Economia
Ranking do PIB: expansão do Brasil no 2º tri fica na 7º posição entre 26 países
No entanto, considerando as expectativas para os próximos anos, posição do Brasil é de 26 entre 29 países.
O Brasil teve o 7º melhor resultado de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no 2º trimestre em uma lista com 26 países, ficando à frente de economias como México e Alemanha. No entanto, considerando as expectativas de crescimento para os próximos anos de 29 países, a posição do Brasil cai para a 26ª.
O levantamento foi divulgado nesta quinta-feira (1º) pela Austin Rating, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), bancos centrais, Eurostat, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e The Economist.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, explica que os dados mostram que o desempenho da economia brasileira pode ter surpreendido positivamente nos últimos meses e até se destacar na comparação com outros países, mas em um prazo mais longo o prognóstico é bem mais fraco.
“Se a gente olhar, não tem nenhuma medida estrutural adotada para dar consistência a esse crescimento observado agora”, diz ele. “A gente não pode destacar aquele país que teve um desempenho só pontual. O histórico do Brasil ainda não melhorou. O cenário prospectivo preocupa.”
O que melhorou
A alta de 1,2% do PIB brasileiro no 2º trimestre ficou acima das previsões do mercado, e levou especialistas a elevarem suas projeções de crescimento econômico em 2022.
Sobre o crescimento da economia nos últimos meses, Agostini comenta que é importante reconhecer os efeitos positivos de medidas como a liberação de valores extraordinários do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e antecipação de recursos a aposentados e pensionistas.
Além disso, o economista destaca a ampliação da vacinação contra a covid-19, com liberação da 4ª dose e chegada do imunizante ao público mais jovem, como adolescentes e, mais recentemente, crianças.
“Isso contribuiu para fortalecer a confiança das pessoas em relação às atividades que atingem diretamente ao setor de serviços”, comenta, acrescentando ainda que “a indústria se recuperando foi uma das boas novidades – primeiro, por conta do reajuste de preços, o setor cresce, mas também houve, de novo, a retomada da confiança”.
“A inflação alta e os juros altos, que estavam inibindo o consumo, acabaram sendo superados.”
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating
Sobre o alívio da inflação nos últimos meses, Agostini aponta “fatores pontuais” como a queda dos preços dos combustíveis e energia elétrica por conta da redução temporária do ICMS, mas acrescenta que, pelos últimos dados divulgados, já é possível vislumbrar “a queda dos preços dos alimentos” também.
“Para o segundo semestre, além do Auxílio Brasil, tem a questão da inflação menor que pode continuar estimulando a economia”, prospecta o economista.
O que falta melhorar
Considerando o crescimento médio por ano até 2026, a projeção para o PIB brasileiro é de um avanço de 1,4%. Esse número coloca o país à frente apenas de Bélgica, Japão e Rússia em uma lista com 29 países. A projeção para o Brasil também fica abaixo da média de crescimento por ano esperada para a economia global no mesmo período, de 3,4%.
Nesse cenário, analisando os dados que apontam a melhora da economia brasileira nos últimos meses, Agostini afirma que “tudo isso é pontual”.
“O ponto é que a gente fez uma gangorra: expectativas para este ano começaram a melhorar e, para o ano que vem, piorar. Fatores negativos que afetam este ano foram jogados para o ano que vem. E o fiscal é o principal deles.”
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating
Além das perspectivas de aumento de gastos do governo, outra preocupação é que o aumento da arrecadação visto nos últimos meses não se sustente. “A inflação esteve aumentando a arrecadação e ajudando o governo a fechar as contas no azul. É um imposto inflacionário: a arrecadação só aumentou porque aumentaram os preços de forma muito forte.”
O economista avalia que o principal problema é a falta de um planejamento de longo prazo para solucionar a questão fiscal. Além disso, ele aponta um dilema de ordem monetária – ou seja, inflação e juros. “A inflação está longe do centro da meta há muito tempo”, aponta.
Ele cita como exemplo a briga para baixar os preços dos combustíveis. “Houve uma mudança forçada do cálculo do ICMS que reduziu os preços dos combustíveis. Mas, a partir de janeiro de 23, isso vai mudar novamente. Muito provavelmente vai voltar o ICMS. E os investimentos por exemplo na parte de refino? Não temos um plano para atacar isso.”
Sobre o trabalho do Banco Central de reduzir a inflação, especialmente por meio da definição da taxa básica de juros da economia (Selic), Agostini comenta que “a política monetária sofre com a sabotagem fiscal – e não é deste governo, é estrutural”.
Uma piora nas condições das contas públicas dificulta a queda dos juros, já que o país se torna alvo de desconfiança aos olhos de investidores internacionais. Isso, além de pressionar o dólar e agravar uma condição de inflação alta, também motiva a manutenção dos juros em patamares elevados para que o país siga atrativo para o capital estrangeiro.
Ainda entre os problemas estruturais, Agostini cita a alta carga tributária que reduz o estímulo para a indústria, por exemplo. “Naquilo em que o Brasil já é competitivo, como o agronegócio, é algo que está em constante evolução. Naquilo em que a gente não é, por exemplo a indústria, a gente vai sempre ficar comemorando vitórias conjunturais, e não atacar os problemas estruturais”, lamenta Agostini.
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