Finanças
Bolsa fecha em queda de 0,25%, com ruídos políticos e na contramão de NY
Adormecidos por um bom tempo, a divergência na política brasileira e o risco fiscal voltam ao radar dos investidores
Dia de instabilidade no Ibovespa, ruídos na política interromperam a sequência de ganhos de 12%. O índice da B3 fechou em queda de 0,25% aos 104.808 pontos nesta quarta-feira (11).
Os investidores repercutem a declaração do presidente Jair Bolsonaro que sugeriu ontem manter o auxílio emergencial em 2021. Bem no timing quando Paulo Guedes, ministro da Economia, alertou da possibilidade de hiperinflação se o Brasil não domar a dívida pública.
Bolsonaro ainda se atrapalha entre uma e outra declaração. Nas últimas 24 horas ele se viu envolvido em polêmicas com a vacina chinesa coronavac, o fato de ser o único presidente latino-americano que não parabenizou Biden e a frase de que o Brasil não pode ser um “país de maricas” ao comentar as mortes por covid-19.
Ainda no cenário doméstico, as vendas no varejo em setembro no País subiram 0,6%, abaixo da mediana das estimativas do mercado (1,40%) e, embora fique aparentemente em segundo plano, o dado pode reforçar a visão de retomada lenta da economia interna.
Nos Estados Unidos, as bolsas americanas voltaram a subir apoiadas nas big techs. O índice S&P 500 teve alta de 0,78% e Nasdaq valorizou 2,01%. Na contramão, Dow Jones fechou com leve queda de 0,08%.
Enquanto os investidores aguardam pela vacina, os casos de coronavírus avançam nos EUA, o país se prepara para enfrentar os piores quatro meses da pandemia segundo alertam autoridades da saúde. A partir desta sexta-feira (13) Nova York vai impor restrições a bares, restaurantes e academias.
O dólar teve um dia de alta com expectativa de pressão compradora dos grandes bancos neste final do ano. E subiu em relação a outras moedas principais, com o euro e a libra pressionadas. Em sessão atípica nos Estados Unidos, com feriado local e mercado de Treasuries fechado, a moeda também foi impulsionada pelo noticiário da Europa.
O dólar comercial fechou cotado a R$ 5,416, com valorização de 0,43%. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a R$ 5,45.
LEIA MAIS:
- Como driblar a volatilidade do mercado? Veja 6 dicas sobre onde investir
- Resumo dos Analistas: IBOV sobe 11,83% em 6 pregões e ganha R$ 389 bilhões
Os contratos de petróleo fecharam em alta repercutindo o apetite por risco nos mercados globais, com efetividade das vacina contra a covid-19 e após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) reduzir ganhos da commoditie para 2020.
O Barril Brent para janeiro subiu 0,50%, cotado a US$ 43,83 o barril. E o WTI para dezembro teve alta de 0,29%, cotado a US$ 41,48.
As ações da Petrobras (PETR4;PETR3) fecharam em queda de 0,87% e 0,08%, respectivamente.
Destaques da Bolsa
A maior alta do dia foi da Via Varejo (VVAR3), a ação valorizou 5,61%. Os investidores estão atentos aos resultados da companhia para o terceiro trimestre que serão divulgados ainda hoje.
Subiram também o BTG Pactual (BPAC11) e a Marfrig (MRFG3) com alta de 5,32% e 3,03%, respectivamente.
No lado oposto do Ibovespa recuaram: Ultrapar (UGPA3), com baixa de 6,82%. Seguida da Braskem (BRKM5) que caiu 6,57% e a Hering (HGTX3) com queda de 4,32%.
Os papéis da Braskem recuaram após balanço. A empresa teve prejuízo de R$ 1,4 bilhão no terceiro trimestre, um patamar maior em relação a 2019 quando teve perdas de R$ 888 milhões. Impactou na companhia a provisão adicional de R$ 3,5 bilhões para o problema geológico de Alagoas.
Apesar do prejuízo o resultado foi considerado positivo pelo mercado.
Bolsas americanas
As bolsas de Nova York fecharam o pregão desta quarta-feira, 11, sem direção única, ainda influenciadas pelo ajuste de posições relacionado à melhora das perspectivas para uma vacina contra a covid-19. Por um lado, as ações de empresas de tecnologia, que haviam sido pressionadas nos últimos dias, recuperaram parte das perdas e impulsionaram os índices acionários Nasdaq e S&P 500. De outro, papéis mais ligados a uma retomada da economia, como o da Boeing, que tinham se valorizado, devolveram alguns ganhos e pressionaram o Dow Jones.
No fechamento, o Dow Jones registrou queda de 0,08%, a 29.397,63 pontos, o S&P 500 avançou 0,78%, a 3.572,66 pontos, e o Nasdaq subiu 2,01%, para 11.786,43 pontos.
