Economia
Números do PIB do 3º trimestre devem mostrar desaceleração, dizem economistas
Setor de serviços deve ser destaque positivo, enquanto perspectiva para indústria é de fraqueza.
Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre devem mostrar uma desaceleração da economia, numa expansão menor que nos períodos anteriores e puxada pelo setor de serviços, enquanto a expectativa para alguns segmentos do varejo e para a indústria é de fraqueza em meio ao cenário de juros altos, apesar de um certo alívio da inflação no período.
Essa é a expectativa de especialistas para os números que serão divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No segundo trimestre, o PIB brasileiro cresceu 1,2%, acima das expectativas. Agora, a projeção de diversos especialistas é de um crescimento menor – embora o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado uma “prévia” do PIB, tenha registrado um aumento de 1,36% no terceiro trimestre deste ano, segundo o Banco Central.
A Infinity Asset, por exemplo, espera uma alta de 1% do PIB do terceiro trimestre, ligeiramente inferior aos dois trimestres anteriores. Já Felipe Hernández e Adriana Dupita, economistas da Bloomberg, projetam alta de 0,8%. “Um impulso fiscal significativo e algum impulso residual da reabertura provavelmente compensaram as condições financeiras mais restritivas“, disseram em relatório divulgado no início desta semana.
Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, também acredita que os números desta terça mostrem certa perda de ímpeto da economia na comparação com o trimestre anterior. Para ele, o IBGE irá divulgar um crescimento de 0,6% do PIB no terceiro trimestre. Mas, apesar da desaceleração, ele ressalta que esse resultado, se confirmado, seria melhor do que o esperado inicialmente (antes, ele projetava 0,2% de expansão).
Isso porque, ao longo do trimestre, houve a “divulgação de vários indicadores que mostraram uma atividade mais resiliente do que o esperado”, explica Costa, apontando entre os destaques positivos o setor de serviços e o mercado de trabalho, “que teve um comportamento mais favorável do que a gente imaginava”.
“A massa salarial voltou a ficar positiva depois de um período longo de contração devido à alta da inflação”, acrescenta o economista.
Hernández e Dupita, da Bloomberg, também apontam o setor de serviços como provável destaques positivos dos números a serem divulgados pelo IBGE. “Os serviços provavelmente lideraram o crescimento com uma expansão de 1,2% em relação ao segundo trimestre”, projetam.
Destaques negativos
Já entre os pontos de preocupação apontados pelos especialistas estão as atividades impactadas mais diretamente pelo custo do crédito, que está mais alto nos últimos meses por causa da manutenção da taxa Selic em níveis elevados.
Nesse sentido, Costa destaca setores do varejo como automóveis, móveis e eletrodomésticos, que devem mostrar números fracos, enquanto outros mais ligados à renda, como supermercados, continuam crescendo em meio à recuperação dos salários.
“E a gente tem a indústria um pouco mais fraca. Essa mudança de demanda de bens para serviços acabou gerando uma perda de ímpeto da indústria. Então, não deve ter uma performance tão boa neste trimestre”, acrescenta o economista.
Para o PIB industrial, Hernández e Dupita, da Bloomberg, estimam uma queda de 0,3% no segundo trimestre.
Enquanto isso, “a agricultura e a pecuária provavelmente se recuperaram de um resultado fraco no ano anterior, com um salto de 10% em relação ao ano anterior e um ganho de 2,5% na comparação trimestral”, afirmam.
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, destaca que “o terceiro trimestre é historicamente mais fraco que os demais, é como uma virada de ciclo para o final do ano, com as empresas se organizando para a reta final, o que gera uma grande expectativa”.
“Boa parte dessa expectativa não se confirmou no terceiro trimestre e está decepcionando ainda mais no quarto trimestre, pelos dados do comércio. O terceiro trimestre vai vir abaixo do esperado e indicar o inverno que está por vir na economia brasileira”, acredita ele.
O que esperar pela frente
Costa projeta que os próximos meses mostrem uma desaceleração ainda maior da atividade, com crescimento de 0,2% no quarto trimestre. “O impacto da política monetária (juros altos) começa a aparecer com mais força na atividade. A inadimplência de algumas linhas já está subindo, e isso arrefece o consumo.”
Alves diz que o mercado “vem precificando um novo cenário em relação ao crescimento do PIB e a perspectiva econômica, que mudou drasticamente de forte crescimento, para um resultado baixo/estável com tendência de queda”.
Ele diz que “essa visão deve se acentuar nos próximos meses, pois os sinais do fiscal, da inflação e dos juros não são muito animadores, com expectativa de recessão no Brasil e no mundo”.
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