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Oito lições aprendidas em 11 anos escrevendo sobre trabalho e vida

Às vezes, mudar de trabalho não é abandonar um caminho, mas encontrar um que te leve mais perto dos seus sonhos

Por Rachel Feintzeig The wall street Journal
Publicado em
7 min
traduzido do inglês por investnews

Passe 11 anos obcecada com o trabalho que você acaba aprendendo algumas dicas. 

Comecei a escrever sobre carreiras e liderança para o Wall Street Journal em 2013. Ir para o escritório era uma coisa que você fazia todos os dias. Os efeitos da recessão de 2008 ainda afetavam muito a vida corporativa. Calças jeans skinny estavam na moda, embora você provavelmente só pudesse usá-las no trabalho às sextas-feiras.

Eu tinha 28 anos e era recém-casada. Todas as manhãs, caminhava do meu minúsculo apartamento até a sede do jornal em Midtown, sentindo-me igualmente ansiosa e animada enquanto trocava o tênis pelo salto alto na minha mesa. Observei as mães que trabalhavam em minha nova divisão, que pareciam ter descoberto como equilibrar tudo. Eu me perguntava como as coisas seriam para mim. 

Centenas de histórias, quatro mudanças, dois filhos e uma promoção depois, estou partido para um novo desafio. Mas não sem antes dizer que é um privilégio passar meus dias assim: analisando pesquisas, sondando especialistas e conversando com centenas de trabalhadores que compartilhavam suas histórias comigo. Isso mudou minha vida. 

Eis aqui o que aprendi de melhor.

Consiga o que você quer

Você pode pedir quase tudo, ao que parece. Mas pode não conseguir. Porém, se fizer direito, não sairá machucado. Sempre tenha o que William Ury — coautor da bíblia de negociação “Getting to Yes” (disponível em português como “Chegando ao Sim: Negociando Acordos Sem Ceder”)  — chama de “BATNA: best alternative to a negotiated agreement”, ou a melhor alternativa para uma negociação. Em outras palavras, tenha um plano B sólido antes de pedir algo. 

Se a resposta for não, você vai sair, se concentrar em outro projeto ou arrumar um bico extra? Quão bom é o plano B em comparação com o que você está pedindo? Quanto mais atraente for a alternativa, mais poder você terá na negociação.

Pense criativamente. Você precisa de um aumento, ou precisa de um horário mais flexível ou de um ano sabático não remunerado? Não são exigências; você está iniciando uma conversa. 

E por falar em aumento…

Fale sobre seu salário com seus colegas. Pergunte quanto eles ganham. Sutilmente, com cuidado, com jeitinho. 

Claro, pode ser estranho, para não dizer arriscado. Você pode ouvir um não de cara. Mas essa ainda é a melhor arma que conheço para compreender os processos de pagamento corporativo e ganhar o que você merece. 

Seja esse cara

Os colegas que sempre invejei eram aqueles que projetaram uma confiança e uma leveza naturais e arrasavam em seus empregos. Eles provavelmente só responderão ao seu e-mail sem urgência amanhã. Estão ocupados fazendo as coisas que importam. Menos estressados, eles projetam um certo otimismo e fazem o trabalho parecer… divertido?

Eu acredito no trabalho duro, mas não acho que você chegará a algum lugar simplesmente trabalhando. É preciso se gabar, de si mesmo e dos outros. Teste alguns princípios de “produtividade lenta”, como alternar períodos de trabalho intensos com um tempo silencioso para recarregar as baterias. 

E livre-se da insegurança, a voz em sua cabeça que diz que você é uma farsa. As empresas funcionam com super-realizadores inseguros que priorizam o trabalho acima de tudo. Muitas vezes, isso acaba servindo apenas à empresa.

Os dias ruins

Eu gostaria que alguém tivesse me dito, na época em que eu estava sendo rejeitada no primeiro grande trabalho de jornalismo para o qual me candidatei, que o fracasso faz parte de ter uma carreira — uma carreira interessante, pelo menos. Mesmo os prodígios entre nós, as pessoas que encontraram o elevador que vai direto para o topo, falham às vezes. E elas seguem em frente. 

