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Os ‘pequenos pecados’ dos trabalhadores corporativos — e o que as empresas fazem para resolver

Empresas estão aplicando regras rigorosas para mostrar quem está no comando e no controle das despesas

Por Callum Borchers The wall street Journal
Publicado em
7 min
traduzido do inglês por investnews

Você já usou a impressora do escritório para imprimir a lição de casa do seu filho ou navegou pelo Marketplace do Facebook durante uma reunião do Zoom? Um aviso: seu empregador pode estar de olho.

Grandes empresas em busca de eficiência estão adotando um policiamento para pegar funcionários por infrações aparentemente pequenas que, pelas normas da companhia, poderiam resultar em demissão.

“Recebemos muitos pedidos para ampliar o controle”, diz Katie MacKillop, diretora da Payhawk nos EUA, que administra contas de cartão de crédito de empresas e monitora o uso indevido.

Os clientes estão pedindo que a Payhawk restrinja quando e onde os cartões podem ser usados. Por exemplo, uma empresa pode limitar a disponibilidade de pagamento de almoço apenas para dias de semana, das 11h às 14h, e para a rede de restaurantes Chipotle, mas não para supermercados. Em parceria com Visa e Mastercard, a Payhawk está desenvolvendo um recurso que envia alertas de gastos em tempo real para as equipes financeiras de corporações e permite que elas bloqueiem instantaneamente transações suspeitas dos funcionários.

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A empresa de MacKillop não rastreia o que acontece com os funcionários que violam as políticas da empresa, mas acredita que os empregadores estão levando os códigos de conduta mais a sério.

Isso ajuda a explicar relatos de repressão na Meta, onde funcionários foram demitidos por gastar US$ 25 destinados a refeições em outros itens; na Ernst & Young, que demitiu trabalhadores que assistiram a vários vídeos de treinamento ao mesmo tempo; e na rede Target, onde funcionários foram dispensados por furarem a fila para comprar as cobiçadas garrafas de água Stanley antes do público em geral. As empresas não quiseram comentar os incidentes.

Ilustração: Sam Kelly/WSJ, iStock

Na medida em que a disputa pelo poder de barganha entre empregador-empregado pende a favor das empresas, algumas delas estão usando a aplicação de regras rígidas para punir infratores de forma exemplar ou reduzir a folha de pagamento usando as demissões por justa causa. Um empregador que se arrependa da onda de contratações pós-pandemia pode usar o manual da empresa para demitir funcionários indesejados, diz a consultora de recursos humanos Suzanne Lucas.

“Quando havia uma necessidade extrema de contratação, você acabava ignorando certas coisas”, diz Lucas, que se autodenomina “a moça má do RH”. “Quando você precisa reduzir o número de funcionários, endurece as regras.”

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Os trabalhadores argumentam que muitas das chamadas regalias são projetadas para aumentar a produtividade. A refeição grátis é um incentivo para permanecer no escritório. Já um tutorial gravado procura evitar o constrangimento do treinamento presencial sobre assédio sexual, mas acaba sendo um convite para “se distrair”, pois permite que o funcionário assista a um vídeo em seu segundo monitor.

Por que inventar desculpas para demitir pessoas em vez de simplesmente anunciar uma rodada de demissões? Há algumas razões, diz Lucas.

Demissões sugerem que uma empresa está passando por dificuldades e ela pode querer evitar abalar a confiança de clientes ou investidores. Os empregadores muitas vezes se sentem obrigados — ou têm a obrigação contratual — a oferecer pacotes de indenização aos trabalhadores demitidos. Quando a demissão é por justa causa, pode haver uma economia de dinheiro, diz ela. 

Depois, há o efeito sobre os funcionários que permanecem na empresa. Poucas coisas deixam os trabalhadores tão em alerta do que ver colegas punidos por pequenas faltas. E, por uma questão de princípio, roubar é roubar, mesmo que seja pouco dinheiro ou tempo da empresa.

Tiro de advertência

Se um dos objetivos das duras consequências é manter o pessoal na linha, então a tática está funcionando com Matt Tedesco.

Quando ele leu uma reportagem do Financial Times dizendo que a Meta demitiu funcionários que gastaram subsídios do Grubhub em [um iFood dos EUA] coisas como cremes para acne e sabão em pó em um episódio apelidado de “Grubgate”, ele relembrou um episódio semelhante em uma empresa na qual trabalhou: meia dúzia de colegas de vendas foram demitidos porque usaram subsídios de almoços em compras de supermercado.

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Tedesco, de 47 anos, se descreve como um seguidor de regras em geral e diz que tem certeza de que seguirá tudo à risca no clima atual. Ele começou recentemente como executivo de contas de vendas na Hearst depois de ser demitido da S&P Global no ano passado. 

“Está difícil conseguir um emprego agora — levei meses”, diz ele. “Do ponto de vista do funcionário, minha conclusão é não abusar de nenhum privilégio porque o risco não vale a pena.”

Pessoas em uma variedade de setores admitiram em particular que quebraram regras como essas no passado, mas disseram que nunca admitiriam isso publicamente. Uma delas comparou o local de trabalho de hoje a uma rua com um limite de velocidade de 30 quilômetros por hora, onde você normalmente se safa dirigindo a 40 km/h e se surpreende quando é parado e multado. Os níveis de fiscalização flutuam, disse essa pessoa, e parecem estar altos no momento.

Reprimir é uma tática consagrada quando as empresas sentem pressão financeira. Em 2009, no auge da Grande Recessão, um ex-gerente de relacionamento com clientes privados da Fidelity disse ao jornal “Fort Worth Star-Telegram” que ele e três colegas perderam o emprego por administrar ligas de futebol de fantasia no trabalho, violando uma política corporativa contra jogos de azar. O valor de entrada da liga: US$ 20. A Fidelity havia demitido 1.700 funcionários no início daquele ano.

E em 2018, quando o Wells Fargo anunciou cortes significativos no número de funcionários, o banco demitiu ou suspendeu mais de uma dúzia de pessoas que colocaram jantares na conta da empresa e adulteraram os recibos. O banco disse à época que pagava as refeições quando os funcionários trabalhavam até tarde, mas alguns pediram comida antes da hora permitida e alteraram os carimbos de data/hora nas contas.

Sem conhecer todos os detalhes, pode ser difícil entender por que as empresas policiam pequenas quantias quando parecem gastar livremente em itens mais caros, diz Jennifer Dulski, CEO da Rising Team, fabricante de software de produtividade de funcionários. Ela observa que os escritórios da Meta são famosos pelas máquinas de venda automática abastecidas com fones de ouvido, teclados e outros eletrônicos disponíveis gratuitamente para os funcionários, mas a empresa está levando a sério o dinheiro do almoço.

“Eles estão cortando a gordura ou apenas tentando dar um exemplo de comportamento que consideram inadequado”, diz Dulski.

Os empregadores têm boas razões para serem exigentes em alguns casos, diz Cedar Boschan, contador forense em Culver City, na Califórnia. As empresas podem ter problemas fiscais se o dinheiro destinado a regalias e despesas comerciais for mal gasto em outras coisas.

Portanto, não coloque toda a culpa pela repressão nos recursos humanos. Guarde um pouco para o único departamento que o RH pode vencer em um concurso de popularidade: a contabilidade.

traduzido do inglês por investnews