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Economia

PIB do Brasil cresce 1,9% no 1º trimestre, com avanço da agropecuária

Dados divulgados pelo IBGE nesta quinta superaram expectativas do mercado.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil avançou 1,9% no primeiro trimestre de 2023 na comparação com os três meses anteriores, de acordo com informações divulgadas nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). O PIB, que é a soma dos bens e serviços finais produzidos no Brasil, totalizou R$ 2,6 trilhões no período.

O resultado veio acima das expectativas do mercado. A projeção da Reuters era de expansão de 1,3%.

Resumo dos resultados do PIB: variação trimestral

PIB1,9%
Agro21,6%
Indústria-0,1%
Serviços0,6%
FBCF (investimentos)-3,4%
Consumo das famílias0,2%
Consumo do governo0,3%
Fonte: IBGE

Resumo dos resultados do PIB: variação anual

Na comparação com o primeiro trimestre de 2022, o PIB cresceu 4%.

PIB4,0%
Agro18,8%
Indústria1,9%
Serviços2,9%
FBCF (investimentos)0,8%
Consumo das famílias3,5%
Consumo do governo1,2%
Fonte: IBGE

Resumo dos resultados do PIB: variação em 12 meses

No acumulado em 12 meses, o PIB registrou elevação de 3,3%.

PIB3,3%
Agro6,0%
Indústria2,4%
Serviços3,9%
FBCF (investimentos)2,7%
Consumo das famílias4,5%
Consumo do governo0,9%
Fonte: IBGE

Agropecuária forte

O crescimento da economia brasileira foi puxado pela disparada de 21,6% na agropecuária, que tem peso de aproximadamente 8% da economia do país. Essa foi a maior alta do setor desde o quarto trimestre de 1996.

Colheita de soja em fazenda de Ponta Grossa, no Paraná 25/04/2023 REUTERS/Rodolfo Buhrer

A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, explicou que “problemas climáticos impactaram negativamente a agropecuária ano passado e esse ano estamos com previsão de safra recorde de soja, que representa aproximadamente 70% da lavoura no trimestre, com crescimento de mais de 24% de produção.”

“A safra da soja é concentrada no primeiro semestre do ano. Ao compararmos o quarto trimestre de um ano ruim com um primeiro trimestre bom, observamos esse crescimento expressivo da agropecuária.” 

coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis

Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que agronegócio brasileiro é um dos setores que tem sustentado essa alta do PIB de forma mais ampla desde os dados mais recentes, mesmo com alguma desaceleração nos últimos meses.

“Claro que muito disso tem relação com a economia global, com os preços das commodities subindo com muita força nos últimos anos”, afirma, acrescentando ainda que “uma desaceleração deve começar a refletir nos próximos trimestres”.

A agropecuária cresceu 18,8% em relação a igual período do ano anterior. De acordo com o IBGE, esse resultado pode ser explicado, principalmente, pelo bom desempenho de produtos da lavoura que têm safra relevante no primeiro trimestre e pela produtividade.

A soja, principal cultivo, apresentou ganho de produtividade e crescimento expressivo na produção anual, estimada em 24,7%. Com exceção do arroz (-7,5%), outras culturas com safra relevante nesse trimestre também apontaram crescimento na produção anual e ganho de produtividade, como milho (8,8%), fumo (3,0%) e mandioca (2,1%). 

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, ressaltou que o PIB do primeiro trimestre surpreendeu para cima com um número muito positivo, e isso, provavelmente, vai fazer com que os agentes do mercado financeiro façam revisões para cima para os próximos trimestres. Na bolsa de valores, ele afirma que “as empresas cujas atuações estão mais vinculadas ao setor de agronegócio, provavelmente vão se destacar”.

Serviços e indústria

O setor de serviços, que tem o maior peso no indicador, cresceu 0,6% no primeiro trimestre deste ano. O resultado foi puxado, principalmente, pelas altas nos setores de transportes e atividades financeiras, com crescimento de 1,2% cada. Já o segmento de Informação e comunicação apresentou a maior queda do primeiro trimestre para os serviços, de 1,4%.

