Economia
Copom sobe Selic em 1 ponto percentual, para 12,75% ao ano, e indica nova alta
Decisão já era esperada pelo mercado; em comunicado, BC sinalizou aumento menor na próxima reunião.
O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou nesta quarta-feira (4) sua decisão, por unanimidade, de elevar a Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, em 1 ponto percentual. Com isso, os juros foram para 12,75% ao ano. No comunicado, o comitê sinalizou uma nova alta para a próxima reunião, mas de menor magnitude.
O Copom apontou que “o ambiente externo seguiu se deteriorando”, citando que “pressões inflacionárias decorrentes da pandemia se intensificaram com problemas de oferta advindos da nova onda de covid-19 na China e da guerra na Ucrânia“.
Além disso, o Comitê citou a alta dos juros em países de economia avançadas, que devem impactar emergentes como o Brasil. Nesta quarta, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, elevou a taxa de juros no país em 0,5 ponto percentual (o maior avanço desde 2000), para a faixa entre 0,75% e 1% ao ano.
A decisão desta quarta era amplamente esperada pelo mercado, já que o Copom havia sinalizado o aumento no comunicado anterior, em março. A elevação da taxa de juros vem em meio a surpresas negativas com a inflação, que têm levado diversos especialistas a ajustarem suas projeções para 2022.
Em março, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 1,62% – acima das expectativas de 1,3% do mercado e o maior patamar para o mês desde 1994. Com isso, o indicador atingiu 11,3% em 12 meses, mais de três vezes a meta do governo para o ano.
No comunicado divulgado nesta quarta, o BC confirmou que “a inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente”, embora os indicadores da atividade econômica estejam mostrando um “crescimento em linha com o que era esperado”.
Próximos passos
No comunicado, o BC disse que, “para a próxima reunião, o Comitê antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude”. Na reunião de março, o Copom havia sinalizado o fim do ciclo de alta nesta reunião de maio – o que, portanto, não deve se concretizar.
Ao contrário do comunicado anterior, o texto divulgado nesta quarta não sinaliza quando deve ser finalizado o ciclo de alta dos juros. “O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista.”
O BC ainda reafirmou seu compromisso de controlar a inflação. “O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”
Repercussão
André Perfeito, economista-chefe da Necton, disse que “a decisão do Copom veio em linha com o esperado”, e que a sinalização de uma elevação menor na próxima reunião “sugere que o cenário de mais uma alta de 50 pontos base (0,5 ponto percentual) se mantém”. Ele projeta que a Selic chegue a 13,25%.
Entre os destaques do comunicado, Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, aponta que uma “alteração significativa é a mudança do horizonte relevante de política monetária, com o Copom reconhecendo que a inflação de 2023 passará a preponderar nas próximas decisões”.
“Acreditamos que a alta recente das commodities e a dissipação de seus efeitos secundários levarão o Copom a realizar mais uma alta de 0,50% na reunião de junho e finalizar o ciclo, com a taxa Selic terminando em 13,25%, onde deve permanecer até o fim de 2022”, disse Borsoi.
O analista de Renda Fixa da Suno Research, Vinicius Romano, destacou que “o BC deixa claro que seu principal objetivo é consolidar não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas de inflação”.
Também destacando esse ponto, Paloma Brum, analista de investimentos da Toro, apontou que a decisão desta quarta “tende a manter as expectativas de inflação no Brasil bem ancoradas a longo prazo”. “Também avalio como positiva a visão trazida no comunicado de provável continuidade do ciclo de alta da Selic na próxima reunião (…), justamente visando a ancoragem das expectativas, dados os riscos sob avaliação.”