administração da empresa canadense, disse que sua equipe atual está melhor posicionada para garantir o crescimento global em torno da “comida de alta qualidade da marca 7-Eleven”.
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Nos EUA, a terra de origem da 7-Eleven, poucas pessoas costumam pensar em lojas de conveniência como um destino gastronômico. Mas a versão japonesa da 7-Eleven, após meio século de evolução, se tornou uma meca para o tipo de pessoa exigente em relação à consistência do bolinho de arroz ou à crocância do sanduíche de alface.
Neste país, isso é muita gente. Embora a Seven & i Holdings controle as operações da 7-Eleven em todo o mundo, incluindo os EUA, as 21 mil lojas no Japão são a joia da coroa da empresa, respondendo por mais da metade do lucro operacional (Ebitda) no primeiro semestre deste ano fiscal.
Os canadenses por trás da oferta pública de aquisição, que aumentaram o preço da oferta nas últimas semanas, dizem que não alterariam a qualidade. “Temos um grande respeito” pelo “excelente nível de excelência” das lojas japonesas, disse a Alimentation Couche-Tard, que administra lojas de conveniência em todo o mundo, incluindo suas lojas homônimas Couche-Tard (notívago, em francês), no Canadá.
As empresas estrangeiras, em geral, têm dificuldades nas aquisições do varejo japonês, encontrando forte concorrência e diferentes preferências do consumidor. O Walmart comprou o controle de uma rede de supermercados local chamada Seiyu no início dos anos 2000, mas desistiu em 2020, após anos de lutas para garantir o lucro. O varejista francês Carrefour deixou o Japão em 2005, depois de apenas quatro anos.
Em uma tarde recente, Chigusa Okazaki, funcionária de escritório de 51 anos, parou em uma loja 7-Eleven em Tóquio para um lanche. Ela mostrou seus pratos favoritos — o baumkuchen, bolo de origem alemã muito popular no Japão, e uma xícara de polvo e brócolis marinados em molho de manjericão.
“Minha impressão é que, com a qualidade da Seven, não há erro”, disse Okazaki. “Se for comprada, tenho a sensação de que pode mudar para pior.”
A comida da 7-Eleven ampliou sua já grande base de fãs durante os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021, quando os visitantes estrangeiros, impedidos pelas restrições da época da pandemia de experimentar os restaurantes mais requintados da cidade, descobriram que as ofertas das lojas de conveniência não eram substitutas tão ruins.
No Japão, centenas de tipos de alimentos são encontrados em um típico 7-Eleven, desde saladas e sanduíches até pratos de peixe, carne e frango. Suas principais concorrentes no país, a FamilyMart e a Lawson, geralmente têm ofertas semelhantes.
Alimentos e bebidas respondem por cerca de dois terços da receita das lojas 7-Eleven no Japão, de acordo com a empresa. A maior parte disso é feita exclusivamente para a 7-Eleven em 172 fábricas em todo o país e entregue até três vezes ao dia, com uma alta proporção de itens perecíveis que devem ser vendidos em um ou dois dias.
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Yuka Kobata, dona de casa de 47 anos, disse que muitas vezes recorre ao 7-Eleven quando não consegue preparar o jantar. Ela afirmou estar preocupada que executivos estrangeiros pudessem reduzir a oferta.
Kobata disse que seus filhos gostavam dos bolinhos de arroz da 7-Eleven porque o arroz é fofo. A empresa atribui isso em parte à sua técnica de moldar o arroz cozido no vapor em um triângulo com uma máquina especializada. Um mestre de arroz em Kyoto, o chefe da oitava geração da família de comerciantes de arroz Hashimoto, seleciona a mistura varietal que melhor se adapta aos bolinhos.
Quanto à salada de batata, a 7-Eleven acredita que a parte mais saborosa da batata está logo abaixo da casca, por isso trabalhou com um fabricante de máquinas para desenvolver um descascador que removesse a camada mais fina possível da pele. O dispositivo foi instalado em três fábricas que atendem o país todo — e nenhum outro lugar.
No Japão, a 7-Eleven “não está apenas no negócio de varejo”, disse o estrategista da Rakuten Securities, Masayuki Kubota. “É um sistema enorme que inclui desenvolvimento, produção e distribuição de produtos.”
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Seus fornecedores locais falam respeitosamente sobre a “Seven-san”. O frigorífico NH Foods, dono do time de beisebol que contava com Shohei Ohtani, faz um prato de carne moída vendido sob a marca 7-Eleven. A empresa diz que, nos últimos 15 anos, precisou desenvolver uma nova receita a cada ano, mesmo que o produto estivesse vendendo bem.
“A Seven-san diz que quanto mais delicioso um prato, mais você enjoa dele, então sempre evoluímos a cada ano”, explicou Toshihiro Yoshikane, da NH Foods.
Mesmo antes da oferta de compra canadense, a administração da 7-Eleven Japão estava começando a se aproximar dos limites dessas estratégias. A empresa teve que aumentar os preços para apoiar as receitas intrincadas que os fornecedores estão criando sob seu comando, e o ritmo das vendas nas lojas diminuiu.
“Eu não compro na Seven, porque é mais caro. Mas a qualidade pode ser melhor lá”, disse Ryo Yabumoto, estudante universitário.
Em resposta, a 7-Eleven anunciou recentemente uma linha de itens com preços mais baixos, que oferecem “valor agradável”.
Tanto a atual administração da controladora da 7-Eleven quanto os potenciais compradores dizem que querem trazer mais da estratégia da rede japonesa para os EUA. Algumas lojas da rede nos EUA oferecem agora bolinhos de arroz e outros alimentos de estilo japonês, como sanduíches feitos com pão fino e fofo.
A empresa enfrenta desafios para replicar a maneira como fabrica e transporta alimentos no Japão. Por exemplo, os EUA e muitos países exigem que os bolinhos de arroz sejam mantidos resfriados por razões de segurança alimentar, mas no Japão a 7-Eleven pode mantê-los a 20ºC da fábrica às prateleiras das lojas para garantir que o arroz não endureça e perca o sabor.
Escreva para Miho Inada em [email protected] e Megumi Fujikawa em [email protected]
traduzido do inglês por investnews