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Coluna do Samy

Efeito-Senado: a estranha relação entre os índices e investimentos de políticos

Pesquisa revela que ações se valorizam quando figuras públicas do governo as adquirem.

Nos Estados Unidos, a legislação obriga que deputados e senadores tornem públicos em até 45 dias seus investimentos em ações. Uma norma em nome da transparência que eleva as garantias que os representantes da população no Congresso não ganham dinheiro com as informações sobre regulações e outros temas que afetam mercados e empresas, às quais têm acesso devido à atuação parlamentar.

É uma lei interessante sobre como tornar as informações dos agentes públicos mais abertas. Mas o curioso é que deu origem a uma estratégia de investimento que comprova o quanto algumas pessoas, não importa a transparência envolvida, desconfiam dos políticos.

Sempre que um senador americano compra ações, os papéis acabam se valorizando acima da média do mercado, aponta o trabalho, de autoria de quatro pesquisadores e professores dos Estados Unidos e publicado no Strategic Management Journal.

Mirzokhidjon Abdurakhmonov, Roary E. Snider, Jason W. Ridge, da Universidade do Arkansas, e Dinseh Hasija, da Universidade de Alberta, partem da crença popular, captada em vários estudos anteriores, em que pelo menos parte da classe política não é lá muito ética. Premissa que alguns investidores levam tão a sério que seguem a carteira de investimentos dos congressistas. 

O raciocínio: se tem acesso privilegiado à informação que afeta determinada empresa, alguns senadores podem querer se aproveitar e lucrar investindo nas empresas beneficiadas. O que leva este grupo de desconfiados a comprar os mesmos papéis.

Examinando 4,3 mil compras de papéis realizadas por senadores entre 2012 e 2020, os pesquisadores notaram que o efeito é uma leve alta das ações, de 0,18%, acima da média do mercado depois de seis a 12 meses. No caso de senadores que atuam na área de empresas das quais se tornam acionistas, o ganho é um pouco maior: 0,5%.

Parece pouco, mas, considerando o valor médio das empresas, de US$ 100 bilhões, significa um acréscimo de US$ 180 milhões a US$ 500 milhões. Só que o ganho é praticamente irrelevante para uma estratégia de investimento e, de acordo com o estudo, fica na média de outros eventos de pouca importância no mercado.

Como diz um de seus autores, trata-se de um fenômeno em que a percepção dos investidores é mais importante do que a realidade – de que os investimentos dos senadores não indicam nenhum tipo de desonestidade. Mas que leva o mercado a reagir positivamente, ainda que de maneira marginal.

O estudo é o primeiro a relacionar o efeito no mercado financeiro das compras por congressistas americanos. Fenômeno que demonstra as idiossincrasias de investidores e que, pelo pequeno impacto, deve passar mais para a lista de curiosidades sobre bolsas do que ser levado a sério como estratégia para obter retornos melhores.

Economista Samy Dana
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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