Economia

Em dez anos, PIB só surpreendeu positivamente o mercado em um

Levantamento compara previsões do Boletim Focus com os resultados.

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Nos últimos 10 anos, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) só surpreendeu positivamente o mercado em uma ocasião: 2017. Em todos os outros anos, a economia brasileira teve desempenho pior do que as previsões de economistas e analistas.

É o que aponta um levantamento feito pelo InvestNews com a primeira edição de cada ano do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central semanalmente com as previsões de mais de 100 economistas para diversos indicadores.

De 2011 a 2020, a maior decepção foi o último ano. Com a pandemia da covid-19, a previsão do mercado de crescimento de 2,3% do começo de janeiro deu lugar a uma queda de 4,1%, segundo divulgou na quarta-feira (3) o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).

Antes da pandemia, a previsão que havia ficado mais distante da realidade foi a de 2015. Em meio à crise econômica iniciada no final do ano anterior, economistas e analistas esperavam que a atividade registrasse um crescimento fraco, de 0,5%. O que se materializou, no entanto, foi uma despencada de 3,5%, em uma recessão que perdurou pelo ano seguinte.

Os dados indicam que um otimismo inicial sobre a economia costuma ser a marca do mercado brasileiro. É o que comenta o economista Marcelo Cambria, professor da Fecap. “De fato, essa percepção é verdade. Se nós olharmos os últimos 20 anos, a estimativa de variação do PIB no início do ano versus a realizada no final certamente vai mostrar projeções muito mais otimistas do que o realizado”, confirma.

Entre os fatores que explicam essa tendência, Cambria cita que, em grande parte, isso acontece “porque as projeções são baseadas no orçamento e nos números do governo”. “Eu percebo, na média, mais otimismo do Banco Central e dos números do governo”, opina o economista.

Para montar suas projeções, os analistas consideram também as tendências da economia, últimos comportamentos do PIB e resultados pregressos das variáveis mais importantes que o compõem.

No entanto, apesar desses indicadores objetivos, também entram na conta das projeções os critérios particulares de cada analista ou economista. “Reguladores têm feito inclusive rankings de quem mais tem acertado”, comenta Cambria. “Cada um pode projetar um número com base em seus critérios. Não é futurologia ou bola de cristal.”

Inflação, juros e câmbio

Se o mercado costuma ser predominantemente otimista ao fazer projeções para o PIB, o mesmo se pode dizer das previsões para a inflação e o câmbio. Nos últimos 10 anos, o dólar ficou acima do esperado pelo mercado em 8.

O ano em que a previsão ficou mais distante foi 2020, com o impacto da covid-19 sobre o mercado de câmbio. O mercado estimava em janeiro que o dólar fosse terminar o ano em R$ 4,09. Mas o valor final foi de R$ 5,19, considerando o dólar Ptax (taxa média calculada pelo Banco Central).

Antes disso, a previsão mais distante, assim como no PIB, também havia sido registrada em 2015. Naquele ano, o dólar encerrou cotado a R$ 3,90, contra R$ 2,80 esperado pelo mercado no começo do ano.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, também costuma surpreender o mercado para cima. Nos últimos 10 anos, a inflação ficou acima do esperado em 7.

Mas, ao contrário dos outros indicadores, o maior furo nas previsões para o IPCA não foi registrado no ano da pandemia, e sim em 2015. O mercado esperava que a inflação terminasse aquele ano em 6,56%, mas a taxa ficou em 10,67%.

a taxa Selic costuma encerrar o ano abaixo do esperado pelo mercado, segundo o levantamento. Nos últimos 10 anos, isso aconteceu em 7. A maior distância entre a previsão e a realidade foi em 2017, quando a taxa básica de juros terminou o ano em 7% – abaixo dos 10,25% esperado pelos economistas e analistas.

“Tentando interpretar as condições, nessa busca por ser o mais assertivo possível, a gente vê essa gama grande de projeções, poucos se aproximando do realizado e pouquíssimos acertando”, resume Cambria.

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