O que são BDRS? O brasileiro tem a opção de investir em ações de empresas listadas no exterior sem precisar comprar ações diretamente lá fora. São os BDRs (Brazilian Depositary Receipts), recibos de ações de companhias negociadas lá fora e lastreadas na bolsa brasileira, como Apple, Facebook, Amazon e Netflix. Entre maiores as vantagens, estão poder investir em uma empresa de fora sem precisar abrir conta em uma corretora estrangeira ou precisar fazer declaração de Imposto de Renda no exterior. Já entre as desvantagens está o alto risco desse tipo de investimento.
O que são BDRs?
BDR é a sigla do inglês para Brazilian Depositary Receipts. São títulos emitidos no Brasil, por uma instituição brasileira (no caso, a B3), mas que têm lastro em ações de empresas negociadas no exterior. Ou seja, os papéis de fora funcionam como a garantia para o investimento aqui. Assim, o BDR é uma forma de o brasileiro investir em companhias estrangeiras sem precisar necessariamente comprar a ação no exterior.
Apenas ações são representadas por BDRs?
Não. Além das ações, os BRDs também podem ser lastreados em ETFs (fundos de índices e títulos de dívida pública estrangeira como os Treasuries norte-americanos, por exemplo.
Como funciona o investimento em BDR?
O processo do investimento em BDRs precisa de duas instituições para existir: a custodiante e a depositária. A custodiante bloqueia as ações no país de origem da companhia estrangeira para servirem de lastro na operação. Então, a depositária, baseada nesses papéis bloqueados, faz o registro da operação na CVM e a emissão dos BDRs com a B3.
A partir de então, os papéis ficam disponíveis para a negociação entre os investidores brasileiros através das corretoras de valores. O investidor pode enviar ordens de compra ou de venda de BDRs pelo home broker ou mesa de operações.
Investir em BDR de uma empresa é comprar a ação dessa companhia?
Não. O BDR é um título que representa a ação, mas não é a ação em si. Não necessariamente um BDR representa o equivalente a uma ação. Pode representar, por exemplo, parte de uma ação – o que faz com que essa ação seja equivalente a mais de um BDR.
Quem investe em BDR recebe dividendos?
Sim. Quando a empresa de fora distribui dividendos, o investidor de BDR no Brasil recebe o pagamento, já convertido para o real. O valor vem com o desconto da taxa da instituição depositária. Além disso, o investidor precisa recolher os impostos sobre o recebimento desses dividendos, a uma alíquota que vai de 0% a 27,5%.
Quem tem BDR de uma empresa tem direito a voto em assembleias?
Não. O investidor não tem a ação representada por ele. A titularidade dessa ação é da instituição depositária – ela, portanto, é que detém direitos de acionista como voto em assembleias. No entanto, o contrato do investimento pode prever que o direito a voto da instituição depositária deve ser exercido levando em conta o que for instruído pelos donos dos BDRs.
Como o investidor de BDR se informa sobre a empresa de fora?
Essa é uma das funções da instituição depositária: informar os investidores sobre fatos relevantes, divulgação de balanços e notícias importantes a respeito da empresa. Mas o investidor deve ter em mente que esses comunicados podem ser feitos em língua estrangeira. As demonstrações de resultados também podem vir sem conversão para reais e nas normas do país de origem.
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Riscos de investir em um BDR
Assim como as ações, os BDRs são considerados investimentos de alto risco. Primeiro porque o investidor está sujeito ao sobe e desce no preço dos papéis de acordo com as oscilações típicas do mercado, da mesma maneira como ocorre com as próprias ações. Segundo, porque a variação cambial também influencia os rendimentos dos BDRs. Por exemplo, se o dólar subir demais em relação ao real, essa variação será convertida no valor dos BDRs.
Investimento em BDR é em real ou moeda estrangeira?
Os BDRs são negociados no Brasil em moeda nacional (reais).
Como funcionam os códigos dos BRDs?
O investidor pode identificar um BDR pela numeração “34” após o código da empresa. Por exemplo:
Como a variação do câmbio influencia o BDR
Os papéis representam ações que são cotadas em moeda estrangeira. Portanto, o sobe e desce do câmbio acaba impactando o preço dos ativos em reais.
Exemplo: um investidor tem um BDR que representa uma ação de empresa estrangeira que está cotada em Wall Street por US$ 100. Considerando que a cotação do dólar seja de R$ 5, esse investidor terá nesse dia um ativo que deve valer em torno de R$ 500. Se a ação estrangeira subir para R$ 110, o esperado seria que o BDR no Brasil subisse na mesma proporção, para R$ 550. Mas se o dólar cair para R$ 4 no período, o BDR na verdade valeria menos, em torno de R$ 440, mesmo com a alta da ação no exterior.
