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4 elementos que diferenciam uma startup de um negócio comum
Muitos novos negócios se lançam como startups, sob o renome de fintechs, edtechs, agtechs, energístico, healthtechs, foodtechs, legalísticos, imobtechs e até sextechs.
A definição mais utilizada para startups seduz aqueles que sonham ser grandes rapidamente, a partir do investimento direto de terceiros, mas não explica ou diferencia uma startup de um negócio comum. Startups são modelos de negócios novos e escaláveis, possibilitados pelas novas tecnologias da informação e comunicação.
Mas o que define um negócio escalável? Negócios escaláveis são aqueles que conseguem alcançar níveis crescentes de produção, sem incorrer em custos desproporcionalmente maiores ou perda de eficiência. Ou seja, além de expandir suas operações, a empresa consegue aumentar sua margem de lucro.
A busca pela economia de escala não é um conceito novo ou um objetivo exclusivo de uma startup, mas um desejo previsível e comum a maioria dos empreendedores.
A introdução de novas tecnologias não é garantia de escala, aumento de produtividade mais elevação das margens, algo que também pode ser alcançado pela padronização e qualificação, dos fluxos administrativos e operacionais
Sobre novas tecnologias
Tecnologia e inovação são atribuições normalmente confundidas. Com o propósito de ganhar um valor adicional pelo suposto ineditismo, muitos novos negócios se lançam como startups, sob o renome de fintechs, edtechs, agtechs, energístico, healthtechs, foodtechs, legalísticos, imobtechs e até sextechs.
Na era digital, a prospecção de novas tecnologias não é exclusividade e não diferencia uma startup de outro modelo de negócio. A tecnologia passou a ser uma commodity ou uma rotina para os negócios, em busca de competitividade.
Para diferenciar uma startup, de outros modelos de negócios, novos ou aparentemente novos, deve ser observado um conjunto de elementos:
1 – Inovação
As startups inovam resolvendo problemas do consumidor ou da sociedade que não estão sendo atendidos pelo mercado ou pelas instituições. Constroem algo novo ou melhoraram o que já existe, desenvolvem soluções para uma lacuna do mercado, resolvendo problemas objetivos de uma categoria de consumidor ou de um grupo de consumidores.
Exemplo: uma das demandas do mercado é a ampliação do acesso e a redução do custo de crédito para pessoas e pequenas empresas, normalmente preteridos pelos grandes bancos. As fintechs são modelos de negócio que realizam operações de crédito exclusivamente por plataformas digitais. Algumas delas viabilizaram operações de crédito entre pessoas, conectando investidores e tomadores de crédito.
2 – Lucro
Por tratar-se de algo novo, a solução proposta deverá passar por um longo período de validação. Com isso, pode levar meses ou até anos para uma startup ganhar os primeiros centavos e gerar lucro.
Exemplo: A Amazon (AMZO34), criada para vender livros online em 1994, reportou o seu primeiro lucro em 2003, 9 anos após ser fundada e 7 anos da abertura de capital, graças à dispensa de seu pessoal e ao fechamento de alguns centros de distribuição.
A Tesla (TSLA34) foi incorporada em junho de 2003 com o propósito de criar o primeiro carro esportivo elétrico do mundo. Em 2009, a montadora fundada por Elon Musk recebeu um empréstimo de US$ 465 milhões do Departamento de Energia dos Estados Unidos e abriu o capital em 2010. O primeiro trimestre positivo veio apenas em 2013, graças a redução dos custos de produção.
3 – Tecnologia
As startups não se diferenciam pelo uso das novas tecnologias, mas pela forma como são utilizadas. As novas tecnologias aplicadas por uma startup são a base solução construída, além de determinante da viabilidade operacional e financeira.
Exemplo: a MedRoom utiliza a software de realidade virtual para simular o corpo humano em condições sadias e patológicas, permitindo que os estudantes treinem consultas e procedimentos cirúrgicos em condições semelhantes à realidade.
4 – Financiamento
Startups requerem investimentos privados antes que consigam obter lucro. O desenvolvimento de novas soluções é normalmente patrocinado por capital a fundo perdido, advindo de incentivadores ou por capital de risco, disposto adquirir alguma participação acionária, sob a expectativa de ganhos futuros.
Ciclos de Financiamentos das Startups:
- Pré Seed – Capital Próprio ou de Incentivadores Particulares.
- Seed – Crowdfundings, Investidores Anjo e Programas de Incentivos.
- Série A,B – Aceleradoras e Venture Capital.
- Série C,D – Private Equities e Hedge Funds.
- IPO – Oferta Pública Inicial.
Conforme pesquisa da Distrito Dataminder, das 1.066 startups que obtiveram captações nos estágios pré-Seed e seed, entre os anos de 2011 e 2020, apenas 281 conseguiram passar pelo primeiro gap e atingir o estágio de Series A, o que representa um corte de aproximadamente 75%.
*Claudia Kodja, mentora da Liga dos Empreendedores da FGV, membro da Copenhagen Institute for Futures Studies e gestora executiva da Kodja Escola de Negócios. |