Novas notícias sobre vacinas experimentais contra a covid-19 surgiram nesta quarta. A Pfizer e a BioNTech confirmaram um acordo para fornecer até 300 milhões de doses de vacina à União Europeia. Segundo dados divulgados na segunda-feira, 9, o imunizante desenvolvido pelas duas farmacêuticas apresentou eficácia de 90%.
A Rússia, por sua vez, anunciou que sua vacina experimental para o coronavírus, conhecida como Sputnik V, produziu resultados similares, com 92% de eficácia. De acordo com a Reuters, dados sobre o imunizante da Moderna também devem sair neste mês. O papel da farmacêutica subiu 8,40%.
No entanto, ações de empresas que se beneficiariam de uma retomada econômica maior, como as do setor de aviação, devolveram alguns ganhos que haviam acumulado na esteira do anúncio da Pfizer e da BioNTech. No S&P 500, os subíndices de materiais (-1,37%), industrial (-0,88%) e de energia (-0,84%) lideraram as perdas. O papel da Boeing, por sua vez, recuou 3,47%.
O setor de tecnologia, por outro lado, subiu 2,41% no S&P 500. As ações da Apple, da Amazon e do Facebook avançaram 3,04%, 3,37% e 1,49%, respectivamente. Essas empresas foram penalizadas pelos investidores nos últimos dias, já que haviam sido as mais favorecidas pelo confinamento gerado pela pandemia.
Com a perspectiva da vacina, o Goldman Sachs passou a projetar que o S&P 500 chegue a 3.700 pontos no final de 2020. Outro banco americano, o JPMorgan, já havia alterado suas estimativas, passando a prever que o índice acionário alcançará os 4.000 pontos no início de 2021.
Em Washington, os investidores continuam acompanhando a transição de governo, embora o presidente dos EUA, Donald Trump, ainda não tenha reconhecido a derrota na eleição para o presidente eleito, Joe Biden.
“Por enquanto, os mercados estão satisfeitos em ignorar o teatro de Washington, mas quanto mais tempo o impasse durar, maior será a chance de uma verdadeira crise constitucional que pode começar a pesar no sentimento dos investidores”, alerta o analista Boris Schlossberg, da BK Asset Management. “Combinado com o aumento da contagem de hospitalizações por covid, que podem estressar o sistema de saúde ao limite, os dois fatores podem criar uma reversão brusca na recuperação das ações conforme nos aproximamos do final do ano”, acrescenta.
Bolsas na Europa
Os mercados acionários da Europa fecharam com ganhos nesta quarta-feira (11) com os negócios ainda apoiados pela possibilidade de haver em breve uma vacina eficaz contra a covid-19. Embora o avanço da doença e suas consequências na atividade continuem a gerar cautela no continente, o noticiário sobre avanços na busca pelo imunizante tem apoiado a tomada de risco.
Nesta quarta, investidores também estiveram atentos a declarações da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde.
O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em alta de 1,08%, em 388,56 pontos.
No dia, a Pfizer e a BioNTech anunciaram a conclusão de acordo com a União Europeia para o fornecimento ao bloco de até 300 milhões de doses de sua vacina. A notícia do início da semana de que o imunizante havia mostrado mas de 90% de eficácia, segundo resultados preliminares da terceira fase de testes, tem apoiado a tomada de risco em geral nesta semana, embora também sejam destacadas as dificuldades ainda existentes na trajetória para confirmar a vacina e materializá-la em grande escala.
Enquanto isso, a covid-19 continua a preocupar. A Alemanha registrou 261 mortes pela doença em 24 horas, maior número desde 22 de abril, e este e vários países já anunciaram restrições à circulação para controlar a disseminação do vírus.
Lagarde, do BCE, destacou a importância da política fiscal no centro dos esforços para estabilizar a economia. Ela previu que a recuperação não será linear e terá trajetória instável, e avaliou que aumentaram os riscos à atividade nas últimas semanas, sobretudo com o avanço recente do coronavírus.
Nos mercados, porém, prevaleceu nesta quarta o otimismo sobre a vacina.
A Bolsa de Londres fechou em alta de 1,35%, em 6.382,10 pontos. BP teve alta de 0,56%, em jornada positiva para o petróleo durante o pregão europeu.
Em Frankfurt, o índice DAX subiu 0,40%, a 13.216,18 pontos.
Na Bolsa de Paris, o índice CAC 40 avançou 0,48%, para 5.445,21 pontos.
O índice FTSE MIB, da Bolsa de Milão, registrou alta de 0,68%, a 20.993,02 pontos.
Em Madri, o índice Ibex 35 teve ganho de 1,07%, para 7.793,70 pontos.
Em Lisboa, o índice PSI 20 fechou em alta de 1,87%, em 4.344,68 pontos.
*Com Estadão Conteúdo