Colunistas

Rali do Papai Noel: por que as bolsas costumam subir em dezembro?

Definições da PEC da Transição e dos juros nos Estados Unidos podem influenciar a bolsa de valores brasileira neste ano.

Publicado

em

Tempo médio de leitura: 4 min

É quase metade de dezembro, momento em que as conversas sobre um rali de final de ano, ou “rali do Papai Noel”, como é conhecido nos Estados Unidos, estão em alta.

Em 28 anos, desde 1994, ano do Plano Real, o Ibovespa subiu em 21 vezes em dezembro. Apenas sete vezes o índice terminou negativo no último mês do ano. A estatística sustenta a expectativa do mercado de que mais uma vez, em 2022, ocorrerá a famosa alta das últimas semanas de dezembro, se estendendo para o começo de janeiro.

É claro, os eventos de momento seguem importantes. Este ano, um rali depende fundamentalmente de dois fatores. Nos Estados Unidos, que os juros comecem a subir em um ritmo mais moderado do que o 0,75 ponto percentual decidido nas últimas reuniões do Federal Reserve (Fed), a partir desta quarta-feira, quando será anunciada a nova taxa. Por aqui, que a PEC da Transição, agora na Câmara, e os os novos nomes para comandar a economia não assustem demais o mercado.

Ambos os casos remetem a cenários concretos. Juros subindo menos significam menor risco de recessão na economia americana enquanto o Fed, como o Banco Central (BC) americano é chamado, lida com a maior inflação no país em 40 anos. Já no Brasil, uma equipe econômica menos propensa a aumentar os gastos públicos diminuiria o temor de que os gastos do governo venham a fazer o BC elevar os juros.

Mas a tese do rali de fim de ano tem a história a seu favor. Todos os anos, as bolsas sobem no mês de dezembro, tanto aqui como nos Estados Unidos, em 75% das vezes. No mercado americano, dezembro é o terceiro mês mais positivo e desde 1950, o “rali do Papai Noel” acrescenta a cada ano 1,3%, em média, ao índice S&P, segundo uma série de levantamentos do mercado. A semana entre o Natal e o Ano Novo é responsável por 0,7% desta alta.

Alguns fatores explicam. Um é o efeito-calendário. É bem documentado que o mercado reage de maneira mais positiva a algumas datas e dias da semana. Há, por exemplo, o efeito sexta-feira, com maiores vendas neste dia da semana em alguns mercados. Com as festas de final de ano, o mercado também fica esvaziado. A baixa liquidez facilita movimentos mais fortes de alta.

Há ainda gestores que aproveitam dezembro para melhorar o desempenho dos fundos no ano, o que pode levar a compras de ações para ganhos de curto prazo, ou reduzir o prejuízo com papéis que não foram tão bem como o esperado.

E investidores, como qualquer grupo humano, tendem a ser mais otimistas com o futuro. Investidores ficam mais vulneráveis ao que cientistas comportamentais chamam de viés do otimismo, mais atentos aos aspectos positivos de um papel do que aos fatores negativos.
Estar mais otimista aumenta a propensão ao risco, tornando mais fácil a decisão de investir em determinados papéis.

Um dado curioso é que, nos Estados Unidos, os ralis de fim de ano são ainda mais fortes depois de eleições de meio do mandato presidencial, como este ano. Não importa quem vença, o Partido Democrata ou Republicano, as bolsas sobem mais forte igual. Um curioso – e aparentemente apartidário – aspecto da psicologia dos investidores.

Papai Noel/Dinheiro. Fonte: Freepik.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

Veja também

Mais Vistos