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BlackRock: ‘para investidor voltar a tomar risco, Selic tem de ser abaixo de 10%’

Para estrategista-chefe de investimentos na América Latina, Banco Central pode reduzir juros no ano que vem.

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A volatilidade dos mercados, inflação em alta e juros em escalada para frear o primeiro nas principais economias como Estados Unidos e Europa foram citados pela BlackRock em reunião com jornalistas nesta quarta-feira (30), na capital paulista, como o motivo da fuga de investidores de ativos de risco. 

“Enquanto a Selic estiver alta, a propensão de assumir risco é baixa. Para os clientes voltarem a tomar risco, a taxa tem que ser ao menos abaixo de 10%. Os resgates de fundos e de ativos de risco foram comuns dado este cenário. Agora, para vermos um maior volume voltar para a indústria, as taxas de juros precisam cair. É a única forma”, disse Karina Saade, presidente de uma das maiores gestoras de ativos do mundo (US$ 8,5 trilhões).  

No entanto, a estratégia da gestora será a de incorporar mais produtos de renda fixa em seu portfólio enquanto este cenário persistir. 

Perspectivas para taxa de juros

O estrategista-chefe de investimentos para a América Latina e colunista do InvestNews, Alex Christensen, participou remotamente da reunião com jornalistas. Ele acredita que o Banco Central deve começar a reduzir a Selic no próximo ano, mas observa que a inflação não voltará a patamares mais baixos, como antes da pandemia.

Já sobre o quadro fiscal, uma vez que tem sido tema preocupante no mercado com a transição de governo, o executivo disse que o Brasil não é o único país a enfrentar maior pressão por gastos sociais e o impacto no social.

“Estamos vendo isso acontecer nas economias emergentes, como Chile e Colômbia, que aumentaram os gastos sociais, mas também vemos isso acontecer em economias mais desenvolvidas, como o Reino Unido. A combinação de programas sociais com tudo que está acontecendo pressiona o mercado. Os investidores estão cautelosos porque a questão fiscal impacta os investimentos. É um risco, mas não é um risco que os investidores enxergam somente no Brasil”.

Christensen também afirmou que o Brasil deve ser um dos vencedores quando o assunto é sustentabilidade. “Os investidores estão olhando com muito cuidado para quais empresas no setor devem se beneficiar, olhando para o curto e médio prazo. Acredito que existem oportunidades daqui para a frente”.

O estrategista-chefe acrescentou que a chance de recessão na economia mundial está aumentando, principalmente nos Estados Unidos e Europa. Mas como o Brasil começou a aumentar os juros mais cedo para conter a inflação, o país pode ser menos afetado

No entanto, a avaliação da BlackRock é que os países terão que conviver com inflação mais alta, acima da média dos últimos anos, por mais tempo. O estrategista acredita que cortes devem retornar apenas em 2024 e em 2023, será o ano de parar de subir as taxas. 

BDRs de ETFs: a grande aposta de 2022

Atualmente, a companhia faz a gestão de 101 BDRs de ETFs (fundos de índice listados no exterior). O montante alocado na modalidade é de R$ 2,7 bilhões. 91 estão atrelados à renda variável, dois em commodities e oito em renda fixa. 

Apesar do crescimento no tipo de investimento – que acaba por garantir um cardápio variado de ativos ao investidor de varejo – , o capital sob gestão em BDRs de ETFs entre 2020 e 2021 era praticamente o dobro do atual: cerca de R$ 5 bilhões.

A queda no valor alocado é justificada pelo atual cenário de aversão a risco além da dinâmica da taxa de juros no mercado local. Segundo a gestora, apesar do menor volume em custódia, o número de cotista se manteve estável. 

“Se analisarmos que a modalidade está há apenas dois anos no Brasil, vemos como esse tipo de ativo é um bebê que está apenas engatinhando por aqui. Saímos de 306 mil investidores de BDRs para mais de 1,6 milhão. Então as pessoas estão interessadas em diversificar o dinheiro, apesar da sensibilidade de ciclos”, disse a presidente da gestora no Brasil. 

Entre os destaques da modalidade, foi observado o aumento de BDRs de países específicos, como a Índia; de hedge (com foco em energia ou setor agrícola) ou com volatilidade mínima.

Já o BDR de ETF mais líquido e com o maior número de novos entrantes foi o BEGU39, que é alinhado com a agenda ESG. 

Sobre o tema, a gestora apontou que apesar de algumas tendências serem cíclicas, o ESG é permanente – tanto de forma global como local. Neste último caso, o Brasil deve atrair capital estrangeiro dado o novo governo eleito indicar ter uma agenda em linha com questões ESG. Logo, ativos brasileiros sustentáveis estarão no radar de investidores globais.

O Brasil tem potencial grande para essa agenda e sendo o principal destino para estrangeiros. Além disso, há benefícios para o desempenho de uma companhia que tenha políticas claras, então acreditamos que ESG ainda vá crescer já que leva a um maior desempenho dessas companhias, apontou Saade. 

Megatendências

A principal aposta da gestora para 2023 está em ativos ligados a temas que transformam a economia e independem de interferências externas. “Investimentos ligados a estes temas são menos vinculados ao cenário macro, o que leva a BlackRock acreditar  que este seja um segmento muito promissor”. 

Pelo menos cinco megatendências foram citadas  pela gestora, segundo sua própria metodologia: inovação tecnologica, rápida urbanização, riqueza global emergente , mudanças demográficas e mudanças climáticas. 

No entanto, há claramente uma falta de empresas especializadas localmente – o que leva a gestora a pulverizar geograficamente os ativos oferecidos. Por isso que a estratégia é apresentada ao investidor em forma de BDRs de ETFs. 

A BlackRock faz a gestão do IVVB11 – o maior fundo de índice em termos de investidores individuais (166 mil cotistas). 

Entre os planos de 2023, está entre as prioridades atender novas demandas, em especial, um mix de gestão passiva atrelada com gestão ativa, ou então, ativos públicos com ativos privados. Somado a isso, a companhia quer expandir em  consultoria local para clientes que desejam ter assistência, além de ampliar e focar em Assets independentes que não fazem parte de gigantes bancários. 

Karina Saade, Country Manager da BlackRock no Brasil e Axel Christensen, estrategista chefe na América Latina

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