O setor de serviços cresceu 2,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Todas as suas atividades apresentaram alta: Informação e comunicação (6,8%), Transporte, armazenagem e correio (5,1%), Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (4,6%), Outras atividades de serviços (4,3%), Atividades Imobiliárias (2,8%), Comércio (1,6%) e Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,4%). 

Fábrica da AGE do Brasil em Vinhedo REUTERS/Amanda Perobelli

A atividade industrial apresentou estabilidade, com leve queda de 0,1%. O recuo na indústria de transformação foi influenciado pelas quedas de bens de capital e bens intermediários, enquanto a atividade de eletricidade e água, gás, esgoto, atividades de gestão de resíduos subiu 6,4%.

A indústria registrou alta de 1,9% no período com o resultado positivo das Indústrias Extrativas (7,7%) afetadas pela alta tanto da extração de petróleo e gás como de minério de ferro. Outro destaque foi a atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (6,4%) com a melhoria das condições hídricas. E a construção aumentou 1,5%, e teve sua décima alta consecutiva. 

Consumos das famílias 

Pela ótica da demanda, a despesa de consumo das famílias cresceu 0,2%. A despesa de consumo do governo também teve variação positiva de 0,3%, enquanto a formação bruta de capital fixo (os investimentos) registrou queda de 3,4%. 

Segundo Rafael Perez, da Suno Reserach, as principais razões para esse resultado foram o pacote de medidas de incentivo ao consumo pelo governo, como o Bolsa Família, a queda na inflação nos últimos meses e uma melhora na massa salarial.

“O consumo das famílias será um dos principais fatores a sustentar a atividade econômica ao longo do ano”

Rafael Perez, da Suno Reserach

A fala corrobora com a análise técnica da Secretaria de Políticas Econômicas, em que afirma que os programas de facilitação de acesso ao crédito para micro, pequenas e médias empresas, em consonância com o aumento da renda disponível, permitiram a criação de empregos no terceiro setor, sustentando o crescimento da massa real efetiva e a demanda das famílias.

Expectativas

Perez ressaltou ainda que a expectativa para o final deste ano é de uma maior estabilidade do PIB, sentido os efeitos do aperto monetário do Banco Central com a alta da Selic, a dissipação dos efeitos do agro, que são mais concentrados no primeiro trimestre, e o cenário externo de menor crescimento.

Segundo o IBGE, o setor externo contribuiu positivamente para o crescimento, pois as exportações de bens e serviços tiveram variação negativa de 0,4% enquanto as importações de bens e serviços caíram 7,1% em relação ao quarto trimestre de 2022. 

‘Tá ruim, mas tá bom’

Na análise do economista Andre Perfeito, a notícia do resultado é que “está ruim”, uma vez que a base de comparação é “ridiculamente baixa”. Na avaliação de Perfeito, “crescer é quase uma ilusão estatística”.

“Se de um lado a boa notícia é que está ruim, vale dizer: mas que bom. Foi um bom início, mas há muito o que ponderar. Dificilmente a agricultura irá ajudar tanto nos próximos trimestres e o setor externo pode não ser tão generoso também”.

andre perfeito, economista

As medidas recentes de sustentação da demanda como o reajuste do salário mínimo ou até do Bolsa Família também colaboraram para o resultado, “mas ainda não dá para dizer que foi isso que gerou o crescimento atual”, segundo o economista, que também apontou que a taxa de investimento no país recuou, sendo este o “calcanhar de Aquiles” da economia brasileira. A ponderação foi de que dificilmente os investimentos iriam deslanchar em um início de governo.

Logo, para ele, seria necessário observar a evolução da renda com a inflação controlada e se o empresariado volta a investir com a perspectiva de juros em (leve) queda.

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