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Quando a superstição move as bolsas?
Experiência anterior das pessoas influencia suas decisões no mercado; entenda.
É a maldição de todo investidor enxergar esquemas e repetições onde não há. Como humanos, afinal de contas, nascemos para buscar padrões, mesmo inexistentes. Por isso, é provável que muitas vezes a tentativa de prever o futuro de um papel se apoie mais na base do desejo do que de probabilidades reais. Aquilo que parecia palpável era mera crença pessoal.
É o que faz da superstição uma das forças poderosas que dirigem qualquer mercado financeiro e que frequentemente é responsável por momentos de alta volatilidade, segundo um estudo da economista Jessica Wachter, professora de Finanças na Escola de Negócios da Wharton College, nos Estados Unidos, e de Hongye Guo, hoje seu aluno de doutorado.
Intitulado “Investidores supersticiosos”, na tradução, o trabalho, publicado pelo Social Science Research Network (SSRN), repositório de estudos acadêmicos, enfrentou o desafio que sempre complicou pesquisadores que buscam a relação entre crendices irracionais e seu resultado em bolsa: como saber o quanto a superstição pesou em determinada decisão de investimento?
Revisando 90 anos de dados sobre o mercado financeiro, de 1927 a 2017, demonstra como superstições colaboram com a volatilidade. Por exemplo, a maior queda da história do Dow Jones foi na “segunda-feira negra” em 19 de outubro de 1987, quando o índice da Bolsa de Nova York recuou 22,5%. Na segunda seguinte, houve outra queda forte, explicada, segundo os economistas, simplesmente por ser o mesmo dia da queda anterior. Por se tratar do primeiro dia da semana, o medo de repetir a “segunda-feira negra” era imenso, levando a um pregão negativo.
Outra superstição apontada no trabalho é a crença de que as bolsas sobem sempre em determinado mês do ano, como dezembro, e caem em outros, como outubro. Sexta-feira 13? Algumas pessoas nem abrem o home broker, certas de que será dia de queda. Afinal, os mais supersticiosos juram que é assim nos mercados.
Também é lembrado que a experiência anterior das pessoas influencia suas decisões no mercado. Investidores traumatizados com prejuízos passados tendem a fazer negócios achando que a bolsa vai cair. Já quem tem uma memória positiva de investimento faz o contrário, mostrando um otimismo capaz de ignorar se o momento é de baixa. São os maiores candidatos a vender seus papéis na queda, reforçando a volatilidade.
No entanto, o principal fator citado no estudo é a ideia de que dividendos atingem os mesmos valores com regularidade. Por exemplo, se as ações da Petrobras (PETR3, PETR4) pagarem mesmo 27% em 2022, como se especula, tendem a atrair investidores na crença de que farão o mesmo nos próximos, retornando o valor investido em quatro anos só com a participação nos lucros.
Mas dividendos neste patamar são raros. Só para citar alguns fatores, o preço do petróleo pode cair devido a alguma descoberta de novas reservas ou algum grande produtor, como Venezuela ou Irã, pode voltar ao mercado. Fala-se também que o pico de consumo da commodity está perto, com a promessa de que a demanda irá recuar a partir de então, assim como os lucros das empresas e os dividendos distribuídos aos acionistas.
Não quer dizer que a estatal não vá continuar pagando bons dividendos ou mesmo replicando os atuais rendimentos. Mas que a decisão de investir nela esperando 27% de remuneração todos os anos é uma estratégia pouco racional, baseada na crença de que as condições atuais de mercado são eternas. Ou seja, em uma superstição.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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