Economia
Inércia e commodities levaram a inflação a estourar meta em 2022, diz BC
Instituição ressalta que vários fatores diminuíram a pressão do indicador, como a redução na tributação sobre combustíveis e energia.
A inércia da inflação que veio de 2021 e a elevação dos preços de commodities (em especial do petróleo) em 2022 influenciou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a ter resultados acima do esperado no acumulado do ano passado, de acordo com carta divulgada pelo Banco Central (BC) na noite desta terça-feira (10).
Em 2022, o IPCA registrou alta acumulada de 5,79%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE). Esse número ficou acima do centro da meta de 3,5% do BC, estourando também o teto de 5% (considerando a margem de tolerância de 1,5 ponto percentual).
Quando há o descumprimento do estabelecido, o BC é obrigado a justificar em carta ao governo federal. Esse é o segundo ano seguido de estouro da meta e é a sétima carta desde a criação do sistema de metas para a inflação, em 1999.
Na carta, o BC também apontou outras razões para a alta da inflação no ano passado, entre elas:
- Desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos nas cadeias produtivas globais;
- Choques em preços de alimentação, resultantes de questões climáticas;
- Retomada na demanda de serviços e no emprego, impulsionada pelo acentuado declínio da quantidade de casos de covid-19 e consequente aumento da mobilidade.
O BC ainda apontou que a elevação significativa da inflação em 2021 e 2022 para níveis superiores às metas foi um fenômeno global que atingiu a maioria dos países emergentes.
Apesar da alta, o texto ressalta que vários fatores diminuíram a pressão da inflação, como:
- A redução na tributação sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações;
- O comportamento da bandeira de energia elétrica, que passou de escassez hídrica para bandeira verde;
- A apreciação cambial (ou seja, alta do real frente ao dólar).
Análises
Para Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, apesar da alta da inflação acima da meta, os resultados foram positivos porque o BC se antecipou, frente às outras economias, na subida de juros. Do ponto de vista dele, nem o economista mais otimista imaginava a inflação nesses patamares, esperava-se que o cenário fosse pior.
Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, menciona que “o que levou o IPCA a fechar o ano acima do teto da meta não se deve apenas a fatores locais. Muitos fatores externos contribuíram para isso”.
Entre eles, a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, que fez com que os preços de energia ficassem pressionados – o que também impactou o petróleo e, consequentemente, o preço dos combustíveis; a política de covid zero da China; e estímulos oferecidos por diversas economias para lidar com a doença.
Comportamento da inflação
Nos últimos cinco anos, essa foi a segunda maior alta do indicador, ficando atrás apenas do avanço de 10,06% em 2021, ano marcado por fortes impactos da covid.
Veja o desempenho ano a ano:
Em 2022, os meses com as maiores altas do IPCA foram abril, maio e junho.
Veja o desempenho mês a mês.
O que esperar do IPCA em 2023
Para este ano, o centro da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão do Governo Federal, é de 3,25%.
Mas a previsão do mercado é de que a meta, novamente, não será cumprida. O Boletim Focus divulgado pelo BC nesta segunda-feira (9) apontou para uma alta para o índice até o fim do ano, para 5,36%. Uma semana antes, a projeção era de 5,31%.
Na carta divulgada nesta noite, o BC pontuou que continuará ajustando a Selic, taxa básica de juros, a fim de cumprir as metas para a inflação estabelecida pelo CMN, “embora não de forma integral, em virtude das diferenças temporais entre os impactos dos choques, de prazo mais curto, e os efeitos da política monetária, mais concentrados no médio prazo”.
Projeções condicionais do BC são de que a inflação prossiga a trajetória de queda ao longo de 2023, terminando o ano em patamar inferior ao de 2022.
Porém, a instituição acrescentou que as suas projeções apontam para inflação de 5% em 2023, 3% em 2024 e 2,8% em 2025, ante metas para a inflação de 3,25%, 3% e 3%, respectivamente. Ou seja, o cenário é de convergência da inflação para as suas metas.
“Nesse cenário, em 2023, a inflação ainda se mantém superior à meta, em virtude principalmente da hipótese do retorno da tributação federal sobre combustíveis nesse ano e dos efeitos inerciais da inflação de 2022″, ainda justificou o texto.
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