Economia
Copom mantém Selic em 13,75%, em comunicado considerado ‘duro’
No comunicado, BC fala em ‘cautela e parcimônia’; especialistas seguem prevendo cortes nas próximas reuniões.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou nesta quarta-feira (21) que manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela sétima vez seguida, em linha com a expectativa da maior parte do mercado. Especialistas consideraram o comunicado “duro”, mas ainda assim seguem prevendo queda dos juros nos próximos meses.
No comunicado, divulgado em um momento em que boa parte do mercado precifica corte dos juros já na próxima reunião, o Copom diz que “a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia.”
O Copom voltou a reforçar que “conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”. O comunicado também destacou que o objetivo é consolidar “não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
“O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”
comunicado do Copom.
Repercussão
O economista André Perfeito avalia que o Copom não aliviou em nada o tom das últimas reuniões e que ainda enfatizou que não basta inflação corrente em queda, mas expectativas ancoradas. Ainda assim, ele mantém sua perspectiva de corte de juros na próxima reunião com uma afrouxamento inicial de 0,5 ponto percentual, levado a Selic a a 11,75% ao final do ano.
“Me parece que o BC está prisioneiro da sua retórica e arma para si uma situação difícil de desatar. Praticamente abandonou o protagonismo da decisão dos juros para deixar em stand by aos desígnios das projeções, projeções essas de mercado que tem errado de maneira significativa desde o início do ano.“
André Perfeito, economista.
Para a Órama Investimentos, a linguagem mais suave não se efetivou explicitamente, a não ser pela retirada do temido alerta “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste”, que vinha encerrando os comunicados anteriores. A instituição prevê uma redução de 0,25 ponto percentual no encontro de agosto, ou, no mais tardar, de 0,5 ponto em setembro, e ainda estima que a taxa encerre o ano em 12,25%.
Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, diz que o comunicado do Copom trouxe elementos mais duros do que a expectativa, “mas o tom geral foi no sentido de abrir espaço para flexibilização nas próximas reuniões”. “Esperamos que as condições permitam, ao fim, um corte de 0,25% em agosto”, diz.
“A comunicação é compatível com flexibilização em agosto, mas o BC optou por assegurar graus de liberdade e não se comprometeu com queda de juros iminente”.
Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital
Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez, acredita que o comunicado “abriu a porta para o ciclo de cortes com 0,25 ponto percentual” ao falar em cautela e parcimônia, sendo que “os dados irão apontar se será na reunião de agosto ou setembro”. “O Banco Central parece estar olhando mais pra reunião de setembro, enquanto o mercado parece estar mais convicto com a próxima reunião de agosto”, diz.
Já Francis Silva, CFO Mycon, comenta que “a decisão do Copom de manutenção não deve mudar o humor dos mercados, que já precificaram isto desde a última reunião.”
Ele avalia que a manutenção reforça mais uma vez o papel autônomo do BC, “o que é muito importante para economias maduras, sendo diligente com as metas de inflação”. Considerando o cenário da inflação, o “Copom tem o seu ponto de não abaixar a guarda no momento de recomposição da inflação em patamares adequados à meta”, acrescenta Silva.
Já Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, diz que o que chama a atenção no comunicado é não haver sinalização corte de juros na próxima reunião, o que vai contra o que o mercado esperava e revela o tom hawkish. “Todavia, na minha visão, o cenário atual está melhor que o esperado e isso deve se materializar em corte em algum momento no ano de 2023”, pontua.
Inflação no Brasil
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, acumula alta de 3,94% nos últimos 12 meses até maio, contra 4,18% registrados no mês anterior, de acordo com divulgação mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
À vista disso, observa-se que o indicador se aproxima cada vez mais da meta determinada pelo BC, que é de 3,25% em 2023. A inflação também já caiu para o seu intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, na faixa de 1,75% a 4,75%.
Para 2024, a meta de inflação é de 3%, também com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, na faixa de 1,50% a 4,50%.
Veja também
- Com a explosão dos juros, títulos IPCA+ tombam até 31% no ano
- Banco Central confirma expectativa e sobe Selic para 11,25% ao ano
- Endividamento do governo cria oportunidades na renda fixa; títulos privados já pagam IPCA+9%
- Alta dos juros pode reverter a recuperação do setor bancário
- Banco Central retoma alta de juros e Selic sobe para 10,75% ao ano