O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil fechou 2020 com uma queda de 4,1%, a maior em 20 anos, de acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Foi o pior recuo anual desde o começo da série histórica, em 1996.
Considerando o 4º trimestre do ano, no entanto, o PIB teve crescimento de 3,2% em na comparação com o 3º. A variação representa uma desaceleração em relação ao avanço de 7,7%, indicando que a recuperação da economia perdeu força nos últimos três meses de 2020. Na comparação com o mesmo período de 2019, houve queda de 1,1%.
De qualquer forma, os resultados trimestrais vieram acima da expectativa do mercado. Pesquisa da Reuters com economistas indicava expectativa de alta de 2,8% na comparação trimestral e queda de1,6% na anual.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos, e serve para medir a atividade econômica do país.
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Segundo a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, os impactos da pandemia da covid-19 seguiram afetando a economia mesmo depois da flexibilização das medidas de isolamento social. “Muitas pessoas permaneceram receosas de consumir, principalmente os serviços que podem provocar aglomeração”, afirma.
Quem perdeu mais
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Com os efeitos da pandemia, a indústria e o setor de serviços (que, somados, representam 95% da composição do PIB) sofreram em 2020. O recuo dos dois setores foi de 3,5% e 4,5% no ano, respectivamente.
Do setor de serviços, a maior perda foi para as atividades que incluem restaurantes, academias e hotéis, com tombo de 12,1%. A segunda maior perda foi a de 9,2% dos transportes, armazenagem e correio, especialmente por causa da baixa no segmento de transporte de passageiros.
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Na indústria, o pior desempenho foi da construção, que encolheu 7% no ano. Já a indústria de transformação teve perda de 4,3%, puxada pelo recuo na fabricação de veículos automotores, outros equipamentos de transporte, confecção de vestuário e metalurgia. Na outra ponta, o aumento na produção de petróleo e gás puxou uma alta de 1,3% da indústria extrativa, compensando a redução da extração do minério de ferro.
Apesar do desempenho negativo no ano para o setor de serviços e da indústria, o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, chama a atenção para a os números do quarto trimestre, “puxando um crescimento”. Segundo o IBGE, a alta trimestral foi de 2,7% dos serviços e de 1,9% da indústria, puxando a alta da economia nos últimos três meses do ano.
O economista João Beck, da BRA, comenta que, “no quarto trimestre, o crescimento do consumo das famílias e da indústria ainda se apoia por resultado do auxílio emergencial, mas também por alguma retomada leve e gradual na economia, além de uma ajuda do dólar mais alto”.
Agro vai bem
No lado positivo, a agropecuária teve crescimento de 2%, reduzindo as perdas da economia, mas não o suficiente para reverter o encolhimento na média geral do ano. A alta do setor setor foi impulsionada pela soja e pelo café, que alcançaram produções recordes na série histórica do IBGE.
“Os números fechados de 2020 deixam evidente o desempenho do setor agro, ajudado pela sustentação dos preços e pelo dólar mais forte. Isso contribuiu para que o tombo do PIB não fosse maior”, avalia Beck.
Considerando apenas o quarto trimestre, no entanto, o setor registrou queda de 0,5%.
Consumo das famílias tem queda recorde
O consumo das famílias, que tem forte peso na economia, teve o pior desempenho já registrado pelo IBGE na série histórica. A queda foi de 5,5%.
Outro recuo recorde foi dos gastos do governo, que caíram 4,7%. Segundo Rebeca Palis, do IBGE, esse resultado foi influenciado por fatores como o fechamento de escolas, universidades, museus e parques ao longo do ano.
Já os investimentos, monitorados pelo IBGE como “Formação Bruta de Capital Fixo”, voltaram a cair depois de 2 anos de recuperação. O recuo foi de 0,8%. Mas Vieira aponta que esse resultado dos investimentos é uma “indicação interessante” sobre o desempenho da economia. Isso porque, apesar de o número não ter surpreendido, “uma queda assim num cenário pandêmico poderia ter sido substancialmente pior”, comenta o economista.
Ainda do lado da demanda, as importações e exportações tiveram queda de 10% e 1,8%, respectivamente.