Risco de liquidez está relacionado aos BDRs
O conceito de liquidez tem a ver com a facilidade com que um investidor tem de negociar um ativo para resgatar um valor que considere justo. Os BDRs são negociados em bolsa – o que significa que não é possível garantir que o investidor que quiser vender seus papéis vá encontrar naquele momento alguém interessado em comprá-lo, impactando o preço.
Custos do investimento em BDR
Segundo a B3, a tarifação dos BDRs deve seguir pela mesma estrutura e tarifação de negociação das ações pelas corretoras e bancos. Os principais custos que o investidor deve ter em mente são a taxa de corretagem, a taxa de custódia, emolumentos e a taxa de liquidação. A taxa de corretagem incide no momento da compra e da venda, e varia de acordo com a corretora. Pode ser cobrada como valor fixo por operação, percentual sobre o valor negociado ou os dois.
Já a taxa de custódia é cobrada da corretora, e cabe a cada uma decidir se repassa ou não esse valor aos clientes. Há dois tipos de cobrança: uma de manutenção de conta (em que o valor depende da movimentação da conta e do tipo de ativo custodiado) e outra sobre o valor em custódia (calculada regressiva e cumulativamente sobre o valor da carteira no último dia útil do mês).
Há também os emolumentos e a taxa de liquidação, cobrados pela entidade administradora de bolsa.
Como é a tributação dos BDRs?
Segundo a B3, a tarifação aplicada aos BDRs é a mesma aplicada às ações. Ou seja, o investidor terá o mesmo custo para investir em companhias nacionais ou estrangeira. Em se tratando de BDR de ações, não há novidades na regra do Imposto de Renda. O investidor deve recolher o IR de 15% sobre o ganho de capital considerando o resultado de todas as suas operações em bolsa (ações, BDR, ETF, futuros, opções). É importante lembrar que a isenção para vendas de até R$ 20 mil só vale para ações e não se aplica aos BDRs.
Como é feita a liquidação do BDR?
Ela ocorre em um prazo de dois dias úteis após o dia da negociação, conhecido no mercado como D+2. Ou seja, quando o investidor compra um papel, ele vai estar disponível em sua conta de custódia dois dias depois do fechamento do negócio. Para quem vende, o dinheiro também só vai estar disponível depois desse prazo.
Como fica o fuso horário da empresa representada pelo papel?
Não. As negociações funcionam no mesmo horário que o mercado à vista na B3, das 10h às 17h, havendo ainda os leilões de abertura, fechamento e after market.
Diferença entre BDR patrocinado e não patrocinado
No investimento de BDR não patrocinado (mais comum no mercado), a empresa estrangeira da ação representada não participa. A operação envolve apenas a instituição custodiante e a depositária. Já no patrocinado, a empresa escolhe a instituição depositária e participa de todo o processo de emissão dos papéis.
“O patrocinado é uma iniciativa da empresa estrangeira que deseja fazer uma captação no Brasil, com investidores brasileiros. Por isso, essas companhias de um BDR patrocinado vêm para o mercado brasileiro. Já o não patrocinado acontece sem a anuência da companhia”, segundo informou o superintendente de desenvolvimento de mercado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Antônio Carlos Berwanger, em entrevista ao InvestNews.
Investimento em BDR é protegido pelo FGC?
Não. O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é a garantia de ativos da renda fixa, como a poupança, os CDBs, as LCIs e LCAs.
Mas a B3 ressalva que o investidor que adquire um BDR, assim como ações, opções ou outros produtos negociados nos mercados de bolsa da B3, como ETFs, pode acionar o Mecanismo de Ressarcimento de Prejuízos (MRP) caso tenha alguma perda provocada por falha da empresa que faz a intermediação, como corretoras e distribuidoras na intermediação dos negócios ou serviços de custódia.
A cobertura inclui prejuízos decorrentes de eventuais atrasos ou erro de execução das ordens, por ordens não solicitadas ou até mesmo não realizadas, problemas técnicos no home broker, quebra ou liquidação da corretora e erros provocados pelos agentes autônomos que atuam em nome da corretora. Se comprovado o prejuízo, o ressarcimento pode ser de até de R$ 120 mil por ocorrência.
E se a instituição depositária quiser cancelar o programa?
A instituição pode optar pelo cancelamento do programa de BDR, mas deve comunicar os investidores com antecedência, de acordo com a CVM. Nesses casos, geralmente há três opções para o investidor:
- Pedir a venda das ações no exterior e recebimento do dinheiro no Brasil em reais;
- Pedir que as ações sejam transferidas para outra conta de custódia no exterior;
- Outro procedimento de acordo com a situação específica que levou ao cancelamento do programa de BDR.
Segundo a B3, existe ainda a possibilidade de uma outra instituição depositária assumir o programa. “O Banco B3 adotou essa estratégia, assim que um determinado banco optou por descontinuar a prestação de serviços de emissão e cancelamento de BDRs e hoje, já operacionalizamos mais de 550 BDRs, e com a ampliação contínua dos programas para ações, REITs, ETF e dívidas”, disse a instituição em nota.
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