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Com alta da Selic, Brasil tem maior taxa de juros real do mundo; veja ranking

Levantamento da Infinity Asset mostra ainda que o Brasil é uma das poucas economias a ter taxa de juro real positiva.

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O Brasil tem a maior taxa de juros real num ranking com 40 países. Com a alta de 1,5 ponto percentual da taxa Selic promovida nesta quarta-feira (27) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, descontando a inflação prevista para os próximos 12 meses, a taxa real de juros no país passa a ser de 5,96% ao ano. A Selic foi para 7,75% ao ano.

Veja abaixo o ranking das taxas de juros reais pelo mundo:

PaísJuros reais (taxa atual descontada inflação projetada para 12 meses)
Brasil5,96
Rússia4,77
Turquia3,46
Colômbia2,78
México2,08
Indonésia0,56
Chile0,46
República Checa0,47
China0,2
Malásia0,17
África do Sul-0,05
Índia-0,23
Japão-0,51
Coreia do Sul-0,59
Tailândia-0,76
Hungria-0,77
Filipinas-1,02
Cingapura-1,07
Suíça-1,26
Nova Zelândia-1,42
Grécia-1,52
Israel-1,55
Dinamarca-1,6
Suécia-1,63
Portugal-1,67
Hong Kong-1,66
Austrália-1,68
Reino Unido-1,86
Itália-1,96
Espanha-2,15
Holanda-2,2
Canadá-2,2
França-2,25
Polônia-2,28
Bélgica-2,3
Áustria-2,34
Alemanha-2,44
Taiwan-3,35
Estados Unidos-4,82
Argentina-11,31

O levantamento foi feito pela Infinity Asset. “A ‘surpresa’ do ranking não é exatamente nenhuma surpresa, em vista à pressão nos juros exercida pelo mercado”, comentou em nota o economista-chefe da instituição, Jason Vieira.

Os juros têm sido pressionados nos últimos dias em meio ao aumento dos receios em relação ao cenário fiscal. Com o governo aumentando as despesas e ameaçando o teto de gastos, o mercado acaba cobrando mais juros para emprestar dinheiro. Além disso, a inflação ainda acima do esperado também é outro fator de pressão para os juros.

Taxa Selic nominal foi a 7,75%; taxa de juros real foi a 5,96%.

Comparação com outros países

O levantamento da Infinity Asset mostra ainda que o Brasil é uma das poucas economias a ter taxa de juro real positiva, enquanto a maioria dos países ainda tem inflação maior que a taxa de juro nominal.

“Continua a pressão da inflação global, a qual se acelerou na maioria das medidas, dadas as ainda contínuas pressões e choques de oferta ao atacado e aceleração de demanda, em vista ao processo de reabertura de diversas localidades, convertendo a maioria das taxas em terreno negativo”, disse a Infinity em comunicado.

Repercussão

Sede do Banco Central em Brasília 25/08/2021 REUTERS/Amanda Perobelli

A alta da Selic era amplamente esperada pelo mercado, que tinha dúvidas apenas em relação à intensidade do aumento. Segundo André Perfeito, economista-chefe da Necton, as projeções do mercado antes da decisão já deixavam claro um “cenário difícil”, com economistas se dividindo entre expectativa de alta de 100, 125 e 150 pontos. “Não me lembro de outro momento que houvesse tanta dispersão nas projeções para um Copom no dia da sua última reunião”.

“Os desafios na mesa do Copom eram grandes, afinal caberia à Autoridade Monetária tentar equilibrar sobre a taxa todos os dilemas econômicos atuais (inflação persistente, fiscal desorganizado, atividade fraca etc). Provavelmente irá conseguir acalmar o mercado com tal decisão”, disse perfeito.

João Beck, economista e sócio da BRA, também destaca que “essa foi a reunião com maior dispersão de opiniões do mercado dos últimos anos”. “De toda forma, a própria decisão da diretoria foi unânime, o que mostra comprometimento técnico e a independência de que o Banco Central vai seguir a cartilha e não se deixar influenciar pelo governo”, diz o economista, destacando também que “o BC sinalizou mais uma alta de mesma magnitude“.

Samuel Cunha, economista e sócio da H3 Invest, também aponta que a decisão deve tranquilizar o mercado. “Era esperado um aumento superior em relação ao que a gente vinha tendo até então, para passar a mensagem para o mercado de que isso (a alta da inflação) está sendo monitorado. Um aumento dessa magnitude era bem importante para passar essa tranquilidade para o mercado.” 

Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos, levanta o contraponto de que “parte do mercado vai ficar bem desagradada, vai entender que não foi uma alta suficiente para responder à deterioração da parte fiscal que ocorreu recentemente e também das pressões inflacionárias que têm se mostrado cada vez mais duradouras, persistentes e com pouco sinal de que vão se estabilizar”. 

Alexandre Lohmann, economista da Constância Investimentos, diz que o Copom adotou uma postura “cautelosa“, pois “o mercado, no início da semana, se a gente olhar a curva de juros, estava pedindo uma alta maior”. “O cenário piorou bastante, mas o Banco Central ainda ficou com um pé atrás”, diz. 

Já William Carnevalle, coordenador de riscos da Ouro Preto Investimentos, disse que a alta de 1,5 ponto percentual foi acima do esperado pela gestora. A partir de agora, ele acredita que “vai ter uma subida acima do esperado realmente para tentar frear a escalonada da inflação”. 

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