Colunistas
Engenharia de logotipo: quando um mesmo projeto é vendido por marcas diferentes
Prática comum dentro da indústria automotiva ajuda empresas a economizarem tempo e especialmente custos.
O lançamento do Peugeot Partner Rapid surpreendeu muita gente pelo fato de o novo modelo ser nada mais do que um Fiat Fiorino com os logotipos da marca francesa. Só que nem todo mundo sabe que a prática está longe de ser uma invenção do grupo Stellantis. E mais: quase todas as montadoras já lançaram mão deste recurso em algum momento.
A razão é simples: em vez de gastar milhões para desenvolver um novo produto, as empresas estabelecem parcerias para economizar nos custos e entrarem em um segmento rapidamente, algo que não aconteceria caso precisassem partir do zero.
Dentro da indústria automotiva, a prática é conhecida informalmente como ‘badge engineering’, ou ‘engenharia de logotipo’, em livre tradução. O termo (que é um tanto pejorativo, diga-se) designa um mesmo projeto vendido por empresas parceiras.
Na maioria dos casos, uma montadora decide lançar o projeto apenas com uma das marcas, especialmente no caso de alianças e grandes grupos. É por isso, por exemplo, que a Renault nunca lançou a Alaskan no Brasil, uma vez que a picape foi desenvolvida com base na Nissan Frontier, que existe há anos no país.
Mesmo assim, não se trata de uma regra, tanto é que exemplos não faltam no setor, inclusive no Brasil.
Separados no nascimento
Dez anos atrás, a Fiat aproveitou os primeiros anos de FCA para desenvolver sua versão de um produto do grupo Chrysler. Assim nasceu o Freemont, um crossover com ares de SUV que tinha apenas alguns detalhes visuais diferentes em relação ao Dodge Journey. Para se diferenciarem ainda mais, o modelo da Fiat tinha um motor 2.4 16V, enquanto o produto norte-americano era importado apenas com o motor 3.6 V6 Pentastar.
Estratégia semelhante foi adotada pela Chevrolet no começo dos anos 2000. Àquela altura, a fabricante já tinha 20% das ações da Suzuki, que, por sua vez, fabricava o Grand Vitara na Argentina desde o final da década de 90. Em 2001, a GM decidiu lançar sua versão do SUV japonês.
O Tracker tinha um motor turbodiesel, enquanto o Vitara era comercializado por aqui apenas com motorização movida a gasolina. A vida do Tracker, porém, só deslancharia duas gerações depois, quando o modelo atual começou a ser produzido no Brasil em 2020.
O ‘Santana da Ford’
Porém, um dos casos mais famosos surgiu da controversa Autolatina. A joint venture foi formada entre Ford e Volkswagen em 1987 e foi muito além do compartilhamento de motores.
Assim surgiram modelos como o Volkswagen Apollo, que era uma versão com estilo mais esportivo do Ford Verona. A dupla Volkswagen Santana e Quantum deram origem aos Ford Versailles e Royale, sendo que a perua da Ford estreou apenas com a carroceria de duas portas para se afastar da irmã da VW.
O casamento durou até 1996 e teve um final conturbado. Pior para a Ford, que se divorciou de sua antiga parceira em situação mais desfavorável e nunca recuperou a participação de mercado que tinha antes de juntar forças com a Volkswagen, que seguiu na liderança de vendas por mais alguns anos antes de ser desbancada pela Fiat já nos anos 2000.
*Vitor Matsubara é jornalista automotivo e editor do Primeira Marcha. Tem passagens por Quatro Rodas, de 2008 a 2018, e UOL Carros, de 2018 a 2020. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
Veja também
- Marcas trocam carros de volume por modelos premium para lucrar mais
- Por que as picapes podem ‘roubar’ o protagonismo dos SUVs no Brasil?
- Jeep se rende à eletrificação e abre era híbrida com Compass
- C40 é arma da Volvo para manter vice-liderança premium em 2022
- Com vendas em baixa, Anfavea aposta em IPI menor para alavancar setor em 2022
- Maverick reencarna em picape para incrementar vendas da importadora Ford
- Novo Renault Kwid: carro ‘popular’ é rara novidade em segmento com dias contados