Economia
Como os números de emprego dos EUA mexem com os seus investimentos
O Payroll trouxe uma péssima notícia para quem espera por juros mais baixos, mas boa para os fundos DI. Entenda
Está no noticiário todo. O Payroll, relatório mais importante sobre o nível de emprego nos EUA, apontou a criação de 303 mil vagas em março. É o maior patamar desde janeiro de 2023 – e muito acima das previsões. O consenso apurado pela Bloomberg era de 214 mil; o da Reuters, 200 mil. Mas o que isso significa para a sua vida financeira?
Não é pouco. Por obra do Payroll, a taxa do IPCA+2035, o mais popular entre os títulos de inflação do Tesouro Direto, foi a 5,91%, depois de ter fechado a 5,85% ontem. A do IPCA+2045, a 5,98%, de 5,92%. São as maiores taxas do ano, de longe.
Juro mais alto significa título mais barato. Se você tem dinheiro em IPCA+2035, então, perdeu 0,58% nesta sexta. Em IPCA+2045, 1,14%. Tombos dignos de renda variável.
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Por outro lado, as taxas maiores que a renda fixa passa a oferecer torna esses papéis mais atraentes para quem ainda não tem na carteira – ou deseja turbiná-la com papéis de rendimento mais robusto. E aí mais gente sai da renda variável para a RF. Sintoma disso: o Ibovespa caiu 0,50%.
O Payroll também mostrou uma diminuição na taxa de desemprego, de 3,9% para 3,8%. Tudo isso é bom para os cidadãos americanos, mas ruim para o mercado financeiro, que aguarda impacientemente pelo início dos cortes nos juros por lá.
A questão é a seguinte. Uma economia forte nos EUA deixa o Fed mais tranquilo para manter a taxa atual – que está há longos 8 meses em 5,50%, maior patamar desde 2001. Juros, afinal, combatem a inflação deixando um efeito colateral: a possibilidade de recessão.
Quando um banco central entende que sua política de juros pode levar a economia para o buraco, acende-se a luz vermelha. Os responsáveis pela política monetária pensarão seriamente em reduzir as taxas. Caso o façam, os juros menores vão ajudar no caixa das empresas e diminuir a atratividade da renda fixa. Bom para a bolsa.
Mas o que está acontecendo agora é o exato oposto. Com a economia indo a todo vapor, a chance de corte nos juros para os próximos meses diminui. Até ontem, por exemplo, 34,2% do mercado estava no time dos mais pessimistas, os que não esperam cortes neste semestre. Agora, com os números do Payroll, essa proporção subiu para 38,7% (os dados são da pesquisa diária FedWatch).
O preço do dinheiro
Os juros básicos da economia são o preço do dinheiro. Grosso modo, é o tanto que o banco central cobra para emprestar aos bancos. Com o dinheiro mais caro, o governo precisa pagar mais para rolar suas dívidas, via títulos públicos. É por isso que as taxas dos títulos vão para cima quando os juros básicos sobem.
Com a perspectiva de juros lá no alto por mais tempo, então, o mais rendimento dos Treasuries de 10 anos (prefixados de prazo médio, os mais populares por lá) subiu nove pontos base, de 4,31% para 4,40% – a maior taxa do ano.
O rendimento maior dos títulos públicos americanos aumenta a demanda por dólar, já que, por óbvio, você precisa da moeda americana para investir neles. Ou seja: juros mais altos lá fora deixam o dólar mais caro.
Com o dólar mais caro, o real desvaloriza. O banco central daqui, então, fica sem manga para estender os cortes nos seus juros – porque se fizer isso de forma irresponsável a cotação do dólar entra em órbita.
Se os juros americanos permanecerem nas alturas por mais tempo, então, diminui a possibilidade de cortes mais profundos nos juros brasileiros – a Selic pode até fechar o ano acima dos 9% que o Focus projeta neste momento.
É assim que a taxa de empregos nos EUA afeta os seus investimentos.
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De qualquer forma, esse é um copo que também tem seu lado meio cheio. O rendimento dos fundos DI tende a se manter num patamar alto por mais tempo. Bom para as reservas de emergência – a fatia dos seus investimentos que fica dormindo em fundos simples, que só acompanham a Selic.
Plot Twist
Mas o mercado sempre traz suas surpresas. Enquanto os juros da renda fixa subiram forte e, por aqui, o Ibovespa respondeu a isso fechando no vermelho, nas bolsas americanas a história foi outra, com o S&P 500 fechando o dia em saudáveis 1,11%.
Ou seja: os dados bons sobre a economia americana encorajaram investidores lá fora, mesmo com a chance de grandes cortes nos juros minguando. A ver se o entusiasmo se mantém.
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