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Quer fazer negócios no Vale do Silício? Melhor levar biquíni e sunga para a sauna

Em vez de bares e restaurantes, as saunas são o novo lugar para investidores e startupeiros socializarem e conseguirem financiamento

Por Angel Au-yeung The wall street Journal
Publicado em
6 min
traduzido do inglês por investnews

Quando dezenas de milhares de engenheiros de software, entusiastas de tecnologia e representantes comerciais foram a San Francisco para a megaconferência anual da Salesforce em setembro, o fundador da startup, Jari Salomaa, teve uma ideia: e se ele alugasse uma sauna?

Salomaa estava lançando sua startup Valo, uma ferramenta de inteligência artificial que ajuda os usuários na plataforma da Salesforce. Mas um movimento antiálcool que tomou conta da indústria de tecnologia está atrapalhando as reuniões de trabalho que giram em torno de comer ou beber. Isso levou Salomaa e outros a experimentarem as “saunas sociais”, onde o networking acontece dentro de uma sala fumegante. Em trajes de banho.

Pode ser necessário algum tempo para se acostumar com a experiência. Roupões, sungas e biquínis podem ser uma distração. Também há muito suor.

Porém, os investidores dizem que é revigorante ter um lugar que não seja um bar para se reunir, e que os negócios estão sendo feitos em todos os lugares, desde saunas improvisadas em um vinhedo de Napa até uma gigante para 80 pessoas em Nova York. 

Salomaa, de 46 anos, cresceu na Finlândia, onde a sauna faz parte da vida cotidiana. Em seu primeiro emprego para a Nokia, em Helsinque, havia saunas dentro dos escritórios.

“Há mais saunas do que carros na Finlândia”, disse. “Tantas saunas quanto banheiros.”

Ainda assim, ele se preocupava com a forma como os americanos reagiriam ao comparecer em trajes de banho para um evento corporativo. “Os escandinavos se sentem mais à vontade com sua imagem corporal do que o americano médio”, afirmou.

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Ele pensou em promover um evento para mulheres e outro para homens, mas o planejamento logo se complicou. No final, Salomaa decidiu por uma espécie de experimento social: uma reunião mista em San Francisco. Acabou com uma lista de espera de cem pessoas. 

Salomaa impôs uma etiqueta de sauna: trajes de banho são imprescindíveis e é preciso se manter hidratado. E começou o evento como qualquer outro, fazendo uma apresentação em PowerPoint para um público vestindo roupões de banho.  

Os participantes compartilharam imagens do evento nas redes sociais, e logo Salomaa estava recebendo ligações de amigos da indústria de tecnologia, perguntando como poderiam fazer um evento semelhante. Ele está ansioso para ajudar, mas mantém certa reserva sobre levar muito trabalho para dentro da sauna. 

“Se tudo for conversa sobre trabalho, isso meio que acaba com a vibe”, explicou ele.

Novas saunas sociais surgiram em San Francisco, em Nova York e no estado do Colorado este ano.

Elas são construídas com assentos tipo arquibancada para acomodar mais pessoas — geralmente em torno de 20 a 40 pessoas — e a conversa é frequentemente incentivada. 

Participantes durante uma aula de respiração na Othership, uma sauna na cidade de Nova York. Foto: Gabby Jones/WSJ

Na Othership — nova sauna inaugurada no distrito de Flatiron, em Nova York, em julho — até 90 pessoas podem compartilhar um abiente. Com iluminação que muda do vermelho quente ao rosa neon, o local parece mais uma boate do que um lugar de tranquilidade. 

O fundador Robbie Bent, de 40 anos, disse que os jovens fundadores do setor de tecnologia são grande parte de sua clientela. “Querem ser mais saudáveis, conhecer pessoas que pensam parecido e muitas vezes não querem ficar até tarde”, contou ele. 

A empresa organiza as “noites de fundadores”, além de eventos onde investidores e empresários se misturam. A Othership diz que empresas de tecnologia grandes e pequenas estão considerando oferecer os serviços de sauna como um benefício aos funcionários. 

E ela também se ofereceu para organizar “suadouros em grupo” complementares como exercícios de formação de equipe. Mas, de acordo com Bent, houve resistência de equipes de recursos humanos de empresas de tecnologia e de Wall Street. Colegas reunidos em trajes de banho não seria possível.

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Em resposta a essas críticas, Bent está projetando um “maiô corporativo” — basicamente um traje de corpo inteiro para as pessoas usarem na sauna.

Um banho frio seguiu o evento da sauna na Othership. Foto: Gabby Jones/WSJ

Will Drescher, de 29 anos, construiu uma sauna social em Boulder, no Colorado, depois de ir a uma em Minneapolis este ano. “Nem eu, nem meu cofundador bebemos”, disse Drescher. “E aí pensamos: por que não montamos uma dessas?” 

Eles construíram a Portal, uma opção mais “faça-você-mesmo” do que as saunas que estão surgindo em Nova York e San Francisco, explicou Drescher. 

“Queríamos unir o que está acontecendo nas costas Leste e Oeste com o que estamos vendo no centro do país”, disse Drescher. 

A investidora Helene Servillon, de 35 anos, propôs se reunir com os donos de uma empresa de tecnologia na Portal. 

A reunião durou uma hora, o que lhes permitiu entrar e sair da sauna por três sessões. Depois de saber mais sobre a startup, Servillon disse que planeja investir nela em breve.

“Os investidores de risco socializam muito. Se tivermos apenas duas opções — tomar uma bebida ou fazer uma refeição —, pode ser realmente exaustivo”, disse ela. Quando os fundadores ou investidores pedem para se encontrar para uma happy hour hoje em dia, ela costuma propor uma sauna ou uma caminhada.

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O investidor de fintech Sheel Mohnot, de 42 anos, co-organizou um evento em uma sauna em agosto em San Francisco e participou de um encontro para investidores em Napa, onde uma sauna móvel foi levada para o vinhedo. 

“A realidade é que sempre há chances de as pessoas se sentirem desconfortáveis, e mais pessoas estão se sentindo assim em relação à bebida”, disse Mohnot. “Nós simplesmente não tínhamos boas opções de sauna aqui antes.”

Nem todos os trabalhadores de tecnologia embarcaram na ideia. Laila Danielsen, executiva-chefe de uma empresa de software de IA, foi convidada para um evento em uma sauna em outubro. Ela gostou do evento e do ambiente para conversar, mas não entrou na sala quente.

“Não sei se eu necessariamente colocaria meu biquíni para falar sobre investimento de risco”, disse ela, que tem 55 anos. “Vou considerar encontrá-los na sauna depois de fecharmos o negócio.”

Escreva para Angel Au-yeung em [email protected]

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