Finanças
Ação da Oncoclínicas despenca após gestora indicar falhas na contabilidade
Em relatório, Polo Capital Management apontou que a rentabilidade da empresa é menor do que o reportado ao mercado.
A ação da Oncoclinicas (ONCO3) teve dia de baixa nesta quinta-feira (22), depois que um relatório da gestora Polo Capital Management apontou falhas na contabilidade da empresa, afirmando que a rentabilidade da empresa é menor que a informada.
Na mínima do dia, a ação da Oncoclínicas chegou a despencar mais de 18%, a R$ 8,33. O papel, no entanto, reduziu as perdas e fechou em baixa de 4,62%, a R$ 9,70. A empresa fez uma oferta primária e secundária de suas ações na B3 ao preço de R$ 10,25 cada. No entanto, os papeis seguiam negociados abaixo da oferta.
Segundo relatório de 23 páginas da Polo Capital Management, a rentabilidade da maior rede de tratamento de oncologia no país é menor do que o reportado ao mercado. Além disso, o montante de caixa que vem sendo utilizado, assim como diferença no Ebitda, valuation acima dos pares entre outros pontos foram destacados em relatório.
O InvestNews procurou a assessoria de imprensa da Oncoclícas, mas a empresa disse que não poderia se pronunciar por estar em período de silêncio. Uma pessoa próxima à companhia, no entanto, disse à reportagem que as informações são lançadas nos balanços da forma como exige a legislação (leia mais ao final da reportagem).
Em suma, a companhia vem adotando novas formas de contabilização dos seus custos desde o 2º trimestre de 2022 — período este que coincidiu com alterações relevantes na administração da companhia —, de acordo com a gestora.
“A abordagem que a Oncoclínicas vem adotando na condução de sua governança, por sua vez, nos parece distanciá-la das melhores práticas”
carta da Polo Capital Management
“Em particular, nos chama a atenção a forma pela qual a empresa tem lançado custos médicos no seu intangível (quando, entendemos, deveriam ser lançados no seu DRE). Somente no 1º trimestre de 2023 foram reconhecidos R$ 47 milhões de custos médicos no balanço”, aponta trecho da carta.
A Polo diz que o padrão utilizado na contabilidade da Oncoclínicas é diferente do adotado pelas demais empresas do setor, com base na amostra de companhias brasileiras e norte-americanas. Já outro fator de destaque divulgado como uma “situação alarmante” foi a necessidade de capital de giro da companhia, uma vez que em toda série histórica nunca se precisou de tanto caixa.
Os analistas compararam o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do 1º trimestre de 2023 com o que seria o “Ebitda-caixa” da
companhia, deduzindo os custos médicos capitalizados (que aparecem na linha de amortização), ajustes recorrentes e o caixa absorvido pelas participações minoritárias, o que resultou em uma diferença de 30%. Com isso, o valuation da companhia estaria acima de seus pares.
“Dessa forma, nosso entendimento é que o patamar de margens, governança e alavancagem apresentados deveriam ocasionar um desconto versus o restante do setor”.
polo capital management
No primeiro trimestre de 2023 a Oncoclínicas reportou um Ebitda ajustado de R$ 292 milhões. E, segundo a gestora, deveriam ser reduzidos R$ 15 milhões de despesas capitalizadas desse montante.
Margem bruta foi ‘alarmante’
O que mais chamou a atenção dos analistas nos últimos 7 trimestres foi a forte apreciação da margem bruta da companhia. Foram comparadas as receitas de 2021 versus 2022, indicando assim uma capitalização das despesas.
A companhia apresentou, segundo o estudo, margens brutas acima de 35% nos últimos 4 trimestres, o que é superior a média de seus pares listados em bolsa, como Rede D’Or (RDOR3), Kora (KRSA3), Fleury (FLRY3), Dasa (DASA3) e Mater Dei (MATD3).
“Nesse contexto, a partir do 2º trimestre/2022, começamos a notar um crescimento importante de capitalização de despesas. Tal decisão por parte de uma companhia é bastante subjetiva e suas consequências imediatas são: balanço inflado com menores custos no DRE e, consequentemente, margens mais altas. Cabe dizer que a contabilidade permite capitalização de despesas por companhias”.
No caso da Oncoclínicas, foi observado que as despesas que estariam sendo capitalizadas referem-se a despesas médicas (COGS – Cost of Goods Sold) que, na visão da gestora, são “custos core” de um negócio médico-hospitalar. “Tais custos são a essência do negócio e capitalizá-los significa adotar uma prática contábil que favorece os resultados operacionais de curto-prazo reportados”.
Foi ressaltado ainda que os lançamentos contábeis como vêm sendo feitos levam a companhia a ter uma linha de “Outros Passivos” substancialmente maior do que os pares. No entanto, a adoção dessa prática prejudica a transparência na avaliação dos resultados operacionais e do endividamento da companhia.
Receitas da Oncoclínicas
O relatório explica ainda que, em 2021, 95% da receita da companhia resultava das operações das clínicas, enquanto apenas 5% advinha dos “cancer centers”, que são operações eminentemente hospitalares. Já em 2022, a receita fechou com a composição de 86% resultantes das operações das clínicas e 14% dos “cancer centers”.
No entanto, o destaque é que clínicas têm margens menores, assim como uma menor necessidade de capital, enquanto “cancer centers” têm margens maiores, mas demandam maior necessidade de capital.
E, segundo os analistas, à medida em que a companhia expandiu suas atividades relacionadas aos “cancer centers”, naturalmente sua margem bruta deveria subir. Mas a magnitude do aumento foi muito acima do que naturalmente deveria ser.
“Em nossa avaliação, as margens da companhia refletiram valores superestimados, especialmente nos últimos quatro resultados trimestrais”.
A gestora ressaltou ainda que os que os fundos que estão sob sua gestão estão vendidos em Oncoclínicas, e acabam sendo beneficiados com uma possível queda das ações em bolsa.
Outro lado
A Oncoclínicas aguarda o término do período de silêncio para se pronunciar.
Mas uma pessoa próxima à empresa afirmou ao InvestNews que, sobre a remuneração dos médicos, um dos principais pontos destacados pelo relatório, “nunca houve qualquer mudança na maneira de colocar (essas despesas) na contabilidade, sempre foi dessa forma e é a maneira prevista por lei”.
O que acontece, segundo essa pessoa, é que a Oncoclínicas contrata médicos em sistema de exclusividade, “e essa exclusividade é paga via bonificação”, com 20% abatido anualmente. “O aumento desse número se deve ao fato de aumento do número de médicos. Na época do IPO, eram 1 mil. Hoje, são 2,6 mil.”
A fonte diz ainda que, “se esse número tivesse onde o relatório diz que deveria estar, teria impacto de 0,7% no Ebitda, e não 30%”.
Veja também
- BTG aposta em Oncoclínicas e prevê upside de 63% em 12 meses
- Oncoclínicas rebate gestora e ações sobem; Bradesco BBI reitera compra
- Oncoclínicas precifica oferta de ações em R$ 10,25 e levanta R$ 897 milhões
- 9 fatos quentes na economia e nos negócios para acompanhar na semana
- Ficou sabendo? Compra do Modal pela XP; petróleo cai 4%; Oncoclínicas