Economia

Olimpíadas 2021: os atletas que aplicaram lições do esporte nos negócios

Adriana Samuel e Pedro Pizarro são exemplos de campeões que transportaram os ensinamentos dos jogos para o empreendedorismo.

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Adriana Samuel/Instagram

Adriana Samuel, medalhista olímpica por duas vezes, pioneira nos jogos de vôlei de praia feminino nas Olimpíadas, em 1996, trouxe medalha de prata, de Atlanta para o Brasil. Nos anos 2000, jogou em Sidney, trazendo para casa o bronze. Pedro Pizarro, campeão brasileiro de remo, com apenas 19 anos de idade, foi convocado para a seleção brasileira. Conquistou várias medalhas, liderou equipes e até hoje treina grandes potências do esporte. As duas personalidades carregam em comum, além da paixão pelo esporte, a atitude empreendedora.

Mais: Quanto ganham os atletas brasileiros que conquistaram medalhas?

Já é uma tradição, de quatro em quatro anos as Olimpíadas despertarem multidões de expectadores do mundo inteiro para acompanhar as provas de atletas de excelência. Nesta edição, em Toquio, são mais de 12 mil esportistas divididos em 46 modalidades em disputa.

Além da emoção e do orgulho durante a corrida pelas medalhas olímpicas, o esporte traz lições que podem ser aplicadas no empreendedorismo. Tanto é que diversos atletas conseguem estruturar seus próprios negócios, ao longo de suas carreiras, aproveitando características fortalecidas no mundo do esporte.

Do vôlei para o empreendedorismo

Foi assim com Adriana Samuel, a ex-jogadora de vôlei. Hoje ela administra três negócios: a Escola Adriana Samuel, o projeto Sem Barreiras, além de uma consultoria em gestão de patrocínios que oferece para outras empresas e atletas.

“Os dois primeiros são projetos sociais que já eram latentes em mim, desde a época em que eu treinava. O esporte mudou a minha vida, mudou a vida do meu irmão (Tande) e essa foi uma forma que encontramos de retribuir para a sociedade um pouco disso. A ideia é ensinar, dar oportunidade para tantas pessoas que sonham em ser atletas. Já o trabalho de consultoria, surgiu organicamente. Eu costumo dizer que o vôlei foi a minha faculdade. No começo, a gente não tinha um empresário para buscar patrocínio, treinadores, terapeutas. Eu fazia isso sem imaginar que se tornaria meu ofício hoje em dia”, relembra Adriana.

De acordo com a atleta, o esporte transformou sua mentalidade, despertando diversos potenciais que ela desconhecia. “Me descobri no esporte, descobri capacidades, descobri paixões. O trabalho que faço hoje pelos atletas, eu fazia por mim e por minha equipe. Tem muito da veia empreendedora nisso. A disciplina, a iniciativa, a tomada de decisões, o apreço pela qualidade e pela eficiência são todas características de empreendedores e de esportistas também”, analisa Adriana.

“Empreender no Brasil não é fácil, porque você tem um sonho, você imagina sua empresa resolvendo problemas, mas precisa tirar aquelas ideias do papel. São vários nãos ao longo da história, é por isso que você precisa acreditar muito. Ter muita persistência, planejamento, metas e trabalhar com objetivos reais e bem definidos. Tudo isso eu trouxe do esporte. A vida do atleta também é assim. Imagina, ele não pode desistir na primeira derrota, achar que está errado e parar. É preciso recalcular a rota e continuar”, indica a medalhista olímpica e empreendedora.

Superando desafios

Dono de uma das maiores academia de remo olímpico da capital federal, a @Crossrowing, o campeão brasileiro Pedro Pizarro, também leva consigo diversas lições do esporte para a vida empreendedora.

“Com certeza há muitas similaridades. A gente brinca que o atleta mata um leão por dia. Tem uma prova de remo com 2km, que eu digo para os alunos que quem completa ela é capaz de resolver qualquer problema na vida. A realidade é que o esporte te prepara não só para as provas, mas para os desafios do cotidiano mesmo, as pessoas ganham mais sabedoria com a vivência dos treinos”, afirma Pizarro.

Ainda durante sua carreira no remo, Pedro teve a oportunidade de comprar uma tradicional escola do esporte em Brasília, com apenas 21 anos. “Na época eram 30 alunos, mas quando eu assumi com um amigo, muitos ficaram receosos com a nova administração e deram baixa na matrícula. Eu comecei então com 15 alunos que acreditavam na nova história que viria. Em três anos nos tornamos a maior escola de remo do Brasil, com mais de 400 matrículas. O tempo passou e esse projeto ficou estável, não me trazia tantos desafios. Vendi o negócio e dei uma pausa”, conta ele.

Após dois anos de reflexão e planejamento, Pedro Pizarro retornou ao mundo dos negócios, inspirado nas dinâmicas norte-americanas de treinos coletivos.

“A Crossrowing nasceu com uma pegada mais dinâmica, com treinos coletivos, horários marcados, gerando um clima de parceria. As equipes se entrosam, há muita sinergia. Acaba que o ambiente de treino se torna uma comunidade, existe uma motivação a mais. Nós misturamos o remo com o crossfit e resultado tem sido fantástico. Hoje temos três atletas sondados pela seleção brasileira, já foram convidados para jogar pelo Flamengo, no Rio de Janeiro e venceram vários campeonatos. Então, eu acho que o esporte me deu muito disso, de parar, analisar, planejar, me inspirar, não desistir e buscar inovar”, diz ele.

‘Praticar esporte também é empreender’

Para a analista de competitividade do Sebrae, Hannah Salmen, as capacidades empreendedoras não são usadas somente em negócios, mas em toda a trajetória de vida das pessoas.

“Praticar esportes profissionalmente é também uma forma de empreender. O esporte e o empreendedorismo possuem uma convergência muito maior do que pode aparentar num primeiro momento, pois em ambos é fundamental que se tenha disciplina, foco, metas bem definidas, perseverança e principalmente ética. Via de regra o esporte te ensina competir, ou seja, a perder e, mais importante, te ensina a ganhar e como ganhar do jeito certo, conhecendo suas potencialidades e pontos de melhoria e respeitando o seu oponente, que no mercado é o seu concorrente”, declara.

Hannah comenta que no caso do empreendedorismo social, as competências empreendedoras são igualmente evidentes. “Ainda há muito a ser transformado na sociedade, tanto o empreendedorismo quanto o esporte podem fazer isso, desde a infância até a vida adulta. Porém, ainda existe pouco apoio na promoção dos esportes (especialmente os olímpicos), o que requer além de resiliência, uma constante prospecção de oportunidades, fontes de apoio e capacidade de inovação para que sua iniciativa seja bem-sucedida”, complementa.

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