Se você percorre ordenadamente um caminho apenas ouvindo sim, provavelmente não está mirando alto o suficiente. Ou um acidente está para acontecer. Não há mais garantias na maioria dos setores. 

Abrace a vida

Talvez seja porque passei anos tentando desesperadamente ser uma mãe que trabalha, mas acho que ter duas coisas que você ama em sua vida é ótimo. 

“É como espalhar seus ovos existenciais de alguma forma”, disse-me Yael Schonbrun, psicóloga clínica, para uma coluna sobre conflitos entre vida profissional e pessoal. 

Não quero sugerir que equilibrar filhos e trabalho seja fácil, ou que não haja coisas que empresas e governos possam fazer para melhorar essa situação. Mas isso pode trazer perspectiva e profundidade para sua vida, diminuindo o desgaste em ambas. Uma reunião desastrosa no trabalho parece menos o fim do mundo quando você chega em casa e seu filho está sorridente — e uma criança gritando parece menos o fim do mundo quando você brilhou na reunião de trabalho. O mesmo vale para a dedicação a um hobby ou para a construção de relacionamentos pessoais de todos os tipos.

Nos meus dias mais estressantes de mãe trabalhadora, penso em um dos meus piores dias no trabalho, quando fiz uma matéria sobre creches no local de trabalho enquanto passava por um ciclo fracassado de fertilização in vitro. Eu queria muito me juntar às mães e pais que estava entrevistando, falando sobre as dificuldades para cuidar dos filhos e tudo mais. 

Finalmente tive minha chance, e foi uma dádiva. 

Volte com calma

Se você tirar uma licença parental, ou um ano sabático, ou mesmo longas férias, volte ao trabalho em uma quarta-feira. Você consegue enfrentar três dias. 

O quanto se abrir

Você deve trazer todo o seu eu para o trabalho? Provavelmente não. Mas, lamentei muito o ciclo de fertilização in vitro mencionado acima com os colegas. Se você tem colegas e chefes maravilhosos, compartilhar é bom. Se não, pense cuidadosamente antes de mencionar sua infertilidade ou questões de saúde mental. Ainda há preconceito em muitos locais de trabalho. 

Ao dar conselhos, tentava equilibrar o modo como gostaria que fossem os locais de trabalho com a realidade em que realmente vivemos. Muitas vezes penso em algo que Jeffrey Pfeffer, professor da escola de administração da Universidade de Stanford, me disse sobre ser assertiva no trabalho, especialmente se você for mulher ou uma pessoa não-branca. 

“Claro que você vai irritar as pessoas”, disse ele. Isso não significa que não valha a pena. Espero que os leitores ultrapassem barreiras quando puderem, para tornar as coisas melhores para todos nós. 

Quando dar um salto

Escrever uma coluna de conselhos me ensinou que muitas vezes não há uma resposta mágica, apenas maneiras melhores de pensar sobre um problema. Quando me ofereceram este emprego em junho de 2020, a cabeça girando com a combinação de uma criança de um ano, outra de dois anos e uma pandemia, quase recusei. 

“Diga-me o que fazer!”, implorei ao meu marido, à minha melhor amiga e a quem quisesse ouvir. Uma mentora foi muito útil. “Imagine seu emprego dos sonhos”, ela me disse. “Essa posição se aproxima ou se afasta dele?”

Me aproximava muito. Durante anos, escrever esta coluna foi um sonho que se tornou realidade. Mas metas não são estáticas. Agora sonho em escrever livros e estar mais presente para minha família. Estou animada e com medo de ter tido a chance de tentar. 

Seu sonho do momento pode ser um novo cargo, uma semana de trabalho de quatro dias ou uma pausa restauradora. E quando isso acontecer, me conta tudo. 

Escreva para Rachel Feintzeig em [email protected]

traduzido do inglês por investnews