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Diversidade nas empresas deveria ir além de raça e gênero

Quando falamos de diversidade dentro das empresas, é preciso ampliar muito mais o nosso olhar.

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Não há mais dúvidas de que a diversidade e a inclusão no local de trabalho aumentam o engajamento, a capacidade de inovação e o desempenho das equipes e resultados. A maioria das pesquisas sobre os benefícios da diversidade sempre são mais focadas em raça e gênero, possivelmente por causa das gritantes desigualdades e gaps nessas áreas.

Porém, tenho aprendido que as pessoas com mais de 60 anos de idade também representam um segmento importante da população que enfrenta a discriminação no local de trabalho, principalmente as mulheres. Quando falamos de diversidade dentro das empresas, é preciso ampliar muito mais o nosso olhar.

Algumas histórias de grandes mulheres me fizeram refletir sobre isso, como a da nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala. Aos 66 anos de idade, ela é a primeira mulher e a primeira africana a assumir a diretoria geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), instituição que regula as ações comerciais entre 164 nações, incluindo o Brasil. Em sua trajetória, atuou durante 25 anos no Banco Mundial e foi três vezes ministra da Nigéria, tanto na pasta de Finanças quanto na de Negócios Estrangeiros.

Embora tenha sido naturalizada americana, Ngozi desembarcou no país em 1973, quando ainda tinha 18 anos, para estudar na Universidade de Harvard. Três anos depois, formou-se em Economia do Desenvolvimento e, em 1981, teve seu doutorado em economia regional e desenvolvimento pelo MIT. Foi a primeira mulher de seu país a comandar os ministérios das Finanças e das Relações Exteriores.

Ngozi me fez pensar: o que vem depois? Com muita resiliência, uma carreira acadêmica e profissional acima de todas as expectativas (e eu poderia escrever esse artigo todo somente sobre todas as suas conquistas e realizações), ela aos 66 anos está assumindo novos grandes desafios e mostrando para nós que, sim, o tempo não para.

Quanto maior a idade, maior o desemprego

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a quantidade de pessoas com idade acima de 60 anos chegue a 2 bilhões em 2050, representando um quinto da população mundial. No Brasil, a previsão é de que essa faixa etária some 31 milhões de pessoas no mesmo ano. E diante desse envelhecimento da população, o mercado de trabalho vai precisar se adequar e proporcionar um ambiente mais diverso, com várias gerações atuando em conjunto. E isso pode ser positivo, inclusive para os resultados das empresas.

Mas, infelizmente, esta não é a realidade. O desemprego entre os trabalhadores mais velhos tem superado os trabalhadores mais jovens e disparou durante a pandemia. Muitos estão se aposentando devido à perda de emprego ou a problemas de saúde, como aos relacionados ao Covid-19. Segundo dados do IBGE, a taxa de desemprego dos brasileiros com 50 anos ou mais superou 7% pela primeira vez em 2020. Do fim de 2019 até o fim de 2020, mais de 400 mil brasileiros nessa faixa etária entraram no desemprego, segundo dados oficiais.


O que as empresas perdem ao não incluir estas profissionais?

Capital intelectual e social, além de maturidade para os times. Algo que só a idade e experiência podem nos trazer. Outro ponto é os benefícios da diversidade de pensamento, esse é o verdadeiro impacto nos resultados e transformação. Há ainda estudos que mostram que os ambientes de trabalho com pessoas de várias faixas etárias, inclusive acima dos 60 anos, são mais criativos e inovadores. E isso reflete não apenas na criação de um espaço harmônico entre os colaboradores, mas também no aspecto financeiro, com mais produtividade.

Mas se há tantos benefícios, por que as pessoas mais velhas não têm sido consideradas? Existe uma questão importante, que é o preconceito geracional. Muitas vezes a possibilidade de ter pessoas mais velhas no time nem é considerada. E isso impacta diretamente na forma com esses profissionais se recolocam ou ascendem em suas carreiras.

Como podemos ampliar nosso olhar?

É necessário compreender que não paramos de aprender e nos desenvolver à medida que envelhecemos.

No início de março deste ano, a professora Yvonne Mascarenhas, com 90 anos de idade, da USP de São Carlos, foi a primeira mulher a ganhar o prêmio da Sociedade Brasileira de Física. Yvonne foi também a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo e ajudou a fundar o Instituto de Física e Química. Em 1959, recebeu uma bolsa de estudos e trabalhou na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Ao longo de sua trajetória, atuou em instituições de prestígio como Harvard, Princeton e Birkbeck College e participou do grupo responsável pelo desenvolvimento do banco de dados cristalográficos de Cambridge

Yvonne é, não somente um ícone da Ciência Brasileira, mas um motivo de grande orgulho para todas nós, mulheres. A nossa idade não deveria nos definir, assim como o nosso gênero, a nossa raça, a nossa condição, entre tantos outros atributos. Precisamos ampliar o nosso olhar e entender as diversas capacidades e experiências que as pessoas têm a oferecer. Se todos fossemos iguais, com histórias e vivências parecidas, o que agregaríamos uns aos outros?

Em uma cultura “jovem-cêntrica” como a nossa, na qual os mais jovens são exaltados e os mais velhos são esquecidos, é preciso repensar urgentemente os valores que nos levam a esse comportamento.

Afinal, a beleza – e o sucesso – está exatamente nas diferenças.

*Co-fundadora do Fin4she, atualmente é responsável por liderar e implementar os projetos para promover o protagonismo das mulheres no mercado e a independência financeira feminina. É a idealizadora do Women in Finance Summit Brazil, com mais de 800 mulheres do mercado inscritas. Foi executiva da Franklin Templeton por 10 anos e trabalha no mercado financeiro desde 2006. É mãe do Tom e do Martin e através do Fin4she tem a missão de promover uma transformação na carreira e vida das mulheres, para que iniciativas como essa não precisem existir mais no futuro.

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