Economia
Mansueto: Se não fizer ‘tolice’, Brasil tem chance de bons anos de avanço
Para o economista e ex-secretário do Tesouro Nacional, reformas dos últimos anos no país favorecem o cenário.
O economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, avalia que o Brasil está muito melhor do que se pensa. Para ele, a perspectiva se justifica pelo crescimento que o país está apresentando, o que pode ser reflexo das reformas dos últimos anos no país.
Durante o painel “Perspectivas econômicas 2024 e impactos para o Brasil”, no Congresso Internacional Planejar 2023, realizado em São Paulo nesta terça-feira (10), o economista apontou que o Brasil está crescendo mais, o que traz melhora da dinâmica da dívida.
“Levantamos a hipótese de que, talvez, todas as reformas dos últimos anos tenham melhorado a perspectiva de crescimento da economia”, disse Mansueto.
O economista destacou ainda que o Brasil fez reformas nos últimos 5 a 6 anos em um ritmo melhor que o esperado, como a aprovação da reforma trabalhista em 2017, do teto gastos em 2016, mudou projeto de infraestrutura, fez privatizações, mudanças em marco regulatório e independência do Banco Central.
“Quando se vê todas essas reformas que o país fez, houve progresso do mercados financeiro, desenvolvimento mercado de capitais. O Brasil está protegido de governo ruim, vamos ter que tomar as medidas corretas e aprovar reformas, mas as feitas nos últimos anos já receberam reconhecimento de agências de riscos. Se a gente não fizer tolice, eu acho que a gente tem chance de ter bons anos de crescimento.
Mansueto almeida, economista.
No final de julho, a agência de classificação de risco Fitch elevou a nota de crédito de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil a “BB”, contra “BB-” antes, com perspectiva estável. Essas classificações indicam se o país tem condições de pagar suas dívidas aos credores.
O rating do Brasil havia sido rebaixado em 2018, com a crise nas contas públicas e demora na aprovação da reforma da Previdência durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).
Fiscal e política econômica
Durante o painel, o economista destacou que o cenário fiscal brasileiro não está resolvido, pois não se sabe como os números prometidos pelo governo serão entregues. Mas, segundo Mansueto, “pelo menos como olhamos o feito no Brasil, nos dá esperança, tem muita coisa para acontecer. Se fizer o dever de casa, que será difícil, pois o gasto público é muito grande, a economia melhora”.
O economista disse ainda acreditar que não haverá mudanças radicais de políticas econômicas.
“Não acredito que teremos mudança radical de política econômica. Todas as reformas do Brasil nos últimos anos estão trazendo resultados e estamos num ritmo de crescimento de 1,5% para 2024, que não é ruim, pois juros estarão altos, será crescimento mais espalhado. O cenário do Brasil não está ruim. Se a gente começar a fazer tolice, coloca tudo por água abaixo”, afirmou Mansueto.
Últimos números
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil avançou 1,9% no primeiro trimestre de 2023 na comparação com os três meses anteriores, acima das expectativas. O resultado foi puxado pela disparada de 21,6% na agropecuária, que tem peso de aproximadamente 8% da economia do país.
Já no segundo trimestre deste ano, a economia do pais avançou 0,9% na comparação com os três meses anteriores, também acima das projeções do mercado. O desempenho positivo do segundo trimestre foi puxado pelo bom desempenho da indústria (0,9%) e dos serviços (0,6%), setor que responde por cerca de 70% da economia do país.
Reforma tributária
Comentando sobre a reforma tributária brasileira, Mansueto Almeida avaliou que o país está no melhor momento para aprová-la.
“Vamos ter que ver o que vai sair do Senado, mas, hoje, temos uma demanda, uma boa vontade de tentar reduzir a complexidade do sistema tributário. A carga tributária não vai cair, mas o sistema tributário não pode ser complexo”, disse Mansueto.
No início de agosto, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária chegou ao Senado, após ser aprovada em dois turnos na Câmara dos Deputados no final de julho. Agora, ainda precisa ser votada em dois turnos no plenário do Senado, depois de passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
O relator da reforma tributária no Senado, o líder do MDB Eduardo Braga (AM), adiou mais uma vez a apresentação de seu parecer, que estava estimada para o próximo dia 24 à CCJ da Casa. Dessa forma, a votação deve ocorrer no dia 7 de novembro.
A previsão de votação em plenário na primeira quinzena de novembro está mantida.
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