Crise da Volkswagen na Alemanha é alerta para os EUA sobre políticas climáticas
Empresa alemã sofre com custo alto de energia e com o forte estímulo europeu para a adoção de carros elétricos
Uma surpresa sobre as eleições de outubro nos EUA pode ter chegado esta semana – na Alemanha. A notícia de que a Volkswagen poderia fechar três fábricas de veículos, cortar dez mil empregos e impor fortes reduções salariais para todos os cargos é um alerta para os americanos sobre os riscos da política climática do presidente americano democrata Joe Biden e a vice, candidata à sucessão, Kamala Harris.
A notícia foi comunicada aos trabalhadores nesta segunda-feira (28) pelo chefe do conselho de relações trabalhistas da empresa, e dizer que este foi um choque para a maior economia da Europa é um eufemismo. O Grupo Volkswagen emprega cerca de 300 mil pessoas na Alemanha, com dez fábricas de sua principal marca. A companhia evitou demissões involuntárias por três décadas e não fechou nenhuma fábrica em seu país natal durante 87 anos de história.
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O setor automotivo é a espinha dorsal da economia industrial da Alemanha e, portanto, da Europa. A Volkswagen opera fábricas na maioria dos países europeus e é proprietária de marcas como a Seat, da Espanha, e a Skoda, da República Tcheca. Se algo está errado na VW, algo está seriamente errado na Alemanha e na Europa.
É previsível que os políticos estejam culpando a gerência, com alguma razão. A empresa ainda não se recuperou totalmente dos danos financeiros e à reputação causados pelo escândalo do dieselgate, quando a empresa foi flagrada instalando software nos carros para burlar os testes de emissões. Os altos custos trabalhistas incentivados por um sindicato agressivo em conjunto com o governo do estado da Baixa Saxônia, que detém 20% das ações com direito a voto, não ajudam.
Entretanto, uma parcela maior da culpa é dos políticos, especialmente por suas políticas climáticas. O setor automobilístico da Alemanha está refém dos preços mais altos da energia, que aumentam o custo de produção, e os mandatos de veículos elétricos, que reduzem as vendas. A VW está caindo sob pressão.
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Os preços da eletricidade para grandes usuários industriais na Alemanha estão bem acima da média da União Europeia, sem falar nos EUA, na China ou no Japão. Isso é, em grande parte, resultado da decisão de Berlim de evitar o carvão e a energia nuclear em favor de energias renováveis, que são mais caras e menos confiáveis. Os preços do gás natural estão em uma montanha-russa desde que a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 interrompeu o fornecimento de gás. A VW é a mais recente de muitas empresas a reduzir a produção na Alemanha para escapar desses custos.
Enquanto isso, a Europa continua sua marcha forçada em direção aos veículos elétricos. A UE exige que os veículos elétricos constituam uma parcela maior das vendas de carros a cada ano, com motores de combustão interna eliminados gradualmente até 2035. Isso está forçando empresas como a VW a desviar grandes somas de capital de investimento para a fabricação destes elétricos, apesar das vendas cronicamente fracas.
O mandato também expõe as empresas europeias à nova concorrência de empresas chinesas que podem fornecer automóveis mais baratos aos consumidores europeus que são forçados a comprá-los. Isso fez com que Bruxelas impusesse tarifas sobre os veículos elétricos chineses, ao que Berlim se opôs por medo de alimentar uma guerra comercial com Pequim. No entanto, as vendas da VW agora também estão vacilando na China.
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A Stellantis alertou que também pode reduzir a produção de carros para evitar entrar em conflito com a exigência de Bruxelas para os veículos elétricos, e a Ford está cortando vários milhares de empregos na Europa em sua mudança para os veículos elétricos. Tudo isso está acontecendo porque os políticos estão forçando as empresas a vender carros que os consumidores não querem.
As dificuldades da indústria automobilística da Europa são uma prova dolorosa de que a política climática de emissões líquidas zero é o pior ato de masoquismo econômico do Ocidente desde a década de 1930. Pelo menos a notícia chega a tempo de os americanos pensarem se querem continuar cometendo os mesmos erros que a Europa cometeu.
traduzido do inglês por investnews