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Por que é tão difícil para a mulher se expressar no ambiente de trabalho?

Segundo pesquisa da Fin4She, 45% das trabalhadoras se sentem desvalorizadas. Como podemos nos abrir mais?

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Recentemente, a Fin4She fez uma pesquisa informal por meio de seus canais para descobrir como as mulheres se sentem em seus trabalhos pelo fato de serem mulheres. E o resultado foi preocupante: 45% das pesquisadas ainda se sentem desvalorizadas.

Muitas disseram se sentirem invisíveis e deixadas de fora de reuniões importantes. Porém, o sentimento mais comum é o fato de suas ideias não serem ouvidas, apesar de experiência e conhecimento. O resultado disso é que as mulheres começam a se calar e se questionar sobre permanecer ou não em seus respectivos trabalhos.

Uma executiva uma vez me contou que constantemente sentia que estava sendo silenciada. Pela sua perspectiva, parecia que “eles estavam se esforçando para me fazer sair”.

Nós precisamos falar sobre ambientes e pessoas que não nos oferecem uma segurança psicológica no universo corporativo. Amy Edmondson, professora da Harvard Business School, vem pesquisando e popularizou essa ideia desde que foi escrita pela primeira vez pelo psicólogo William Kahn em 1990.

Segundo Amy, quando os funcionários se sentem seguros, eles confiam que podem admitir erros, buscar feedback ou mesmo falhar sem consequências terríveis. Isso não só leva a um maior sucesso da equipe, mas pode salvar vidas em certos ambientes, como quando uma enfermeira desafia um médico em um momento crítico na unidade de terapia intensiva neonatal. E mesmo em ambientes de menor risco, as equipes com segurança psicológica têm uma chance maior de inovação, crescimento e expansão e melhor colaboração, confiança e inclusão.

Um estudo de dois anos do Google descobriu que se sentir seguro o suficiente para contribuir era a característica mais comum das equipes de alto desempenho. A própria natureza da inovação exige que os funcionários contribuam com ideias ainda indefinidas, assumam riscos ou proponham soluções que podem não ter dados para informá-los. E isso só pode acontecer em um ambiente no qual os funcionários se sintam seguros e protegidos.

Medo de falar

Mas, na maioria das vezes, são as mulheres, e especialmente as mulheres negras que não se sentem seguras em seus locais de trabalho. Há uma tendência muito grande de autocensura entre as minorias. Muitas se sentem psicologicamente inseguras a falar e contribuir com as suas ideias.

Segundo esse mesmo estudo do Google, as mulheres têm menos probabilidade do que os homens de falar sem dados concretos ou menos convicção de que estão definitivamente certas sobre o que vão dizer. Ou seja, elas têm medo de falar.

O fato de as mulheres não se sentirem seguras o suficiente para falar no ambiente de trabalho é um problema para todos. E quando falamos sobre gênero e raça a questão se torna ainda mais complexa. As mulheres negras enfrentam estereótipos raciais adicionais e, em muitos casos, se sentem pressionadas a se enquadrar em padrões de comportamento esperados pelo ambiente em que estão inseridas.

Os dois lados do home office

A nova realidade de trabalho remoto teve um impacto positivo e negativo sobre as mulheres. Enquanto 70% das mulheres trabalhadoras pensam que as mudanças provocadas pela pandemia do coronavírus lhes darão mais flexibilidade para controlar sua agenda, um relatório recente da Catalyst mostra que essa flexibilidade de trabalhar fora do escritório também pode prejudicar as chances das mulheres de se sentirem vistas e ouvidas no trabalho.

Segundo esse mesmo relatório, 45% das mulheres na liderança afirmaram ser mais difícil para elas falarem em reuniões virtuais. Não podemos esquecer que o mundo virtual reduziu a quantidade de interações sociais que as pessoas têm em geral e, quando nos distanciamos, as oportunidades de construir confiança e realmente se conectar são reduzidas.

Deixo aqui três reflexões para nos incentivar a falar mais:

  1. Confiança: é preciso desenvolver a confiança no potencial desde a infância e em todas as mulheres que estão a nossa volta. Precisamos combater preconceitos inconscientes e estender a mão com empatia para entender o que está acontecendo na vida de outras pessoas.
  2. Não se calar: a nossa primeira reação é internalizar e sentir sintomas da síndrome da impostora, como se não tivéssemos condições de falar ou contribuir naquele momento. Não podemos ignorar a situação. Precisamos aprender a falar e nos fazer ouvidas.
  3. Mais mulheres na liderança: as empresas precisam dobrar seus esforços para promover mais diversidade e inclusão. A pandemia é uma oportunidade perfeita para trazer essa pauta a mesa.

Eu acredito que nós, mulheres, temos um potencial incrível e muito a contribuir. Porém, não avançaremos em questões como essas se não trabalharmos por um ambiente com mais pertencimento.

*Co-fundadora do Fin4she, atualmente é responsável por liderar e implementar os projetos para promover o protagonismo das mulheres no mercado e a independência financeira feminina. É a idealizadora do Women in Finance Summit Brazil, com mais de 800 mulheres do mercado inscritas. Foi executiva da Franklin Templeton por 10 anos e trabalha no mercado financeiro desde 2006. É mãe do Tom e do Martin e através do Fin4she tem a missão de promover uma transformação na carreira e vida das mulheres, para que iniciativas como essa não precisem existir mais no futuro.

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